Deixem a vossa marquinha *.*

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Capítulo 8 - Fantasmas

Pacífico, Junho 1668

Estava escondida por debaixo da terra que milhares de homens pisavam sob aquele sol abrasador que caracterizava o clima tropical. Eu e a minha tripulação fazíamos contas à vida arriscando a nossa vida mais do que nunca. A apenas alguns metros de distância encontrava-se um homem. Um homem que tinha o nosso futuro nas mãos. Eu que sempre brincara com o fogo, agora era inútil fazê-lo. Durante cinco anos eu consegui manter Robin em segurança, mas era tarde demais agora. Se não recuperasse aquele anel valioso que valia mais que centenas de vidas, era a minha vida que estava perdida...mas antes muito aconteceu...

Atlântico, Maio 1668

- Robin já chega, está na hora de te acalmares! - ordenei-lhe.
- Jane, já devias saber que não consigo parar quieto! - ripostou Robin. Sempre me tratara pelo meu nome e nunca por "mãe" exceptuando ocasiões de tristeza, nas quais se refugiava em mim e afirmava que sentia um vazio. Esse vazio apenas poderia ser preenchido por uma única pessoa, Jack. Durante anos Robin nunca perguntou pela existência ou pelo paradeiro do seu pai. Também eu me interrogara todas as noites sobre Jack. Onde estaria? Estaria vivo? Estaria sepultado no profundo do oceano? O meu coração tinha esperança de que ele se encontrava vivo, mesmo sabendo que nunca mais nos voltaríamos a ver.

Robin adorava a companhia de Lyeel, mas nunca o vira como um pai. Sabia que esse facto entristecia Lyeel, mas o amor que sentia pelo meu filho sobrepunha-se sempre a essa dor. Robin era um rapaz curioso mas nunca me questionou acerca do meu passado com Jack. Apenas tinha conhecimento que ambos nos tínhamos separados, mas nunca procurou entender mais do que isso. Uma criança de nove anos entendia melhor o mundo do que eu, por vezes. Durante nove anos Robin audou-me a sorrir novamente para a vida. Ele por si só era a minha razão de viver. E dáva-me uma enorme alegria saber que era uma cirança feliz, mesmo sem nunca ter visto crianças da sua idade, ou sem nunca ter participado numa caça com o pai o com o avô, o que acontecia com as crianças do meu tempo.

Estava no meu camarote à luz das velas a fazer o diário de bordo. Tinha sido um mês calmo a bordo do Destiny, sem grandes complicações no que tocava à marinha real, mas faltava algo na minha vida. O sentido de aventura, de adrenalina, de mistério e perigo. Estava-me no sangue ser assim e tanto eu como os meus homens sentíamos isso. Molhei a pena na tinta e preparava-me para escrever quando Robin invadiu o meu camarote.
- Rende-te malvado pirata, ou terás o teu coração trespassado pela minha espada! - gritou Robin com um tom de voz grave e aventureiro.
- Muito engraçadinho Robin Deverport, mas agora está na altura de dormir! - afirmei.
- Jane já não sou nenhum bebé! - opinou.
- Nenhum membro deste navio é um bebé, mas todos precisamos de dormir! - argumentei.
- Mas eu sou o capitão do navio, preciso de fazer a ronda para ver se piratas malvados como o Black Diamond atravessam o nosso caminho.
- Black Diamond? - perguntei instintivamente. - Quem te falou nele?
- Ah... - respondeu-me desviando o olhar. - Li sobre ele...
- Andaste a vasculhar não foi? - perguntei elevando o meu tom de voz. Robin mordeu o lábio tentando arranjar uma forma de se salvar dali. - Eu já te disse que não deves mexer em nada do que não seja teu!
- Mas Jane... - tentou explicar-se.
- Robin, não voltes a falar dele! - ordenei-lhe.
- Porque é que tens medo de um pirata que nem sequer existe? - a sua pergunta foi como um tiro no meu estômago. Como é que uma assombração poderia interferir naquela que hoje era a mniha vida? Durante meses Black Diamond fora a razão pela qual eu não dormia de noite, a pessoa que eu mais temia que me roubasse a vida.
- Robin... - disse carinhosamente. - Vamos dormir e esquecer o assunto, está bem?
Robin assentiu com a cabeça e dirigiu-se para a sua rede. Suspirei e saí do meu camarote, caminhando pelo convés do Destiny, meditando sobre o que acabara de acontecer.
- Jane? - chamou o Sr. Thomas.
- O Sr. Thomas assustou-me...
- Isso nem parece teu Jane. - estranhou. - Está tudo bem?
- O Robin mencionou Black Diamond. - respondi preocupada. - Eu não sei como, mas ele tem conhecimento dele. Por mais que o faça como referência apenas a um fantasma, não deixa de me preocupar. - confessei.
- Jane, ambos sabemos que Black Diamond está morto. - salientou o Sr. Thomas. - Morto. Não tens de temer nada em relação à alma de um homem morto. - Poisou o seu braço nos meus ombros. - Durante meses essa figura atormentou os teus sonhos, quase que te tirou a vida, mas ele está morto Jane.
- Eu apenas estou assustada, nada mais. - afirmei.
- Está na altura de esses fantasmas desaparecerem por completo Jane. - mencionou o Sr. Thomas. - O Robin é uma criança curiosa. Como tal, não deves mostrar receio ao falar de Black Diamond. - aconselhou. - Porém, acho que não deves transpô-lo para o que aocnteceu na nossa vida.
- Tem razão Sr. Thomas. - disse, mostrando de seguida um sorriso como forma de agradecimento.
Levantei-me e recolhi-me esperando anciosamente pelo começo de um novo dia...

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Capítulo 7 - Mistérios do passado

Basta um segundo para que a nossa vida mude para sempre. Basta um olhar, um sorriso, uma lágrima. Basta uma palavra que mude a corrente da nossa vida e que o nosso destino mude. Acredito num destino, em algo que nos esteja destinado e que outrora fora traçado por alguém. Mas também acredito que qualquer ser é capaz de mudar o seu rumo e criar o seu próprio destino. Foram estas as palavras do meu pai ao escolher o nome do seu navio, relatou o Sr. Thomas. Por respeito à sua memória é que mantive o nome do navio do meu pai, que agora era meu por direito, e um dia seria de Robin. Recordava as palavras do meu pai com alegria no coração. Tantos anos que ele se dedicou à marinha real, e hoje tudo na minha vida vai contra esses princípios. Se tivesse nascido rapaz, o meu pai ter-se-ia orgulhado de me ver a servir a marinha real. Esse teria sido o meu destino. No entanto, parece que algo o mudou.
O Destiny navegava sobre as águas pacíficas do atlântico. Estranhamente pacíficas, uma vez que a marinha real começava a sua época de ouro. A pirataria estava em risco e quem fosse apanhado enfrentaria a forca. O meu plano era aportar em Londres e começar de novo. Mas quem sou eu para idealizar planos se eles acabam por se realizar de outra forma? O meu navio não hasteava uma bandeira pirata, nem tanto uma bandeira da marinha real. Segundo Marcus estavamos no lado neutro. Como se fossemos uma simples família a navegar sobre os sete mares para trocar especiarias entre países.
Há meses aportamos numa pequena cidade junto à costa africana norte. Uma zona não muito segura, na qual civilizações estavam ainda em construção, daí o termo de "pequena cidade". Tal como nós, alguém estava a começardo zero, a diferença é que todos aqueles homens, mulheres e crianças, tinham o seu destino traçado num papel, numa assinatura que os tornava de alguém. Lyeel e eu consaeguimos trocar alguns objectos de valor por mantimentos que nos favorecessem condições para algum tempo. Nesse momento reavaliei a minha posição. Em relação a todos aqueles escravos eu era livre. O meu filho era livre, podia sorrir e gritar sem que estivesse acorrentado. Por isso, o melhor sítio que poderíamos estar era sem dúvida a bordo do Destiny...


[Narrado por Jack]
Melhores dias vieram. Passados anos eu era marinheiro servidor da marinha real africana, aliada à marinha real inglesa. O pai de Sesha considerou-me um potêncial "servidor dos mares", como mencionava frequentemente. Estranhamente, conquistei a confiança de um homem do que era habitual. Devo revelar que não usei nehuma das minhas técnicas de engate em relação a Sesha.Simplesmente rendeu-se aos meus encantos. Passados três anos, organizei a minha vida e decidi agarrar com força esta oportunidade que me salvaria da forca, tendo protecção e abrigo em casa de Sesha, que recentemente se tornara minha noiva.

Servir a marinha real não era somente navegar pelos mares em busca e piratas ou tiranos. Havia que proteger a cidade e a população de possíveis guerras. Certo dia, coube-me a mim tratar de registos no escritório. Analisei sentenças de homens associados à pirataria que seriam enforcados brevemente. Casos como eu, homens que se dedicaram à arte do roubo nos mares e que pagariam por isso.
- Jack?
- Sim, meu comandante? - perguntei.
- Estão aqui alguns registos que preciso que entregues ao capitão. São antigos, mas ele saberá o que fazer com eles. - ordenou-me o meu superior, de nome Charles Castro.
O papel estava empoeirado e a caligrafia era quase imperceptível. Levantei-me da cadeira, peguei nos registos e dirigi-me até ao porto, onde se encontrava o capitão Joseph. Pelo caminho folheie-os não por curiosidade de os ler, mas sim por ter a oportunidade de tocar naquela espécie de pergaminho tão usual da marinha. De repente fui contra um comerciante e deixei-os cair no chão. Ao apanhá-los reparei num nome que não me era estranho. A caligafia era de um comandante da marinha de nome Robert Deverport. Era uma sentença de morte contra alguém. Antes de ler o que quer que fosse, o meu único pensamento era dirigido a Jane. Robert Deverport era pai de Jane. De uma forma súbita, a ligação entre Robert Deverport e o pai de Sesha fez-me sentido. Faltava-me perceber a quem pertencia a sentença de morte, registada e assinada por Robert Deverport. Antes que pudesse ler alguma coisa, fui visto por Joseph que o chamou.
- Capitão! - cumprimentou Jack. - O tenente Castro pediu-me que lhe entregasse isto.
- Obrigada Jack. - respondeu-me. - Podes ir agora para casa, o sol já se está a pôr.
Uma curiosidade inexplicável estava a apoderar-se de mim, e queria ter um conhecimento abrangente sobre o pai de Jane. E não iria descansar até matar esta minha curiosidade. Resolvi esperar até que todos regressassem a casa para ir remexer nos artigos. Sabia onde o capitão guardava todos os registos dos condenados e comecei por aí. Coloquei a vela acessa em cima da secretária e abri o armário onde todas as informações da cidade estavam guardadas. Sabia que os registos que eu trouxera foram os últimos a serem arquivados. Depois de procurar anciosamente, descobri a sentença de morte assinada e autorizada por Robert Deverport. Peguei na vela para que conseguisse desdobrar o que estava escrito e ao ler o nome do condenado a vela escorregou-me das mãos e apagou-se...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Capítulo 6 - Regresso ao Mar

Todos os gritos, todo o suor, todas as lágrimas valeram a pena quando finalmente o meu bebé estava nos meus braços. Era simplesmente lindo. Mal o vi, reconheci traços físicos de Jack. Não conseguia parar de chorar, desejando com todas as minhas forças que Jack estivesse ao meu lado e pudesse segurar o seu pequenino, tal como eu o segurei. Nunca na vida pensei em formar uma família, o meu único objectivo era sobreviver, procurando aventuras, mas no fundo queria poder partilhar tudo isso com alguém. Jill lavou o meu bebé e enrolou-o numa manta quentinha feita pela minha mãe, e depois eu pude finalmente segurá-lo. Era perfeito. O seu nome? Robin Deverport.
Passava os dias inteiros a vê-lo dormir e a apreciar a sua beleza. Como era possível existir um bebé tão bonito e tão frágil. Ele estava deitado no berço que outrora fora meu e dormiu horas seguidas. O Sr. Thomas emocionou-se a primeira vez que o viu. Tanto que eu desejei que ambos os meus pais tivessem tido a mesma oportunidade que o Sr. Thomas teve. Segurar em Robin, acariciando a sua cabecinha frágil e sentir o seu cheiro. Passado um mês, ia todas as tardes mais o Robin para a praia, observar o Destiny.
- Um dia voltaremos para lá! - exclamei, aconchegando o meu tesouro para junto de mim. - Ele pode não estar aqui Robin, mas tenho esperança que um dia o conheças...
O meu filho começou a mostrar a sua independência assim que começou a andar. Queria ir para todo o lado e nem sempre me pedia para o seguir. Era mesmo parecido comigo e com Jack nesse aspecto, procurava aventura e coisas novas. Com o passar dos meses, Robin começou a ter a noção do perigo e do medo. Ensinei-o a nadar no rio que ficava junto de casa. Aos três anos falava com uma sabedoria invulgar e era dotado de uma perspicácia enorme. «Educámo-lo bem Jane!» dizia-me o Sr. Thomas. Levava Robin muitas vezes às campas dos meus pais e contava-lhe imensas histórias. O pequenino sempre as escutara com muita atenção.

Estava noite de lua cheia. Jamais na minha vida vou conseguir esquecer esta noite que mudou as nossas vidas! Robin adormecera na minha cama. Finalmente adormecera depois de um dia inteiro a brincar. Tentava adormecer, mas algo me dizia para não o fazer, para ficar a tomar conta dele. Levantei-me da cama e andei pelo quarto tentando libertar-me deste peso que me impedia de fechar os olhos. Observava a chama acesa da vela ao mesmo tempo que o quarto era iluminado pelo luar. De repente comecei a ouvir ruídos vindos de fora e observava um enorme clarão a aproximar-se. Exaltada, peguei em Robin e saí do quarto. Entrei no quarto de Lyeel e expliquei-lhe o que se passava. Ele tentou acalmar-me, fondo acordar o Sr. Thomas e Marcus. Robin acordou e começou a chorar. Acalmei-o, tentando eu própria manter a calma e cantei-lhe a canção pirata que o meu pai me ensinara.

Jill subira as escadas a correr a chorar num acto de desespero gritando «colónias», «guerra». Jill quando se encontrava assim, pronunciava termos africanos próprios dos povos nativos, os quais eu desconhecia. Lyeel agarrou-me no braço e tirou-me dali.
- Lyeel, eu não parto sem eles! - exclamei.
Um pau de madeira incendiado partiu uma das vidraças principais, incendiando as cortinas.
- É por isso que temos de sair daqui! - gritou Lyeel protegendo-me a mim e a Robin.
- A casa dos meus pais! - exclamei eu a chorar. O Sr. Thomas, Marcus e Jill desceram as escadas e dirigimo-nos todos para a cozinha. Protegia Robin do fumo que invadira a casa. Marcus e Lyeel foram à nossa frente, verificando que ninguém se encontrava na porta das trazeiras.
- Marcus leva a Jane, o Robin e a Jill para a praia. - ordenou Lyeel. - Eu e o Sr. Thomas vamos lá ter depois.
- Não! - exclamei. - Eu não consigo ver tudo o que os meus antepassados construíram a cair nas mãos de colonos! - lágrimas de raiva e frustração invadiram a minha face.
- Jane! - Lyeel agarrou-me. - Vais ter de votlar para o Destiny. Desta vez não tens escolha!
Olhei Lyeel nos olhos e assenti, pegando novamente em Robin e corremos para a praia. Felizmente nenhum dos colonos nos perseguiu. Tinhamos sorte de estar maré cheia, o que possibilitaria a nossa fuga. Ao chegarmos à praia, Jill segurou no meu pequeno e eu e Marcus subimos a bordo do Destiny preparando-o para a partida. Olhei para trás e uma nuvem de fumo estava a invadir a praia. As poucas casas vizinhas que ali se encontravam estavam também a arder. Marcus ajudou Jill e Robin a subir para o navio, enquanto eu tinha o coração nas mãos sem saber de Lyeel e de Sr. Thomas.
Robin chorava e tossia devido ao fumo. Abri a porta do meu camarote e deitei-no na minha rede. Jill acompanhou-me e ficou com Robin. Regressei ao Destiny e reparei que Lyeel e o Sr. Thomas corriam sobre o areal até ao Destiny. Minutos depois ambos se encontravam em segurança. O Sr. Thomas abraçou-me com força.
- Aqueles sacanas tiveram o que mereceram! - afirmou.
- Mas isso não trás a minha casa nem a minhas vida de volta! - disse agressivamente, chorando a seguir. - Sr. Thomas, o Robin não está seguro na terra, nem seguro no mar! O mais importante na minha vida é ele.
- Jane! - gritou o Sr. Thomas, fazendo-me parar de chorar. - O Robin está contigo, está a salvo. Não´há mais nada a fazer Jane, agora ele pertence ao navio.
- Ele sempre pertenceu Sr. Thomas. - esclareci. - Eu apenas quero a segurança dele.
- E vai estar seguro. - confortou-me o Sr. Thomas. - O mar agora é um lugar calmo e é um porto seguro.
Nessa noite, não houve ordens minhas em relação ao destino. Sobreviver era o essencial. Até encontrar um porto seguro para Robin não ia descansar, mas apenas deixei-me adormecer agarrada ao meu tesouro...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Capítulo 5 - Vidas diferentes

[Narrado por Jack]
Passados dois dias estava novamente em forma e sentia-me muito melhor. A febre passou e recuperei depois de ter passado tanto tempo sem comer. Verdade seja dita que fui tratado como um rei nesta casa. E que casa! Assim que me vi livre da cama, fui explorar a zona onde me encontrava. Era uma casa demasiado grande para uma família de três, tirando os criados é claro. Sesha fazia-me companhia durante o dia. Claro que gostava de ter os meus momentos a sós e durante esse tempo pensava muito em Jane. Queria ter a certeza se estava viva e de saúde. Certamente estava melhor sem mim. Só lhe traria mais sofrimento e desilusão e senti-me bem onde estava. Numa ilha em construção, onde fui bem recebido por todos. Sentia-me em paz, e desejei que pudesse um dia chamar lar a esta ilha.
O pai de Sesha, o Capitão Joseph, regressara a casa depois de uma longa jornada em alto mar. Assim que chegou ao porto, Sesha correu para os seus braços e segredou-lhe aos ouvidos sobre mim. Achei uma atitude mimada por parte dela, esboçando um sorriso de como se eu tratasse de um prémio seu. Joseph preferiu esboçar o seu sorriso simpático horas depois de me ter conhecido. Estávamos sentados no grande salão, iluminados pela luz vinda da lareira.
- Diz-me Jack, de que navio vieste? - perguntou-me.
- Destiny... - respondi-lhe pensando se seria o mais correcto dizer-lhe a verdade.
- Há meses que não tenho notícias do paradeiro desse navio. - afirmou Joseph coçando a barba. - Ouvi rumores de que o Capitão Robert Deverport tinha falecido em alto mar.
Ao ouvir o nome do pai de Jane tomei mais atenção. Seria possível que Joseph conhecesse Jane?
- Fora um bom homem... - disse eu.
- Em tempos fizemos parte da mesma tripulação. - contou. - Mas depois tomámos caminhos diferentes. Apesar de ingressarmos ambos na marinha real africana, cada um seguiu o seu caminho. - Joseph fez uma pausa para acender o seu cachimbo. - Ele casou e ouvi dizer que teve uma filha, e eu acabei por constituir familia também. - Joseph conhecia Jane. Estranha coincidência, mas acreditei que nunca imaginara que Joseph tivesse conhecimento do rumo que a vida de Jane tomou após a morte do pai, mas esse seria um capítulo que seria enterrado comigo, o mesmo se aplicaria à minha vida inteira. Podia correr o risco de ser enforcado nesta mesma ilha ou ser mandado para o exílio.
Sesha entrou no salão e foi a correr para junto do pai colocando-se sobre os ombros deste. - Papá deixe o Jack descansar. - pediu. - Tem muito tempo para lhe contar as suas aventuras em alto mar e a capturar piratas e tirar-lhes a vida.
- Este rapaz se ingressar na marinha real é o que ele vai fazer da vida! - exclamou. - Nada melhor que servir Inglaterra! Em troca as nossas ilhas estão protegidas. - informou. - A era da pirataria tem os dias contados. Esses diabos de alma serão todos punidos e enforcados. - as palavras do pai de Sesha assustavam-me cada vez mais. Era um risco de morte estar na mesma casa que ele. Só vi duas soluções para a minha vida. Ou levava o resto dos meus dias a fugir, ou ingressava de facto marinha real, e dias depois tomei a minha decisão.

***

[Narrado por Jane]

Adorava ver o pôr-do-sol junto ao rio. Há semanas que o fazia. Durante toda a minha vida falava da beleza natural da minha terra, mas nunca a vira por completo. Ver o sol a reflectir-se por cima das árvores era deslumbrante. Qualquer um que amasse África como eu amava iria sentir o mesmo. A minha barriga crescia a cada semana que passava. Era a minha rotina vir todos os dias ao pôr-do-sol sentar-me sobre a terra e molhar os pés. Queria que o meu bebé estivesse a ambientar-se a este ambiente, pois tencionava ficar por cá durante anos, e vê-lo crescer como os meus pais, o Sr. Thomas e Jill me viram. Ele iria ter uma família. Segundo Jill faltavam apenas dois meses para o bebé nascer. Começava a ficar anciosa. Era uma sensação nova para mim, iria ter uma vida nas minhas mãos, mas felizmente já não me sentia sozinha. Tinha as melhores pessoas do mundo a ajudarem-me e do meu lado.
Assim que a luz do sol se pôs voltei para casa. O Sr. Thomas e Lyeel estavam no salão. Estranhei a ausência de Jill, pois esta sempre esperara por mim.
- Onde está a Jill? - perguntei.
- Saiu ao início da tarde e ainda não voltou. - respondeu-me o Sr. Thomas.
Antes que eu pudesse responder Jill entrou sobressaltada na sala, mas assim que reparou na minha presença tentou mudar de atitude.
- Que aconteceu Jill? - perguntei.
- Nada de mais. - respondeu-me bastante nervosa.
- Jill! - exclamei. - Exigo que me contes o que é que se passa. - pedi-lhe.
- Eu não queria dizer-lhe, devido ao seu estado menina. - começou por dizer, soluçando. - Mas ouvi rumores de que as colónias vizinhas preparam uma revolução.
O Sr. Thomas e Lyeel aproximaram-se de mim.
- Uma revolução? - perguntei-lhe.
- A nossa é das poucas colónias independentes, e receio que a revolução chegue aqui...
- Acalme-se Jill! - pediu o Sr. Thomas tranquilizando-a. - Não corremos perigo nenhum aqui.
Se corríamos perigo ou não eu não tinha a certeza. A minh única certeza era de que tinha de proteger o meu filho de tudo no mundo.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Capítulo 4 - «Nunca te esquecerei, estejas onde estiveres»


[Narrado por Jack]

Naquela madrugada quando o bote embateu no oceano sabia que me iria arrepender de a deixar para trás.Tentei convencer-me a mim mesmo do contrário e que o melhor era eu desaparecer da vida dela e deixá-la ser feliz. Se eu tivesse ficado iria acabar por magoá-la ainda mais do que magoei. Partir era o melhor que eu podia fazer. Antes de tudo beijei-a enquanto ela dormia profundamente e sussurei-lhe: "Nunca te esquecerei, estejas onde estiveres". Puxei as cordas do bote, sentei-me nele e parti.
Louco ou não, a verdade é que passei quatro dias em alto-mar sem nada no estômago. Ao fim do quarto dia avistei terra. Nunca acreditei em palavras como "esperança" ou "fé", mas a verdade é que ambas fizeram sentido no preciso momento em que os meus olhos avistaram terra. Não fazia a mínima ideia de onde estava, só sei que estava bem longe do Destiny, e que a Jane estava a salvo. Black Diamond estava morto e nada mais a perseguia. Ao tentar sair do bote o meu corpo perdeu as forças e caí para dentro de água, ficando com o cabelo coberto de areia. Estava tão fraco que nem me conseguia mexer. De entre areia e água nos meus ouvidos ainda consegui ouvir vozes e passos a caminharem na minha direcção.
- Um náufrago! - exclamou uma voz. - Mãe, ajude-me aqui! - era uma voz femina, uma voz doce mas ao mesmo tempo grave.
Olhei para a frente e vi uma face corada, uns cabelos cor de mel e uns olhos castanhos. As suas mãos agarraram-me na face e a rapariga disse: "Vai tudo correr bem!". Se ela disse mais alguma coisa, não sei, desmaiei devido à fraqueza.

Quando acordei sentia-me não melhor porque o meu estômago ânsiava por comida, mas estava num ambiente mais quente e acolhedor que o bote do Destiny. À minha volta, vi o quarto iluminado com velas e ao meu lado um balde com água e um pano. Não era apenas o calor da casa, mas sim o meu corpo ardia de febre. Comecei a ficar assustado porque não sabia onde estava nem quem eram as pessoas que cuidaram de mim.
A rapariga dos cabelos cor de mel entrou no quarto onde eu estava deitado. - Oh, já acordaste náufrago! - exclamou sorrindo.
Sentei-me melhor na cama para que a visse melhor. - Onde é que eu estou? - perguntei-lhe.
- Está numa ilha africana. - respondeu-me.
- África? - perguntei-lhe. - Eu estou em África?
- Ilha Seychelle para ser mais precisa. - esclareceu-me.
Jane era de África. Não sei de que ilha ou de que país, mas este continente pertencia-lhe.
A rapariga aproximou-se de mim e encostou a mão na minha cabeça para me medir a temperatura. - Estás um pouco melhor, mas precisas de repousar e de te alimentares. - Atrás da rapariga uma mulher trazia um tabuleiro com um banquete para mim. Desde pão a fruta, nunca tinha visto tanta comida junta na minha vida, quanto mais ser servido numa cama.
- Estou num palácio? - perguntei.
- Não, estás na minha casa. - respondeu-me. - A propósito, o meu nome é Sesha.
- Jack Nilton! - apresentei-me, ingerindo um pedaço de pão seguidamente.
Sesha deu ordem à mulher que saísse do quarto e sentou-se ao fundo da minha cama. - Agora vais precisar de comer pelos dias que não comeste.
- Eu agradeço muito Sesha! - agradeci-lhe.
- Dormiste durante um dia inteiro Jack Nilton. - contou-me. - Por momentos pensámos que não irias sobreviver, e com a febre que estavas, as minhas criadas pensaram que eras uma causa perdida.
- Assim que acabar o serviço irei agradecer-lhes pessoalmente. - respondi-lhe com um pouco de ironia.Ela sorriu-me. - Ilha Seychelle? - perguntei-lhe novamente.
- Exactamente! - respondeu-me.
- Numa vida inteira desejei conhecer esta ilha, e por surpresa aqui estou eu! - exclamei.
- Há uma coisa chamada Destino Jack, conheces? - perguntou-me destacando um pouco de atrevimento. - Durante o tempo que estiveste com febre mencionaste dezenas de vezes o nome "Jane". - ao ouvir o seu nome tirei o pão da boca e pousei-o no prato.Ela percebeu a minha reacção e a sua curiosidade aguçou mais - Um amor perdido? - perguntou-me curiosa.
- Um amor perdido. - concordei tentando não mostrar o quanto esse amor fora o mais importante da minha vida e que eu próprio o atraiçoei.
- O mar é um poço profundo Jack. - explicou-me. - Quando se cai não se consegue subir. - fez uma pausa e observou a minha expressão. - Mas os que ficam, têm de seguir o seu próprio rumo.
Percebi a intenção de Sesha. A sua imagem doce e feminina escondia a sua faceta atrevida, pela percepção que tive em cinco minutos.
- Não te preocupes Jack, aqui vais melhorar. - confortou-me.
- Estou numa ilha pirata! - disse-lhe. - Isso conforta-me?
- Aqui estás a salvo de piratas, se é esse o teu medo Jack! - garantiu-me. - Desde que a tripulação do Ancension desembarcou nesta ilha que as coisas mudaram por aqui. - contou. - Cada vez mais temos conseguido afastar esses cobardes e pobres de espírito daqui.
- É essa a percepção que tens deles? - perguntei-lhe.
- Desumanidade e traição são os termos que melhor os caracterizam! - exclamou segura no que afirmava. - O meu pai faz questão de lhes tratar da saúde.
- O teu pai é da marinha real? - questionei-lhe. Se eu me encontrava na casa de um oficial da marinha real era morte certa para mim.
- Sim, e aposto que quando recuperares poderás ingressar nas companhias dele. - informou-me levantando-se da cama.
- Isso seria muito bom... - exclamei irónico.
- Vou deixar-te descansar Jack. - disse-me. - Até amanhã.
- Até amanhã. - respondi-lhe. Era o plano perfeito. Mentir sobre a minha identidade era o que me poderia salvar a pele e assim que o conseguisse fugiria daqui e encontraria um novo rumo para a minha vida.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Capítulo 3 - « Uma nova vida começara para mim»

Cada passo que dava mais desejosa ficava por entrar pela porta da casa dos meus pais. Apesar de legalmente não me pertencer eu sabia que os que habitavam a casa, outrora criados, me receberiam de braços abertos. Avistei o casarão e o jardim que o rodeava. Meu Deus, como estava belo! A minha mãe sempre exigiu que o mesmo fosse tratado como se tratasse de um jardim real. Nunca apreciei a beleza natural de uma parte da minha casa, mas hoje vi o rosto da minha mãe naquele jardim e reconheci a estima que ela tinha por ele.
- Bem-vinda a casa Jane! - exclamou o Sr. Thomas.
- Agora sim, estou em casa! - exclamei, avançando.
Lyeel mostrou-se um pouco receoso por voltar a viver numa casa, já que nunca tivera o privilégio de ter um lar como eu tive. Aproximei-me dele e dei-lhe a mão dizendo-lhe:
- Está tudo bem Lyeel!
Ele sorriu-me a apertou a minha mão com mais força e acariciou-a. Lyeel era tão querido e belo. Desejei tantas vezes nutrir por ele o mesmo que ele nutria por mim e todos os segundos o sentimento ia aumentando, mas tinha a noção que não era amor que eu sentia por ele. Por muito que me custasse admitir, era Jack quem eu amava e desejava estar ao meu lado.
Para minha surpresa Jill estava a regar as plantas com um balde que transportava água do rio. Aproximei-me e sorri ao vê-la.
- Jill! - chamei-a.
Ela interrompeu o seu trabalho e entendi que reconhecera a minha voz. Olhou para o lado e ficou surpreendida ao ver-me.
- Menina Jane! - exclamou surpreendida. Aproximou-se de mim e tocou-me na cara, para confirmar que eu não era uma miragem.
- Sou eu mesma Jill! - exclamei.
- Não acredito! - exclamou abraçando-me. - Graças aos céus que está viva! - abracei-a com muita força. Sentia-me mesmo feliz por estar ali em casa, com a pessoa que foi a minha segunda mãe. - Esta casa continua a ser sua Jane! - disse-me pegando no meu rosto, olhando-me nos olhos. - Não é um simples papel que delibra que esta casa já não lhe pertence.
- Obrigada Jill! - agradeci-lhe. - Há espaço para mais três, pelo o que me recordo da casa!
- Claro que há! - respondeu-me. - Sr. Thomas, é bom tê-lo de volta!
- É bom estar de volta Jill! - exclamou o Sr. Thomas.

Todos os criados me receberam de braços abertos. Os sorrisos dos que me criaram fizeram-se notar naquele fim de tarde. Jill preparou-nos uma refeição composta, na qual estava incluída a sua sopa deliciosa que eu sempre apreciei, mas embirrava por comê-la diariamente. Foi estranho e um pouco doloroso ver a cadeira do meu pai e ele não estar sentado nela. O Sr. Thomas sentou-se na mesma e eu ocupei o meu lugar. Foi um jantar agradável onde falámos sobre África. Não referi nada acerca do Destiny, e muito menos de Jack. A notícia que mais me entristeceu naquela tarde foi saber que a minha outra ama, Rosette falecera há uns meses, vítima de tuberculose, a mesma doença que vitimou a minha mãe.
Fora para o meu quarto. Iria estranhar certamente a cama, visto ultimamente a minha cama era uma rede. Abri o meu roupeiro e os meus vestidos ainda continuavam pendurados nos cabides e separados por cores e feitios, tal como Rosette adorava organizá-los. Jill preparou-me um banho e trouxe-me uma camisa de noite lavada e seca. Não estava nada habituada a este tipo de vestuário, mas foi bom senti-lo na pele novamente. No momento em que Jill se preparava para apagar a minha vela e impedi-a, pedindo-lhe:

- Por favor, hoje fica comigo!
Jill sentou-se ao fundo da minha cama e deu-me a mão.
- Acho que está a precisar de falar de mulher para mulher. - afirmou Jill. Era incrível a maneira como ela me conhecia. Peguei na mão dela e pousei-a sobre a minha barriga. Ela percebeu o que eu quis contar-lhe e acariciou a minha barriga. - Não está sozinha menina Jane! Todos nesta casa vamos ajudá-la a cuidar desse bebé!
Sorri-lhe e depois foi a minha vez de poisar a minha mão na minha barriga. Contei-lhe tudo o que se passara durante os meses de ausência, o modo como Jack entrara na minha vida e como saira. Quando dei por mim, os raios da aurora entraram através da janela. Uma nova vida começara para mim.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Capítulo 2 - Recordações

Passados três meses de viagem pude sentir de novo o areal africano nos meus pés. Descalcei as minhas botas e senti aquela frescura atlântica tão característica de África. Durante todos estes meses passados em alto mar, desejei muitas vezes voltar ao local onde me orgulhava de chamar casa. O cenário estava igual, as mesmas palmeiras a cobrirem a praia. Do outro lado da colina o porto estava vazio, pois a marinha real encontrava-se em alto mar, e achei que era a altura certa para voltar. Aquela praia era quase deserta. A minha casa era ainda alguns metros da praia, mas distanciava ainda alguns quilómetros da cidade, por isso o porto onde desembarcavam os navios era um pouco mais longe, e apenas o meu navio se encontrava nestas margens.
O meu regresso a casa permitiria-me começar de novo mais o meu bebé que vinha a caminho. Queria que ele ou ela tivesse a oportunidade de sentir o que eu sentia cada vez que vagueava por bosques e savanas. Seria mais seguro a criança nascer aqui, e protegê-la-ia dos perigos do oceano. A pirataria antigia o seu auge e quase todos eram apanhados pela marinha real inglesa e eram punidos pela forca. Aqui em terra sentia-me segura e tão cedo não tencionava voltar para o mar.
Uma hora depois, todos os membros da minha tripulação estavam reunidos comigo e com o Sr. Thomas na praia. Todos traziam uma pequena bagagem às costas, do pouco que tinham. Ordenei que partes de mobiliário do meu navio fossem retiradas, pois tencionava levá-las para casa comigo.
- Cavalheiros! - exclamei eu. - Foi um privilégio ter-vos no Destiny, com a vossa lealdade, a vossa determinação e a vossa fidelidade. - fiz uma pausa e observei-os. Uns estavam visivelmente tristes por regressar ao local de onde eram escravos e de onde não tinham família. Outros, por sua vez, partilhavam da mesma opinião que a minha. - Todas as aventuras têm um fim, e esta acabou. Há que seguir em frente e seguir o caminho traçado pelo destino de cada um!
Assim que terminei, os vinte homens que constituiram a tripulação do Destiny gritaram pelo meu nome em seguida de "Hurra", o que me deixou orgulhosa de mim e deles.

Horas depois Lyeel e Marcus acenderam uma fogueria na praia. Queria poder ter a oportunudade de ver o pôr-do-sol sentada no areal, antes de voltar para casa. Olhei para a minha barriga, e estava a ficar maior. Desejei que tanto o meu pai como a minha mãe estivessem sentados comigo, um de cada lado e vissem o explendor daquele pôr-do-sol. Assim que estivesse instalada em casa, visitaria as campas deles e ficaria a contar-lhes tudo o que se passou durante todo este tempo. Quando era pequena acreditava fielmente que a minha mãe ia voltar para casa depois da sua morte, por isso ia esperá-la todos os dias à praia com esperança que um navio trouxesse a alma dela, e só dizia "Mamã volta por favor, precisamos de ti" e foi triste e doloroso quando percebi que ela não ia voltar mais. Pensei que iria responder ao meu filho ou à minha filha quando me perguntasse onde estaria o pai. De facto, durante estes três meses anteriores tive esperança de o voltar a ver um dia, mas há muito tempo que esperança era um termo que para mim perdera o significado. E sempre me disseram que a esperança é a última a morrer. Seria?
- Jane, devias comer algo. - aconselhou-me Lyeel.
- Obrigada... - agradeci.
- Precisas de forças para voltares a casa Jane! - exclamou o Sr. Thomas.
Levantei-me e aproximei-me do Sr. Thomas. - Como se sente por voltar Thomas?
- A minha ligação com África perdeu-se à muito Jane. - respondeu-me. - A tua família foi a única coisa que me manteu ligado aqui, e dezenas de vezes em que pensei libertar-me dela e seguir a minha vida, mas eu sabia que o teu pai e tu precisavam de mim quando a Amelia faleceu. Tu ficaste tão perdida no mundo e o teu pai queria partir para o mar, mas eu abri-lhe os olhos e ele percebeu que agora era apenas ele e tu. - fez uma pausa e limpou-me as lágrimas que me escorriam pela cara. - E que acima de tudo, tinham de tomar conta um do outro.
- Eu estou eternamente grata por ter ficado comigo Sr. Thomas! - respondi-lhe, abraçando-o depois.
- Agora as coisas vão melhorar Jane. - disse-me. - O bebé que vem aí vai crescer em paz e tu vais ser um excelente mãe.
- Mesmo sem o Jack? - perguntei-lhe.
- Mesmo sem o Jack! - respondeu-me.
- Agora sim, estou pronta para voltar! - exclamei.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Parte II - Capítulo 1 - Regresso a África

As minhas mãos tremiam e o tremor percorreu o resto do meu corpo. De entre entre lágrimas e soluços, tentava acalmar-me e tentar arranjar uma solução para aquilo que me aconteceu e para o que estava a acontecer. Respirei fundo e deitei-me na minha rede. Olhei para o céu, estava escuro e assutador. Um nevoeiro cercou o meu navio e pedi que lançassem a âncora, para que parássemos por ali. O nevoeiro deixou-me ainda mais perdida no mundo, como se estivesse no meio do oceano, gritando para me tirarem dali, mas tudo era escusado.
Passou um mês depois de Jack me ter abandonado e desde aí que tentei seguir em frente. Tentei, e afirmei bem. Porque as coisas levam o seu tempo, mas tinha algo que me ligaria para sempre a ele.
Era meio da noite, o nevoeiro começara a disperçar-se, mas a minha angústia manteve-se aqui e não desvaneceu. Cada vez mais se acentuava, o que me levou a quase um desespero. Saí do meu camarote a correr e a chorar e invadi o camarote do Sr. Thomas.
- Sr. Thomas! - gritei eu por entre soluços.
- Jane, o que é que se passa? - perguntou-me saltando da sua rede exaltado.
- Temos de regressar a África imediatamente. - afirmei eu tentando controlar os soluços.
O Sr. Thomas aproximou-se de mim, trazendo uma vela. Apercebeu-se que eu estava desfeita em lágrimas, ainda mais do que nos dias que antecederam. - Jane, conta-me o que se passa. - pediu-me calmamente.
- Estou grávida Sr. Thomas! - respondi-lhe directamente.
- O quê? - perguntou-me.
- Por favor Sr. Thomas, eu não quero ficar mais aqui, eu quero voltar para casa... - não consegui terminar. Dei por mim agarrada àquele que agora chamava de "pai". E era de facto, sem dúvida alguma um pai para mim. Um pai não julga uma filha pelos erros que comete, simplesmente ajuda-a a enfrentar o futuro. E foi isso que ele fez. Nessa noite consegui adormecer nos braços do Sr. Thomas.
Dormi horas e horas, já não me recordava da última vez que dormira tanto tempo e tão bem. Levantei-me, lavei a minha cara e saí do camarote do Sr. Thomas. O navio tinha mudado de rumo. Senti-o pela direcção do vento. Estávamos a navegar rumo a África. Estaria de volta a casa, ao meu lar. Nenhum membro da tripulação questionou à minha frente o porquê de termos mudado de rumo, ou qual era o plano. Porque não havia plano. Aprendi a não fazer planos e a tentar viver com o agora e não com o depois ou com o antes. Agora era responsável por duas vidas. Começava a aceitar a idéia de ser mãe. O que mais me magoava era saber que Jack não voltaria, e nunca saberia que teríamos uma criança. Desejei durante muitas noites que o tempo voltasse atrás e que eu tivesse tentado impedir Jack de se ir embora. Nunca mais ouvi nada sobre ele, não sabia se estava vivo ou morto. Imaginei-o muitas vezes com o seu próprio navio a navegar pelos sete mares, a ser perseguido pela marinha real. Jack tinha esse tipo de desejo nas veias. Desejava sentir o medo e a adrenalina, tal como eu.
Sentei-me nas escadas do Destiny. O Sr. Thomas desceu-as e seguidamente sentou-se ao meu lado.
- Como te sentes? - perguntou-me.
- Muito melhor! - respondi-lhe.
- Já dei a ordem aos homens. - informou-me. Eu assenti com a cabeça. - Já pensaste que nada a partir de agora vai ser igual Jane? - questionou-me. - Quando ancorarmos em África, muitos destes homens vão voltar para as suas casas, outros desejaram começar do início, e sei que também há uns que quererão ficar ao teu lado.
A última frase fez-me sorrir. - Refere-se ao Lyeel? - perguntei-lhe.
- Gosto dele Jane. - confessou. - É um bom homem e sei que independentemente de tudo, ele ficará ao teu lado Jane. - Pelo discurso do Sr. Thomas pareceu-me que ele o comparava a Jack. Lyeel nunca me abandonara, ao contrário de Jack, mas a comparação magoou-me. Se o meu coração tivesse oportunidade de escolha, eu escolhia Lyeel. Era uma das pessoas mais extraordinárias que eu já tivera oportunidade de conhecer.
- Eu vou para o leme Sr. Thomas. - informei-o. - Quero guiar o meu navio até casa! - Levantei-me e subi as escadas e aproximei-me do leme. Lyeel, como sempre estava ali e sorriu ao ver-me ali.
- Bons olhos te vejam Jane! - cumprimentou-me.
- Obrigada Lyeel. - respondi gentilmente.
- Este navio não é a mesma coisa sem a tua energia, a tua força de viver...
- Lyeel... - interrompi-o. - O Destiny vai voltar para casa, tal como eu. - respondi-lhe. - Tudo o que vivi aqui nele, vai para sempre ficar guardado na minha memória. - disse-lhe, notando a sua tristeza no olhar. - Mas está na altura de eu voltar para casa.
- Então é o fim Jane? - perguntou-me.
- Não. - respondi-lhe. - É o começo do fim! - Lyeel conduziu-me até ao leme e navegámos em direcção a casa.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Notícias

Em breve o começo do que pareceu ser o fim, acompanhem:D

Obrigada, Estrela da Noite*

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Capítulo 30 - «Deixa o navio escolher o seu próprio destino»

Puxei a cadeira e Jack sentou-se nela. Fui buscar água limpa e fresca, e panos limpos. Molhei o primeiro pano devagar. Não queria que aquele momento acabasse nunca. Encostei o pano molhado junto à ferida de Jack e ele gemeu.
- Estes golpes foram merecidos! - exclamou Jack. - Mas tenho de admitir que me estão a dar muito jeito...
- Tens razão! - afirmei. - São mais que merecidos estes golpes!
- Nunca pensei voltar a pisar o convés deste navio, estar no teu camarote e ter-te a ti a tratar de mim. - disse honestamente.
Molhei outro pano e passei pelos golpes das costas de Jack. - É uma forma de te agradecer por me teres salvo a vida tantas vezes! - peguei nas ligaduras e comecei a enrolálas sobre os braços de Jack. - Assim estamos quites!
Durante os minutos em que colocava as ligaduras, Jack observava-me silenciosamente.
- Bem, não é hoje que deixas o mundo dos vivos! - exclamei, levantando-me mas a mão dele deteve-me.
- Jane... - disse-me agarrando-me a mão. - Eu não posso continuar aqui depois de tudo o que aconteceu. - fez uma pausa. - A tua tripulação quer ver-me bem longe daqui, só me deixaram entrar no navio para que tu te certificasses que eu estava vivo.
- Têm motivos para isso Jack! - exclamei dando razão aos meus homens. - Mas eu quero que fiques! - disse-lhe sinceramente.
- Não é fácil Jane... - afirmou Jack. - Vais ter a tua tripulação contra ti. O Sr. Thomas, o Lyeel...
- Jack! - interrompi-o. - Eu acho que mereces uma segunda oportunidade.
- Há certas coisas que são impossíveis de serem mudadas! - explicou. - O amor não se explica Jane, sente-se. - estava a fazer um esforço imenso para me conter. - Eu amo-te Jane Deverport.
- Eu tambem te amo Jack Nilton! - exclamei. - E tu podes sempre tentar remedir as coisas. Nada é impossível Jack. Se não tentares, nunca vais saber...
- Eu quero o melhor para ti Jane. - Assentiu Jack. - E eu não me perdoarei se algum dia te voltar a magoar!
- Tu não estás seguro no que dizes! - disse-lhe afastando-me. - Eu vou dar-te uma segunda oportunidade Jack, usa-a bem! - disse-lhe voltando-lhe as costas, saindo do meu camarote. A minha tripulação estava toda ocupada e não queria que ninguém desse pela minha presença. Subi as escadas e Lyeel estava no leme. Não podia evitá-lo, por isso decidi juntar-me a ele.
- Está tudo bem capitã? - perguntou-me. Agradeci a formalidade com que ele me tratava. Por vezes, era melhor assim.
- Está sim. - respondi-lhe eu mentindo. Ele olhou para mim desconfiado mas não insistiu na pergunta.
- Está um pôr do sol lindíssimo Jane! - exclamou.
- De facto está! - exclamei apreciando a beleza natural que os meus olhos percepcionavam. O navio estava iluminado com os últimos raios de sol do dia e previa-se uma noite mais calma das que anteriores.
- É teu Jane! - afirmou Lyeel. - O que resta do pôr do sol é teu...o sol não está totalmente à vista, mas do pouco que ainda se vê é deslumbrante e único. - não tinha palavras para descrever a amabilidade de Lyeel. Nunca ninguém me dissera algo assim. - Tu és um pedaço do sol, mas sem ti o mundo não é capaz de brilhar Jane! - Lyeel largou o leme e conduziu-o até ao mesmo para que pudesse transportar o meu navio até ao seu destino.
- Eu não sei qual é o nosso destino! - confessei-lhe. - Neste momento não tenho objectivos Lyeel, tudo ficou submerso naquela ilha.
- Deixa o navio escolher o seu próprio destino! - aconselhou-me Lyeel.
- Obrigada Lyeel! - agradeci-lhe dando um abraço.

A noite rapidamente chegou. Estava sentada num dos barris a contemplar o horizonte. Tão calmo, tão sereno, mas ao mesmo tempo tão incerto e tão traiçoeiro. Fez-me lembrar uma das primeiras noites que passei sozinha no Destiny após a morte do meu pai. Nada neste navio fazia sentido sem a presença dele, estava perdida no mundo e essa nostalgia invadiu-me o pensamento. Era como se tudo tivesse voltado ao início, e aprendi que sim, que tudo volta ao início.
Avistei Jack ao fundo e levantei-me. Ele aproximou-se de mim e beijámo-nos intensamente, como se fosse o último beijo que daríamos.
- Nunca me esqueças Jane! - pediu-me. - Nunca te esqueças de quem és e do que construíste!
- Prometo Jack! - exclamei beijando-o.
- Devias ir deitar-te... - aconselhou-me.
- Sim, amanhã é outro dia. - respondi-lhe desconfiada com a atitude de Jack. - Mas eu ainda quero continuar aqui...
Jack assentiu com a cabeça e voltou para dentro. Deitei-me em cima de um dos caixotes de barriga para cima e comecei a cantar. Repetia constantemente o verso «Serei pirata até ao fim». Um peso nos olhos invadiu-me. Queria ceder mas não consegui...

- Jane! Jane acorda! - o Sr. Thomas estava a tentar acordar-me, mas eu sentia a minha cabeça a andar em círculos. - Nem acredito que adormeceste aqui.
- Nem eu! - exclamei levantando-me. Olhei à volta e estavam todos reunidos. Estranhei esta atitude matinal mas em vez de os interrogar, limitei-me a procurar por Jack. De entre vinte e tal homens reunidos no convés do Destiny, Jack não era um deles. - Onde está o Jack? - Todos se mantiveram em silêncio. - Onde é que ele está? - Reparei que faltava um bote. - Não...
O Sr. Thomas aproximou-se de mim e colocou o seu braço sobre o meu. - Ele não pertencia aqui Jane!
- Não... - disse-lhe caindo-me as lágrimas.
- Foi o melhor que ele fez Jane. - afirmou o Sr. Thomas. - Ninguém o expulsou, ele simplesmente percebeu que partir seria o melhor para todos!
Antes de me descontrolar tentei pensar no que estava realmente a conhecer. Jack partira porque não pertencia a nenhum lugar e nem ao meu mundo pertencia. Ele desejava ser livre, como qualquer homem e essa liberdade fora-lhe tirada por Black Diamond. Eu sempre fora livre, sempre fizera o que quisera sem estabelecer os meus próprios limites. O meu destino estava cruzado e acredito que eu própria o cruzei. Talvez um dia, os nossos caminhos se voltassem a cruzar.
- Jane, ordens? - perguntou-me Lyeel.
- Deixa o navio escolher o seu próprio destino Lyeel! - ordenei-lhe.
Lyeel assentiu e afastou-se. Dei a ordem à tripulação e eles ocuparam os seus postos.
Tal como Jack me dissera um dia, "sobrevive e nunca olhes para trás", o que me deu a certeza de que ele não iria regressar, mas talvez olhasse para trás. Mas eu prometi a mim mesma que não iria olhar para trás, e assim o fiz...


FIM

domingo, 26 de setembro de 2010

Capítulo 29 - De volta ao Navio

Quando pensamos que não há esperança alguma, surge a luz que nos ilumina...
- Jane! - chamou o Sr. Thomas. - Jane, acorda!
Abri os olhos e estava rodeada pela minha tripulação. Estava completamente encharcada e suja de areia. Mas estava no meu navio. Sim, tinhamos conseguido chegar ao menu navio, o que me fez levantar de imediato.
- Sr. Thomas! - gritei eu abtaçando-o. - Oh, ainda bem que o senhor está vivo!
- O importante é estares viva! - exclamou o Sr. Thomas. Rimo-nos e abraçámo-nos outra vez.
Olhei em meu redor. Lyeel, Marcus, Richard e Taylor estavam vivos, assim como a maior parte da minha tripulação. Jack também se encontrava vivo, o que tranqulizou bastante o meu coração. Jack tinha vários ferimentos na cara e no peito.
- Estou feliz por estares viva morena! - exclamou Jack sorrindo para mim.
- Por momentos deixei de te ver...pensei que tinhas morrido. - disse-lhe.
- Não podia morrer sem me despedir de ti! - respondeu-me Jack sorrindo para mim.
Queria tanto abraçá-lo e poder contar-lhe tudo o que quisesse, mas limitei-me a olhar de novo para a ilha, inundada pelas águas do Atlântico. Tudo aquilo pelo qual lutei todos estes meses, afundara-se, tal como a minha determinação e uma parte de mim.
- Acabou Jane! - exclamou Lyeel aproximando-se de mim.
- Não, não acabou. - respondi-lhe. - Este pode ser o princípio do fim.
- O que significa isso? - perguntou-me.
- Eu sinto que por detrás daquela gruta, ele está vivo! - afirmei.
- Black Diamond? - perguntou-me.
- Ele já sobreviveu a coisas piores Lyeel. - contei-lhe. - Porque haveria de não sobreviver a isto? - a minha desconfiança sobre o estado de vida de Black Diamond acentuava-se cada vez mais. Sexto sentido ou não, a verdade e que esta ideia não me saia da mente. - O mar está agitado, o céu simula que vem aí tempestade, o vento sopra com força...ele continua vivo! - o sentimento de frustração invadiu o meu coração. A minha vingança não fora realizada. Mas nada havia a fazer. Ia seguir o meu caminho, sem olhar para trás!
- Agora é seguir em frente Jane... - referiu Lyeel aproximando-se de mim.
De um momento para o outro senti uma fraqueza e quase que me desiquilibrei.
- Jane estás bem? - perguntou-me.
- Foi só uma tontura, acho eu...
- Não comes há horas Jane, precisas de te alimentar. - aconselhou-me.
- Eu sei... - disse tentando controlar a minha respiração, que tinha ficado acelarada.
Lyeel estava cada vez mais próximo de mim. Colocou as suas mãos na minha cintura e quando tentei tirá-las, os seus lábios já estavam juntos dos meus. Pela primeira vez sentira algo novo que nunca tinha sentido antes. Lyeel tornara-se o meu melhor amigo, e eu sentia apenas só isso, até hoje.
- Lyeel não... - disse-lhe afastando-o.
- Ainda o amas não é? - perguntou-me.
- Desculpa...
- Não posso mandar no teu coração Jane. - disse-me Lyeel acariciando-me a cara.
Abraçámo-nos os dois e estivemos assim durante algum tempo.

Horas depois, já me tinha alimentado. A fraqueza tinha passado, mas sentia-me enjoada. As águas estavam demasiado agitadas e o barco balançava mais do que era costume, mas mesmo assim estranhava a intensidade do enjoo. O beijo que Lyeel me dera não me saía do pensamento. Depois de tudo o que acontecera entre mim e Jack ainda o amava, mas percebi que sentia algo mais por Lyeel do que o que costumava sentir, o que me assustava. Lyeel sempre me fora fiel, desde o dia que descobriu que eu era uma mulher.
O Sr. Thomas entrou no meu camarote. - Jane, os homens estão lá fora reunidos. - informou-me.
- Obrigada Thomas. Dirigi-me para o convés. Os vinte homens que constituiam a minha tripulação esperavam-me. - A batalha ainda não terminou meus senhores! Black Diamond pode estar desaparecido, mas pressinto que a sua alma continue viva. - referi. - Lamento profundamente as vidas perdidas durante toda esta jornada, lamento as ilusões que vos criei.
- Ninguém disse que a vida de pirata era fácil! - exclamou Marcus. - A capitã fez todos os possíveis para que tudo desse certo!
- Nós somos piratas, mas temos muito mais coragem do que marinheiros ao serviço da coroa! - exclamou Lyeel. O seu comentário fez-me sorrir.
- Qual é a próxima paragem capitã? - perguntou Richard.
- Talvez, por onde tudo começou, África. - rewpondi. - A ideia de voltar ao meu berço agradava-me bastante. Voltar a sentir a minha verdadeira terra debaixo dos meus pés seria uma sensação única. - Todos às vossas posições!
Jack estava encostado às escadas e aproximou-se de mim.
- Senteste melhor? - perguntou-me.
- Sim. - respondi.
- Devias descansar. - aconselhou-me com uma certa frieza na voz.
Olhei para o seu peito e continuava a sangrar. Quando ele se preparava para me voltar costas puxei-o pelo braço.
- Anda, precisas de ser tratado! - disse-lhe.
- Isto sara sozinho! - disse.
- Não Jack, precisa de ser desinfectado! - exclamei-lhe alterando o meu tom de voz.
Ele acabou por ceder, entrando comigo no meu camarote. Durante segundos as nossas mãos tocaram-se e aí senti de novo a magia...

sábado, 18 de setembro de 2010

Capítulo 28 - Agora ou nunca

- Jane, temos de sair daqui e já! - gritou-me o Sr. Thomas de longe.
Preparava-lhe para responder quando Black Diamond me agarrou e me impediu de avançar mais. - Tu não vais sair daqui minha menina!
- E é você que me vai impedir? - perguntei-lhe. - Preocupe-se mais em salvar a sua pele que eu preocupo-me mais com a minha.
- E se sobreviveres Jane, podes juntar-te à minha tripulação! - exclamou.
- Preferiro morrer do que juntar alguma vez a ti! - disse-lhe.
- Não te julgues mais inteligente do que eu Jane Williams! - ameaçou-me Black Diamond. - Nem que eu morra a tentar. - A precisão nas suas palavras assustava-me cada vez mais. Estava obssecado por mim e os seus olhos perdiam-se pelo meu corpo. Com o meu braço direito estava livre dei-lhe um valente murro na cara. Black Diamond desta vez não reagiu.
Montes de canibais jaziam mortos no chão. Antes que o cheiro a morte se propaga-se, tentei juntar-me a Lyeel e a Marcus.
- Jane, esta é a nossa oportunidade de fugir! - disse-me Marcus.
Black Diamond estava mais perto do que nunca do meu alcance. - É agora ou nunca Marcus! - exclamei. - Esta pode ser a minha última oportunidade de o matar!
- Não Jane! - impediu-me Lyeel.
- Larga-me Lyeel! - ordenei-lhe. - Eu não passei por tudo isto para ele sair impune!
- Jane, a maré vai subir. - disse-me. - Se não sairmos agora podemos não conseguir sair! - explicou-me.
As palavras de Lyeel fizeram-me pensar num plano. A maré ia subir mas Black Diamond não estava consciente disso, apenas se importava com o ouro. Além disso, nem todos os piratas sabiam nadar, o que beneficiava a nosso favor.
Não sobrou único canibal e nenhum deveria estar escondido por detrás da vegetação. Alguns piratas morreram, mas Black Diamond mostrou-se feliz com a vitória.
- Meus senhores! O ouro está à nossa espera! - exclamou. Todos os piratas da sua tripulação gritaram "Hurra", mas eu e os meus homens permanecemos calados e quietos! - Agora Jane, dás-me a honra de descobrir o ouro comigo?
- Não há ouro Black Diamond! - gritou Jack.
- E que sabes tu sobre o que existe ou não neste fim do mundo? - perguntou-lhe.
- Não sejas ingénuo Black Diamond! - exclamou Jack. - Se lutares pelo ouro, vais ficar a apodrecer com ele sozinho nesta ilha!

- Eu não fico sozinho! - disse bastante determinado. Black Diamond fez sinal aos seus homens e quando dei por mim tinha sido agarrada por dois deles. - A tua querida Jane vai ficar comigo.
Decidi não mostrar medo, pois isso só me punha em pior situação. Decidi enfrentar Black Diamond.
- Se morrer, morremos os dois! - exclamou Black Diamond. - Afinal, nada melhor que morrermos com a pessoa que amamos ao nosso lado. E tu Jack, morres também.
- Tu vais morrer Black Diamond. - assenti eu. - Mas não é de fome, de sede ou de loucura. Eu própria vou acabar contigo!
Lyeel reparou que um dos canibais mortos tinha consigo uma seta com veneno que punha a vítima a dormir. Cautelosamente pegou na mesma e com o arco atirou a flecha contra Black Diamond deixando-o no chão. A tripulação revoltou-se e preparou-se para lutar, mas foram impedidos pelo barulho das ondas do mar a embaterem nas grutas.
- Jane, a maré está a subir cada vez mais! - gritou-me o Sr. Thomas!
Black Diamond estava caído nio chão, totalmente indefeso. Era a altura perfeita para acabar com a sua vida. Retirei a minha espada e concentrei todas as suas forças nela, preparando-me para encaravá-la no seu coração de gelo.
- Jane, não! - gritou Jack impedindo-me.
- Deixa-me Jack! - ordenei-lhe com lágrimas nos olhos. - Eu vou fazê-lo pelo meu pai!
- Não o mates, não desta forma! - aconselhou-me Jack. - Ele vai acabar por morrer aqui, sozinho!
As minhas lágrimas não paravam de cair. - O meu pai morreu por causa dele! - exclamei.
- Jane, se não sairmos daqui, vais acabar por morrer também, a maré está a subir descontroladamente. O corpo de Black Diamond vai acabar por ser arrastado pela maré! - disse-me Jack.
Preparando-me para o matar outra vez, Jack impediu-me e agarrou-me correndo comigo ao colo em direcção da gruta. Jack largou-me e decidi não voltar para trás, e tentar voltar sim ao meu navio. A minha tripulação estava do meu lado, decidida a voltar para o nosso navio e começar de novo.
De repente, o barulho das ondas a embaterem na gruta tornou-se mais violento e mais temível. A água invadiu as rochas que pisávamos com uma força incrível. Comecei e a ver a minha vida a andar para trás. Tentei andar mais um bocado, mas a velocidade com que a água vinha, arrastava-me contra as rochas. Tentei abrir os olhos, mas não conseguia. Senti os braços de alguém a envolverem e percebi que eram os de Jack. Senti a minha cabeça a sangrar, devido ao choque com a rocha.
- Jack? - perguntei.
- Eu estou aqui, não te vou largar! - prometeu-me Jack.
Fechei os olhos e agarrei-me com mais força à mão dele. Sentia a cabeça a andar à roda e comecei com alucinações. Vi o meu pai a caminhar na minha direcção a dizer-me para não desistir. Dezenas de recordações dos meus tempos de criança preencheram a minha mente. O meu pai sentado na sua poltrona a fumar o seu cachimbo em plena luz do dia, pegando-me ao colo e sorrindo para mim. As imagens tornaram-se cada vez menos nítidas e acabaram por desaparecer...

sábado, 4 de setembro de 2010

Capítulo 27 - «O ouro chama-nos!»

Por mais que conseguisse adormecer, não podia. Poderia não voltar a acordar. A minha vida estava entregue a Black Diamond e estava por um fio.
A minha tripulação acordou com os primeiros raios da aurora e depressa fomos retirados das nossas celas. Acorrentaram-nos e fomos levados como se fôssemos escravos. Agora sim, eu percebia a cara de sofrimento de milhares de homens que estavam acorrentados e que o seu destino final era a forca. O meu não seria a forca, mas não deveria ser muito pior. Preferia ser enforcada, a cair nas mãos de Black Diamond.
Chegámos ao convés do navio e todos se encontravam, à excepção de Black Diamond. Neste caso, a sua ausência assustou-me mais que a sua presença.
- O capitão deu ordens para os levarmos para terra! - ordenou Syrus, um dos mais leais piratas a Black Diamond. - Ponham os prisioneiros no bote!
Fomos empurrados para dentro do bote. No total ocupávamos três botes, e eu encontrava-me no mesmo bote que Jack. Parecia que era de propósito, quando eu o queria bem longe de mim. Só queria poder pisar o areal da praia que avistávamos, e não olhar mais para a cara dele.

Chegámos à praia e fomos novamente acorrentados. Sentia a minha cabeça pesada, e tinha bastante sono. Fazia um calor infernal logo pela manhã e por momentos desejei deitar-me na areia. Manti os olhos em baixo, mas a força das correntes fez com que eu levantasse a cabeça, e vi Black Diamond. E não era miragem, nem fruto da minha imaginação. Ele estava mesmo ali, com a sua roupa velha e esfarrapada, e o seu ar carniceiro e presunçoso a olhar para a tripulação. Mas o seu olhar centrou-se em mim. Vi nos seus olhos o desejo de me ter, o que me provocou náuseas. Aproximou-se de mim e pôs as mãos à volta do meu pescoço. Eu não suportava o controlo obsessivo daquele homem repugnante. Cuspi-lhe para os pés. Foram os únicos segundos que o obrigaram a tirar os olhos de cima de mim!
- Que atitude tão estranha para uma mulher Jane! - protestou Black Diamond tentando controlar a sua raiva.
- É a minha Natureza! - exclamei defendendo-me.
- Essa tua determinação e arrogância deixa-me fora de mim! - exclamou Black Diamond.
- Devia controlar-se então! - disse-lhe.
- Achas-te forte Jane... - disse Black Diamond. A pausa na sua voz fez-me perceber que o que diria depois me iria afectar. - Mas no fundo tens uma fraqueza, chamada Jack. Tão ingénua a deixar-se levar pelos encantos de um jovem pirata... -Responder-lhe para quê. Ele estava a humilhar-me. - O amor é um laço terrível!
Jack olháva-me com tristeza. Não precisava das suas palavras de desculpa para nada. Por mim ele podia simplesmente ficar deixado nesta ilha e ser esquecido por todos!

Avançámos para as grutas. Grutas nunca antes vistas por nenhum par de olhos. Esta ilha era desconhecida por todos e apenas sabíamos que nos iria guiar a um lugar. A tripulação de Black Diamond estava exaltada e com uma ância enorme de atravessar a gruta.
Black Diamond ia à frente, deixando-me para trás. Eu estava acorrentada com Jack. Parecia impossível.
- Jane... - chamou-me Jack.
- Não fales comigo! - ordenei-lhe eu. De tiodas as vezes que eu lhe disse para me deixar, mentia. Queria-o perto de mim, mas desta vez eu queria-o bem longe, antes que fosse longe demais. Amava-o muito, mas traição é algo que eu nunca iria perdoar. E Jack era o alvo a abater de Black Diamond, e tinha a certeza de que Jack iria tentar salvar-se desta, precisando da minha ajuda.
- Ainda podemos sair desta morena! - sussurrou-me.
- Jack, não me interessa que salves a tua pele. - disse-lhe. - Eu apenas quero salvar a minha.
- Mas tu és o trunfo de Balck Diamond. - afirmou. - Podes usar isso para te salvares Jane.
- Agora preocupaste comigo? - perguntei-lhe.
- Jane, eu sei que te magoei, e arrependi-me logo do que fiz assim que olhei para ti em Cuba. Mas eu precisava da minha liberdade...
- E agora não a tens! - disse-lhe, voltando-lhe as costas.
A gruta era escura e ao longe conseguíamos ver alguma claridade. O fim devia estar próximo, mas ainda teríamos um longo caminho a percorrer.
Black Diamond andava o mais depressa que conseguia, só não corria devido ao peso da idade no seu corpo. - Estamos a chegar meus senhores, e minha senhora. - Parou e olhou para mim. - O ouro chama-nos!
Olhei para os meus homens e notei o sofrimento nos olhos deles. Todos sabíamos que não havia ouro nenhum e que a cidade do ouro não passava de uma lenda espanhola. Uma lenda que nos atraiu a Black Diamond. Porém o próprio acreditava que a mesma era verdade.
Chegámos ao final da gruta e deparámo-nos com um cascata. Uma ilha perdida no meio dos sete mares com paisagens maravilhosas e indiscritíveis. Os únicos barulhos que ouvíamos eram os da água a cair e a embater cá em baixo. Era um local muito mais fresco e refescante. Não havia vento, não havia sinal de vida humana, nem de animais. Apenas insectos pisavam o mesmo chão que nós.
Por detrás da cascata havia uma enorme vegetação. Olhei com atenção para a mesma e notei a presença de um vulto estranho. Antes que pudesse reagir, uma seta trespassou o coração de Syrus. Black Diamond olhou com escárnio para o corpo do seu homem de confiança e retirou a espada. Numa questão de segundos, da cascata saltou uma enorme multidão de índios canibais com arcos e flechas nas mãos!
Jack agarrou na chave de Syrus e atirou-nos ao chão para que não fôssemos atingidos por uma seta, libertando-nos para que conseguíssemos lutar. Peguei na chave e fui libertar os meus homens, enquanto Black Diamond lutava contra os índios, disparando contra eles.
- Estes vermes escondem o nosso ouro! - exclamou Black Diamond.

sábado, 7 de agosto de 2010

Capítulo 26 - Persuasão

Não me importava de estar presa no navio do meu inimigo. Mais tarde ou mais cedo acabaria morta nas profundezes do oceano. Estava desiludida comigo própria. Desiludida ao ponto de me começar a odiar. Sentia que tinha de fazer alguma coisa. Não por mim, mas sim por aqueles que me foram fiéis e que lutaram por mim. Devia isso tudo à minha tripulação e não ao traidor que swe encontrava na cela ao lado da minha. Jack passou o tempo todo a olhar para mim mas eu não retribuí o olhar. Não queria saber dele, eu tinha simplesmente de arranjar um plano que me tirasse a mim e à minha tripulação dali. Tinha os pulsos feridos das correntes. Sentia um enorme arrepio na espinha cada vez que o nome Black Diamond ecoava no meu ouvido. O meu estômago anciava por comida.
Olhei para a cela onde os homens se encontravam. O Sr. Thomas acabara por adormecer junto da porta da cela. Todos eles estavam de rastos. Lyeel olhara para mim e notou que eu me encontrava acordada.
- Nós vamos safar-nos desta Jane! - exclamou baixinho.
- Eu tenho fé que sim Lyeel! - respondi-lhe com um sorriso.
- Black Diamond vai arrepender-se de te ter ameaçado! - exclamou Lyeel muito seguro no que dizia, e isso por vezes assustava-me. Não queria que Lyeel cometesse nenhuma loucura, como eu... - Nenhum de nós vai deixar que a capitã se magoe!
Eu nem tinha palavras para lhe agradecer. Lyeel tornara-se tão importante nestes meses. Toda a sua amizade era irretribuível. Muitas vezes sentia que esta vida era injusta para ele. Era um homem tão bom, e que merecia construir uma família longe de tudo.

A noite chegou. Eu sentia-me fraca e com sono. Estava uma noite gelada e eu morria de frio. Olhava por um buraco do navio e observava o luar e ouvia o ranger do vento. As celas estavam iluminadas com velas, mas nem isso chegava para nos aquecer.
Pus-me a pensar nas dezenas de vidas que estiveram na mesma cela que eu, e questionei-me sobre o fim das mesmas. Ouvira relatos horrendos de Black Diamond, a certo ponto que pensei que fossem exagero, mas ao vê-lo hoje entendi que aquele olhar apenas transparece horror e vingança e que tais histórias eram verdade. Não entendia o porquê de tanta anciedade de poder sobre mim. Eu não lhe pertencia. Ele queria-me por vingança? O que lhe adiantaria eu estar morta?
- Jane... - chamou-me Jack.Nem me dignei a responder-lhe. - Jane, tu precisas de me ouvir...
- Ouvir-te? - perguntei-lhe. - Dessa boca só saem mentiras! - exclamei.
- Eu nunca me arrependi de anda na vida, mas agora...
- Jack, eu não vou cair novamente na tua rede! - informei-o com desprezo.
- Jane, eu já enganei várias pessoas, desde mulheres a velhos, mas agora eu sinto que ao enganar.te a ti enganei-me a mim próprio também! - exclamou Jasck aproximando-se da minha cela.
- Estás a tentar convencer-me com o teu discuso? - perguntei-lhe.
- Eu quero que me dês uma segunda oportunidade! - exclamou Jack quase num tom não de imploração mas quase de ordenação.
- A vida é feita de escolhas e tu escolhes-te o teu próprio caminho, por isso acartas com as consequências! - exclamei.
- Mas não vou permitir que a tua morte seja a consequência! - disse rapidamente, deixando-me sem palavras. Ele sabia mesmo como deixar o meu coração aos saltos, e bem lá no fundo eu senti um pouco de honestidade nas palavras dele, mas não me poderia deixar enganar outra vez, já fora uma vez enganada e não podia ser novamente. - Jane, eu sei que tu nunca me vais perdoar e eu não estou à espera que o faças, mas para saires daqui com vida tens de confiar em mim.
- Confiar em ti? - perguntei-lhe. - A minha situação actual é o resultado de eu ter acreditado em ti!
- Jane sê racional, tu no fundo sabes que podes confiar em mim! - exclamou voltando às suas ironias.
- Jack que isto fique bem ciente. Tudo o que passámos significou muito para mim, mas acabou. Eu quero apagar tudo da minha memória e esquecer que algum dia os nossos caminhos se cruzaram! - expliquei-lhe agressivamente.
- Significou muito para mim também Jane! - exclamou. - Tu não entendes o que é estar preso a alguém, eu queria ser livre e prometi que faria qualquer coisa para o conseguir...até te conhecer.
- Valeu de muito, entregaste-me à mesma...
- Eu tinha um plano. Entrgava-te, recuperava a minha liberdade e salvava-te.
- O papel de herói nos teus planos encaixa-se perfeitamente em ti! - exclamei irónica. - Jack, eu vou sair do navio com a minha tripulação e vou deixar-te para trás!
- Pirata! - exclamou com ironia. - Tu não vais ser capaz Jane. Não irias suportar ver-me morrer nas mãos do teu inimigo!
- Já chega Jack! - ordenei-lhe.
De repente dois piratas desceram as escadas e abriram a minha cela tirando-me de lá. Limitei-me a ignorar Jack nos seus pedidos para confiar em mim.
- O capitão achou que eras demasiado bonita para estares a apoderecer numa cela! - exclamou um dos piratas num tom de atrevimento. Olhei-o com desprezo e ignorei o seu comentário. Empurraram-me para dentro de um camarote e deixaram-me la trancada. E a pensar que estávamos tão próximos da costa e o meu destiny estava ao meu lado.
- Ainda ficas mais bonita iluminada pelo luar Jane! - exclamou Black Diamond.
- O que quer de mim? - perguntei-lhe.
- Quero conhecê-la melhor, menina Deverport. - respondeu-me.
- Foi o que respondeu às minhas antecessoras? - perguntei-lhe desafiadamente.
- És diferente Jane Deverport! - exclamou. - De todas as mulheres que passaram por aqui, tu mostraste-te a mais persistente de todas.
- E certamente a com mais raiva de si! - exclamei.
Ele achou de certeza que eu estava a atrever-me demais, portanto aproximou-se de mim. Tentei recuar, mas eu já estava encostada a uma mesa e não tinha por onde fugir.
- Não me ponhas à prova pirata! - ameaçou Black Diamond.
- Vai matar-me? - perguntei-lhe. - Não era capaz, precisa de mim. Sou um trunfo não é? - comecei a persuadi-lo cada vez mais. - Não iria suportar que eu me magoasse. - Apanhei a fraqueza de Black Daimond. Eu era a sua fraqueza. Vi o seu coração a bater cada vez mais quando se aproximou de mim.
- Um dia vais ser minha Jane! - jurou-me Black Diamond. - Vais entender que eu não sou tão mau como sempre me idealizas-te. - pegou na minha face e aproximou-a de si. - Nós os dois Jane, com montes de ouro de El Dourado, e nunca mais precisarás de ter a vida de pirata.
- Foi a vida que eu escolhi! - respondi-lhe.
- e sinto-me lisonjeado por saber que parte dessa escolha foi por minha causa... - assentiu tentando beijar-me.
- Não querendo parecer mal educada, mas quero voltar para a minha cela! - exclamei afastando-me.
- És insolente Jane Deverport! - gritou. - Eu posso dar-te tudo o que queres e tu não te dignas a aceitar-me! - exclamou começando a ficar cada vez mais furioso. Dirigi-me à porta querendo fugir o mais depressa dali. - Se é assim que queres, vais ser tratada como uma verdadeira escrava!
Fui colocada novamente dentro da cela, esperando anciosamente e tenebrosamente pelo dia que me esperava...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Capítulo 25 - Regresso ao passado

- Jack aceitou entregar-te, e voltou a juntar-se a mim de boa vontade. - explicou Black Diamond. - Mas ele não fazia a menor ideia que acabaria por se apaixonar pela sua presa, não foi Jack? - perguntou Black Diamond com um olhar de escárnio para Jack, que entretanto fora amarrado e feito prisioneiro como eu. - Conquistou a tua confiança, o que não deve ter sido fácil... - por cada palavra proferida por Black Diamond o meu nojo por eles os dois ia aumentando.
- Eu quero a minha liberdade Black Diamond! - exclamou Jack. - Já tens o que queres, agora deixa-me ir! - Jack poderia estar a falar a verdade, comportando-se como se eu fosse indiferente para ele, mas durante os meses que navegámos juntos, entendi que ele poderia estar a fazer bluff, mas nada me garantia. Jack não era a pessoa que eu pensei que fosse, e não teria mais a minha confiança.
- Eu bem devia ter-te enfiado uma bala no meio desses olhos quando tive oportunidade! - exclamei.
- Jane eu quero que me oiças! - pediu Jack.
- Nada do que me digas me interessa! - expliquei-lhe agressivamente. - Tu para mim deixaste de existir!
As minhas palavras magoaram Jack e foi essa a minha intenção. Eu queria magoá-lo tanto como ele me magoou a mim.
- Jack, não arranjas-te uma mulher fácil! - ironizou Black Diamond, aproximando-se de mim.
- Tira as mãos de cima dela! - ordenou Jack.
- Seria uma pena desperdiçá-la...que dizes de eu ficar com ela só para mim? - perguntou.
- Eu prefiro morrer a ficar contigo! - exclamei.
Black Diamond agarrou-me o pescoço com muita força. - Que fique bem claro Jane, agora és minha! E não tens o teu paizinho aqui para te salvar como da outra vez!
- O quê? - perguntei.
- Tivémos um pequeno e agradável encontro há muitos anos Jane... - contou Black Diamond.


(Narrado por Black Diamond)
- Capitão podemos desembarcar! - avisou-me um membro da minha tripulação.
- Está bem idiota, avisa os outros para se prepararem! - exclamei.
Numa questão de minutos encontrávamo-nos todos dentro do bote em direcção à costa africana. O meu inimigo Robert Deverport iria receber a minha agradável visita. Cocei as minhas barbas e peguei na minha luneta. Avistava a praia. Uma mulher e uma criança chapinhavam na água, mas preparavam-se para sair. Com a brincadeira toda nem deram pela presença do meu navio, o Deathnort.
Desembarcámos na praia e caminhámos em direcção ao centro da vila. Era uma zona de África bastante calma e por isso não poderíamos deixar suspeitas de que éramos piratas. Era pleno fim do dia, e era a hora de descanso da marinha real.
Caminhámos pelo bosque até que avistámos a casa de Robert Deverport. A mulher e a criança pertenciam à sua família. Pensei logo que fossem a sua mulher e a sua filha.
A mulher deixou por instantes a filha sentada no pântano enquanto fora lá dentro.
- Ordens capitão? - perguntaram-me.
- Fiquem de vigia, os outros sabem o que têm de fazer! - ordenei. Aproximei-me daquela criança inocente e com um sorriso estampado na cara. Era uma pérola autÊntica. Com a pele queimada do sol e cabelos compridos e escuros. Estava com uma camisa meio rasgada a saltava por cima das ervas do pântano. Quando se virou e me viu, parou. Ficou assutada com a minha presença. - Olá!
- Olá... - disse-me.
- Como é que te chamas morenita? - perguntei-lhe metendo-me com ela, mas ela não parecia mostrar muita confiança.
- Eu não posso falar com estranhos... - disse-me. Como é que uma criança daquele tamanho tinha noção disso?
- Mas é só dizeres-me o teu nome... - pedi-lhe atenciosamente.
A criança lançou-me um olhar estranho mas ganhou confiança e pouco e pouco. - Jane...
- Tens um lindo nome, Jane! - exclamei. Ela voltou a sentar-se e arrancou as ervas mais próximas de si. - O que queres ser quando fores crescida? - Ela olhou para mim com um ar desconfiado. - Gostas do mar? - Ela acenou imediato com a cabeça. - Óptimo...e de barcos? Gostas de barcos?
- O meu pai tem um! - exclamou levantando-se com entusiasmo. - E eu gosto dele.
- Sabes o que é um pirata? - perguntei-lhe.
- Não. - respondeu-me.
- É alguém que tem um barco só para si, que pode navegar nos mares para sempre sem que ninguém lhe diga "não"!
- Eu quero ser pirata! - exclamou Jane.
- E vais ser Jane, eu prometo-te! - disse-lhe.



- Vou contar ao meu pai! - exclamou, preparando-se para correr, mas eu impedi-a.
- Agora não Jane! - exclamei mudando o meu tom de voz.
- Eu quero ir ter com o meu pai agora! - gritou a criança determinada começando a correr. Corri atrás dela e impedi-a novamente. Desta vez agarrei-a com força para não a deixar escapar. Ela gritou ainda mais e começou a chorar pelo pai.
Robert Deverport reconheceu os gritos e saiu num ápice do seu escritório para acudir a filha. Nem queria acreditar que eu tinha a vida mais importante para ele nas minhas mãos. - Liberta a minha filha Black Diamond! - gritou ordenando.
- A tua filha pode magoar-se Robert. - disse-lhe. - E tu não ias aguentar se ela se magoasse, pois não?
- O que queres em troca pela vida da Jane? - perguntou-me.
Nesse momento a mãe de Jane veio ao nosso encontro - Jane!
- Quero a tua morte Robert! - exclamou Black Diamond. - Sntes a tua que a dela, não é?
- Larga a minha filha, já!
Retirei a minha arma e apontei à cabeça da criança, mas senti uma outra arma apontada para mim. Ao virar-me, Jane bateu no meu braço e eu acabei por deixar cair a arma e largar Jane.
A mãe agarrou a filha e Robert pegou na arma e apontou-a para mim.
- Obrigada Thomas!
- Que destino vai ter este homem Robert? - perguntou-lhe.
- O que merece!
No momento em que se preparavam para me matar, houve uma explosão e graças ao fumo consegui fugir. Tinha conseguido metade do que queria. Não tirei a vida a Robert, mas ameacei a mais importante para ele.



Quando Black Diamond concluiu, lembrei-me vagamente desse episódio da minha vida. Toda aquela fascinação por ser pirata quase que me tirou a vida. O meu pai e o Sr. Thomas salvaram-me, e desta vez eu não tinha o meu pai e o Sr. Thomas estava nas celas do navio.
- Precisas de pensar, não é Jane? - perguntou-me irónicamente. - Por seres uma senhora, tens o privilégio de ficar numa cela sozinha!
- Deixem o Jack noutra cela sozinho. - ordenou. - Se o colocarem ao pé dos outros acaba morto, e eu ainda preciso de ele vivo!
Os piratas levantaram-me e dirigiram-se comigo às celas.
- Ah e Jane, esta será a última noite que passarás na cela, as outras vais passá-las comigo no meu camarote. - avisou-me Black Diamond.
Com a repugnância e o nojo que eu tinha dele nem lhe respondi. Precisava urgentemente de um plano para escapar disto com vida.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Capítulo 24 - Black Diamond

- É impossível! - exclamou Lyeel.
Jack pegou na minha luneta e involuntariamente fez uma expressão surpreendida. - Jane, qual é o plano?
Antes que pudesse responder, um outro ataque atingiu o meu navio.
- Fogo! - ordenei eu apressadamente correndo para o meu camarote para buscar a minha espada e a minha pistola. Entrei pelo camarote a dentro, certifiquei-me que a pistola estava carregada, prendi a espada ao meu cinto e saí. O meu navio respondeu ao ataque, mas o navio inimigo não desistia. Eu teria que ter a certeza absoluta que se tratava de Black Diamond. O navio correspondia exactamente às inúmeras descrições que me tinham dito. O navio tinha um ar aterrador que me fez arrepios na espinha. Sentia o coração a saltar-me do peito e estava com um medo de morte. Por momentos deixei de ver tudo à minha volta e transportei-me para outro lugar. Vi a figura do meu pai a lutar com um monstro marinho em forma humana horrível. Nunca outrora tinha visto tal imagem aterradora.
- Jane cuidado! - gritou Lyeel derrubando-me para o chão, salvando-me de ser atingida por um tiro. Onde é que aquela cena me era familiar? Lembrei-me de Jack. Olhei em redor, mas este não estava por perto.
- Obrigada Lyeel. - agradeci rapidamente, levantando-me de seguida.
De repente o navio inimigo deixou de disparar. Era estranho. Eles não iriam desistir tão facilmente, se ainda nem sequer tinha havido uma luta.
- Desistiram? - perguntou Marcus.
- Não... - respondi-lhe eu. - Eles estão a preparar alguma.
- Podemos atacá-los agora. - afirmou o Sr. Thomas.
- Onde está o Jack? - perguntei eu desconfiada.
- Ele agora não importa Jane! - gritou o Sr. Thomas - Nós temos de ter um plano.
- Virem a estibordo. - ordenei - Isto vai apanhá-los de surpresa. Pensarão que desistimos, mas não, vamos atacá-los. - expliquei. - Temos de ser mais espertos que eles!
Lyeel obedeceu rapidamente à minha ordem e correu para junto do leme. Naquele momento eu queria encontrar Jack. Ter-se-ia acobardado e fugido do meu navio? Estaria no porão pronto para um novo ataque com os canhões?
O meu navio virou a estibordo. Ficámos lado a lado com o navio inimigo. Este mantinha-se silencioso. O que teria acontecido. Peguei numa das cordas do mastro, dei balanço para entrar no outro navio. Este era ainda mais tenebroso e arrepiante visto ao perto. Encontrei dois homens fortes e com um ar assustador. Preparavam-se para me atacar, por isso instintivamente dei um tiro a cada um. Um terceiro homem amarrou-me por trás e retirou-me a pistola. Gritei bastante alto, para que a minha tripulação me ouvisse. O homem com as duas mãos tapou-me a boca, o que me deu liberdade de com uma das minhas mãos pegar na espada e trespacei-lhe o coração.
- Jane! - gritou o Sr. Thomas do Destiny. - Precisamos de ti Jane.
Decidida a voltar para o Destiny, uma mão tocou no meu ombro e impediu-me de sair dali. Virei-me e o homem era alto, musculado e com um ar assustador.
- Nunca lhe ensinaram que é feio entrar na propriedade dos outros? - perguntou-me. Oh Céus o homem tinha um hálito horrível. Parecia que se alimentava de peixe podre, mas o seu hálito não era o meu problema naquele momento.
- Nunca fui muito de respeitar regras! - exclamei eu pisando-lhe o pé fugindo para o outro aldo do navio, mas ele correu mais rápido do que eu e agarrou-me novamente.
Quando dei por mim, vários membros da minha tripulação tinham sido resgatados. Aquele silêncio tinha explicado muita coisa. O Sr. Thomas estava ao meu lado, e estava ferido. Eu só rezava para que não o ferissem, nem a nenhum outro membro da minha tripulação.
De repente fez-se novamente silêncio no navio. Ouviam-se passos curtos e intensos de um homem que vinha do interior. O meu sangue estava a fervilhar dentro das minhas veias. O sol iluminou um rosto de um homem não muito novo, mas com uma aparência desgastada e horrenda.
- Quem é o comandante desta tripulação? - perguntou-nos.
- Eu sou! - respondi-lhe eu sem rodeios.
- Jane, por favor... - pediu-me o Sr. Thomas.
- És mulher... - disse o homem. - Uma mulher não sabe governar um bando de animais como estes.
- Pois penso que governo muito melhor que tu Black Diamond! - exclamei eu tentando pôr o meu medo de lado.
Ele aproximou-se de mim. - Soltem-na! - ordenou Black Diamod calmamente. - Eu preciso de vê-la melhor.
- Não me toque! - gritei-lhe eu.
- És uma rapariga corajosa Jane Deverport. - afirmou Black Diamod.
- Como é que sabe o meu nome? - perguntei-lhe.
- Eu sei muito sobre ti! - respondeu-me Black Diamond tocando na minha face com as suas mãos velhas e sujas. Sentia-me nojenta quando tocou em mim. - És parecida com o teu pai, Robert Deverport.
- Não se atreva a mencionar o nome do meu pai! - gritei-lhe com vontade de lhe dar um estalo, mas Black Diamond agarrou a minha mão, apertando-me o pulso. - Por sua causa o meu pai percorreu os sete mares para o destruir e acabou por morrer! - gritei eu tentando não ceder à dor que Black Diamond estava a fazer com o meu pulso.
- E agora estás aqui para acabar o que ele começou? - perguntou-me com um pouco de ironia. Eu olhava-lhe com um ódio indescritível nos olhos. - És demasiado bonita para seres pirata... - afirmou tocando-me com a outra mão no meu pescoço.
- Largue-me! - ordenei-lhe. Black Diamond olhou-me com um ar infernal, aqueles olhos negros metiam medo até ao diabo.
- Meus senhores, o Destiny é nosso! - exclamou Black Diamond. - A tripulação irá para as celas do navio. Precisamos destes cretinos para cavarem e carregarem o nosso ouro!
Black Diamond também estava à procura do tesouro de El Dourado. E isso poderia ser um trunfo a meu favor. Havendo ouro ou não, isso agora não era relevante mas, para já, ele não iria magoar a minha tripulação, pois precisava dela.
- Capitão, e a rapariga? - perguntou um dos seus homens.
- A rapariga fica comigo...no meu camarote! - respondeu Black Diamond.
- Eu prefiro ficar nas celas com o resto da tripulação. - respondi-lhe eu com arogância.
- Não Jane, ficarás comigo no meu camarote nem que eu tenha que te amarrar! - exclamou apertando-me novamente os pulsos.
- Deixa-a em paz Black Diamond! - gritou uma voz. Eu reconheci aquela voz de algum lugar. Olhei para o lado e era Jack. Era o único da minha tripulação que estava livre.
- Jack Nilton! - exclamou Black Diamond. - Apareceste na melhor altura...queres a rapariga?
- Toca-lhe com um dedo e eu mato-o! - ameaçou Jack.
Black Diamond mandou-me para cima de dois dos seus homens e estes agarraram-me. Aquele aproximou-se de Jack. - Que se passa Jack? - perguntou-lhe Black Diamond cinicamente. - Apaixonaste-te pela tua própria presa?
- O quê? - perguntei.
- Estás a defendê-la Jack, mas aposto que não lhe contas-te que a traíste! - exclamou Black Diamond pressionando a minha cara. - Olha para ela Jack, a sofrer e tu aqui, solto que nem um traidor.
Soltei a minha cara das maõs de Black Diamond e olhei com desilusão para Jack. - Jack? O que é que se passa?
- O que se passa menina Deverport, é que o Jack Nilton é meu aliado desde que se tornou pirata! - respondeu-me Black Diamond. - Eu jurei-lhe liberdade se ele me entregasse o que eu mais quero nesta vida para além do ouro, você menina Deverport.
Eu senti nojo de Jack. Como é que ele fora capaz de tremenda nojice e traição depois do que passámos juntos? Sentia mais raiva dele do que Black Diamond. Depois de Black Diamod iria matar Jack com as minhas próprias mãos. Iria fazê-lo sofrer ainda mais do que ele me fez a mim. Iria vingar-me dele e de Black Diamond, nem que fosse a última coisa que fizesse até parar de respirar.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Capítulo 23 - Terra à vista

Lyell acordara mais cedo. Fora o primeiro da tripulação inteira a acordar. Acordei com a euforia dos seus passos, logo no nascer da aurora. Ainda era bastante cedo, e eu não entendia o porquê de ele estar a pé tão cedo.
Numa questão de instantes saí para o convés e ouvi de imediato os gritos de Lyell: - Terra à vista!
A tripulação reuniu-se toda no convés. Eu peguei na minha luneta e confirmei que se avistavam praias ao longe. - Cavalheiros, chegámos à América do Sul! - anunciei.
- E onde é que está a cidade do ouro? - perguntou-me Till.
- Mais perto do que imaginas! - intrometeu-se Jack.

Cada vez estava mais certa de que Jack escondia algo. Ele estava demasiado seguro no que dizia sobre El Dourado, e tirando o seu lado irónico, havia qualquer coisa que me escondia. Por detrás daqueles olhos castanhos escuros encantadores, escondia-se uma mentira qualquer. Mas eu iria ter Jack debaixo de olho.
- Meus senhores quero a vossa atenção! - pedi. Quando todos me deram atenção continuei - Chegámos ao nosso destino! Mas lembrem-se, numa aventura nunca se perde a coragem e muito menos a emoção de estar a vivê-la!
Todos os cavalheiros da minha tripulação assentiram com a cabeça. Lyeel aproximou-se de mim e gritou para todos: - Viva a capitã!
- Longa vida à Jane Deverport! - gritou o Sr. Thomas.
- Meus senhores, preparem os botes. - ordenei - Vamos para terra!
Limpei a ocular da minha luneta enquanto Jack se aproximava cautelosamente de mim. - Qual é o plano capitão?
- Seguir os mapas, encontrar a cidade do ouro e no final, destruir Black Diamond! - respondi-lhe, pronunciando com maior firmeza "Black Diamond" e afastando-me de seguida.
- Porque estás a fugir de mim morena? - perguntou-me. Puxei-o para mim. - Retiro já o que disse! - exclamou Jack irónico.
Tirei a minha pistola e coloquei-a junto ao seu queixo. - Eu sei que escondes algo Jack! - exclamei eu. - Não ouses sequer trair-me ou nunca mais verás o nascer do sol. - ameacei-o
- Tão agressiva morena! - exclamou Jack irónico.
- Não me chames isso! - ordenei-lhe.
- Ao menos se morrer, quero morrer com um beijo nos teus lábios... - disse-me aproximando a sua boca à minha.
- Eu estou a falar a sério Jack, eu nunca perdoaria uma traição! - avisei-lhe. Os olhos de Jack desviaram o meu. O aviso estava dado.
- Eu não te escondo nada Jane. - afirmou.
- Não me vais obrigar a embebedar-te, pois não? - perguntei-lhe.
- Tu não eras capaz! - exclamou Jack muito seguro do que dizia, mas ao ver a minha cara mudou logo o tom - Ou eras?
- Eu faço tudo para conseguir o que quero Jack! - exclamei eu orgulhosa.
- Pirata! - exclamou Jack com orgulho. - Eu e tu somos iguais!
- Não Jack, não somos nem um bocadinho. - respondi-lhe.
- Porque é que não admites? - perguntou-me agarrando-me o braço.
- Admitir o quê? - perguntei-lhe.
- Que me amas! - respondeu-me directamente sem rodeios.
- Amor é uma palavra muito forte Jack. - afirmei eu. - Não a utilizes assim do nada... - respondi-lhe, soltando o meu braço.
Dirigi-me para junto de Marcus. Este estava muito concentrado a analisar o mapa.
- Precisas de ajuda Marcus? - perguntei-lhe.
- Este mapa... - começou Marcus. - Não sei, há qualquer coisa...
- Mas o mapa corresponde exactamente a esta praia...os pilares rodeados por água. - disse.
- E o que haverá por detrás destes pilares? - perguntou Marcus. - Segundo o mapa.
- Espera...este papel - afirmei eu. - Agora faz sentido!
- Desculpe capitã? - perguntou-me.
- Eu sempre analisei os mapas à luz das velas ou á luz da lua. - disse pegando no papel. Jack e o Sr. Thomas aproximaram-se.
- Jane? - perguntou o Sr. Thomas.
Peguei no papel e pu-lo na direcção do sol. - A luz do sol reflecte as letras ao contrário!
- Sim? - perguntou Jack.
- E as letras ao contrário formam as palavras "Ambição", "Desejo" e "Fortuna". - afirmei.
- O que signigica? - perguntou o Sr. Thomas.
- Estas palavras são relativas a El Dourado. - respondi. - A ambição dos homens ao encontrarem o ouro, o desejo de se afirmarem como senhores do ouro e o próprio ouro.
Jack olhou para mim espantado. - Como é que descobris-te isto tudo?
- Não foi com a tua ajuda! - respondi eu com um sorriso arrogante.
- Mas aqui fala no Rio Amazonas... - afirmou o Sr. Thomas olhando para o mapa.
- Temos de encontrar esse Rio! - exclamou Marcus.
- O que significa que teremos de deixar o navio para trás... - assentiu Jack.
- Nunca se deixa um navio para trás. - disse-lhe num tom menos arrogante. - E também há grutas e é aí que temos de ter cuidado. A uma certa hora do dia, a maré enche e as grutas ficam cercadas de água, correndo assim o risco de nos afogarmos.
- E qual é o plano Jane? - perguntou o Sr. Thomas.
No momento em que me preparava para responder, um estrondo de um canhão fez com que o meu navio estremecesse.
- Capitã! - gritou Lyell. - Temos companhia!
Voltei-me para trás e o meu cabelo solto acompanhou o movimento. Corri para o leme junto de Lyell e peguei na minha luneta.
- Tem bandeira? - perguntou Jack.
- Não. - respondi-lhe. - A minha pulsaçãso aumentou, o meu coração disparou, comecei a transpirar imenso e a ficar com suores.
- Capitã, sente-se bem? - perguntou-me Lyeel.
- É Black Diamond! - respondi-lhe transpirando cada vez mais. - Desta vez, tenho a certeza!