Deixem a vossa marquinha *.*

sábado, 7 de agosto de 2010

Capítulo 26 - Persuasão

Não me importava de estar presa no navio do meu inimigo. Mais tarde ou mais cedo acabaria morta nas profundezes do oceano. Estava desiludida comigo própria. Desiludida ao ponto de me começar a odiar. Sentia que tinha de fazer alguma coisa. Não por mim, mas sim por aqueles que me foram fiéis e que lutaram por mim. Devia isso tudo à minha tripulação e não ao traidor que swe encontrava na cela ao lado da minha. Jack passou o tempo todo a olhar para mim mas eu não retribuí o olhar. Não queria saber dele, eu tinha simplesmente de arranjar um plano que me tirasse a mim e à minha tripulação dali. Tinha os pulsos feridos das correntes. Sentia um enorme arrepio na espinha cada vez que o nome Black Diamond ecoava no meu ouvido. O meu estômago anciava por comida.
Olhei para a cela onde os homens se encontravam. O Sr. Thomas acabara por adormecer junto da porta da cela. Todos eles estavam de rastos. Lyeel olhara para mim e notou que eu me encontrava acordada.
- Nós vamos safar-nos desta Jane! - exclamou baixinho.
- Eu tenho fé que sim Lyeel! - respondi-lhe com um sorriso.
- Black Diamond vai arrepender-se de te ter ameaçado! - exclamou Lyeel muito seguro no que dizia, e isso por vezes assustava-me. Não queria que Lyeel cometesse nenhuma loucura, como eu... - Nenhum de nós vai deixar que a capitã se magoe!
Eu nem tinha palavras para lhe agradecer. Lyeel tornara-se tão importante nestes meses. Toda a sua amizade era irretribuível. Muitas vezes sentia que esta vida era injusta para ele. Era um homem tão bom, e que merecia construir uma família longe de tudo.

A noite chegou. Eu sentia-me fraca e com sono. Estava uma noite gelada e eu morria de frio. Olhava por um buraco do navio e observava o luar e ouvia o ranger do vento. As celas estavam iluminadas com velas, mas nem isso chegava para nos aquecer.
Pus-me a pensar nas dezenas de vidas que estiveram na mesma cela que eu, e questionei-me sobre o fim das mesmas. Ouvira relatos horrendos de Black Diamond, a certo ponto que pensei que fossem exagero, mas ao vê-lo hoje entendi que aquele olhar apenas transparece horror e vingança e que tais histórias eram verdade. Não entendia o porquê de tanta anciedade de poder sobre mim. Eu não lhe pertencia. Ele queria-me por vingança? O que lhe adiantaria eu estar morta?
- Jane... - chamou-me Jack.Nem me dignei a responder-lhe. - Jane, tu precisas de me ouvir...
- Ouvir-te? - perguntei-lhe. - Dessa boca só saem mentiras! - exclamei.
- Eu nunca me arrependi de anda na vida, mas agora...
- Jack, eu não vou cair novamente na tua rede! - informei-o com desprezo.
- Jane, eu já enganei várias pessoas, desde mulheres a velhos, mas agora eu sinto que ao enganar.te a ti enganei-me a mim próprio também! - exclamou Jasck aproximando-se da minha cela.
- Estás a tentar convencer-me com o teu discuso? - perguntei-lhe.
- Eu quero que me dês uma segunda oportunidade! - exclamou Jack quase num tom não de imploração mas quase de ordenação.
- A vida é feita de escolhas e tu escolhes-te o teu próprio caminho, por isso acartas com as consequências! - exclamei.
- Mas não vou permitir que a tua morte seja a consequência! - disse rapidamente, deixando-me sem palavras. Ele sabia mesmo como deixar o meu coração aos saltos, e bem lá no fundo eu senti um pouco de honestidade nas palavras dele, mas não me poderia deixar enganar outra vez, já fora uma vez enganada e não podia ser novamente. - Jane, eu sei que tu nunca me vais perdoar e eu não estou à espera que o faças, mas para saires daqui com vida tens de confiar em mim.
- Confiar em ti? - perguntei-lhe. - A minha situação actual é o resultado de eu ter acreditado em ti!
- Jane sê racional, tu no fundo sabes que podes confiar em mim! - exclamou voltando às suas ironias.
- Jack que isto fique bem ciente. Tudo o que passámos significou muito para mim, mas acabou. Eu quero apagar tudo da minha memória e esquecer que algum dia os nossos caminhos se cruzaram! - expliquei-lhe agressivamente.
- Significou muito para mim também Jane! - exclamou. - Tu não entendes o que é estar preso a alguém, eu queria ser livre e prometi que faria qualquer coisa para o conseguir...até te conhecer.
- Valeu de muito, entregaste-me à mesma...
- Eu tinha um plano. Entrgava-te, recuperava a minha liberdade e salvava-te.
- O papel de herói nos teus planos encaixa-se perfeitamente em ti! - exclamei irónica. - Jack, eu vou sair do navio com a minha tripulação e vou deixar-te para trás!
- Pirata! - exclamou com ironia. - Tu não vais ser capaz Jane. Não irias suportar ver-me morrer nas mãos do teu inimigo!
- Já chega Jack! - ordenei-lhe.
De repente dois piratas desceram as escadas e abriram a minha cela tirando-me de lá. Limitei-me a ignorar Jack nos seus pedidos para confiar em mim.
- O capitão achou que eras demasiado bonita para estares a apoderecer numa cela! - exclamou um dos piratas num tom de atrevimento. Olhei-o com desprezo e ignorei o seu comentário. Empurraram-me para dentro de um camarote e deixaram-me la trancada. E a pensar que estávamos tão próximos da costa e o meu destiny estava ao meu lado.
- Ainda ficas mais bonita iluminada pelo luar Jane! - exclamou Black Diamond.
- O que quer de mim? - perguntei-lhe.
- Quero conhecê-la melhor, menina Deverport. - respondeu-me.
- Foi o que respondeu às minhas antecessoras? - perguntei-lhe desafiadamente.
- És diferente Jane Deverport! - exclamou. - De todas as mulheres que passaram por aqui, tu mostraste-te a mais persistente de todas.
- E certamente a com mais raiva de si! - exclamei.
Ele achou de certeza que eu estava a atrever-me demais, portanto aproximou-se de mim. Tentei recuar, mas eu já estava encostada a uma mesa e não tinha por onde fugir.
- Não me ponhas à prova pirata! - ameaçou Black Diamond.
- Vai matar-me? - perguntei-lhe. - Não era capaz, precisa de mim. Sou um trunfo não é? - comecei a persuadi-lo cada vez mais. - Não iria suportar que eu me magoasse. - Apanhei a fraqueza de Black Daimond. Eu era a sua fraqueza. Vi o seu coração a bater cada vez mais quando se aproximou de mim.
- Um dia vais ser minha Jane! - jurou-me Black Diamond. - Vais entender que eu não sou tão mau como sempre me idealizas-te. - pegou na minha face e aproximou-a de si. - Nós os dois Jane, com montes de ouro de El Dourado, e nunca mais precisarás de ter a vida de pirata.
- Foi a vida que eu escolhi! - respondi-lhe.
- e sinto-me lisonjeado por saber que parte dessa escolha foi por minha causa... - assentiu tentando beijar-me.
- Não querendo parecer mal educada, mas quero voltar para a minha cela! - exclamei afastando-me.
- És insolente Jane Deverport! - gritou. - Eu posso dar-te tudo o que queres e tu não te dignas a aceitar-me! - exclamou começando a ficar cada vez mais furioso. Dirigi-me à porta querendo fugir o mais depressa dali. - Se é assim que queres, vais ser tratada como uma verdadeira escrava!
Fui colocada novamente dentro da cela, esperando anciosamente e tenebrosamente pelo dia que me esperava...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Capítulo 25 - Regresso ao passado

- Jack aceitou entregar-te, e voltou a juntar-se a mim de boa vontade. - explicou Black Diamond. - Mas ele não fazia a menor ideia que acabaria por se apaixonar pela sua presa, não foi Jack? - perguntou Black Diamond com um olhar de escárnio para Jack, que entretanto fora amarrado e feito prisioneiro como eu. - Conquistou a tua confiança, o que não deve ter sido fácil... - por cada palavra proferida por Black Diamond o meu nojo por eles os dois ia aumentando.
- Eu quero a minha liberdade Black Diamond! - exclamou Jack. - Já tens o que queres, agora deixa-me ir! - Jack poderia estar a falar a verdade, comportando-se como se eu fosse indiferente para ele, mas durante os meses que navegámos juntos, entendi que ele poderia estar a fazer bluff, mas nada me garantia. Jack não era a pessoa que eu pensei que fosse, e não teria mais a minha confiança.
- Eu bem devia ter-te enfiado uma bala no meio desses olhos quando tive oportunidade! - exclamei.
- Jane eu quero que me oiças! - pediu Jack.
- Nada do que me digas me interessa! - expliquei-lhe agressivamente. - Tu para mim deixaste de existir!
As minhas palavras magoaram Jack e foi essa a minha intenção. Eu queria magoá-lo tanto como ele me magoou a mim.
- Jack, não arranjas-te uma mulher fácil! - ironizou Black Diamond, aproximando-se de mim.
- Tira as mãos de cima dela! - ordenou Jack.
- Seria uma pena desperdiçá-la...que dizes de eu ficar com ela só para mim? - perguntou.
- Eu prefiro morrer a ficar contigo! - exclamei.
Black Diamond agarrou-me o pescoço com muita força. - Que fique bem claro Jane, agora és minha! E não tens o teu paizinho aqui para te salvar como da outra vez!
- O quê? - perguntei.
- Tivémos um pequeno e agradável encontro há muitos anos Jane... - contou Black Diamond.


(Narrado por Black Diamond)
- Capitão podemos desembarcar! - avisou-me um membro da minha tripulação.
- Está bem idiota, avisa os outros para se prepararem! - exclamei.
Numa questão de minutos encontrávamo-nos todos dentro do bote em direcção à costa africana. O meu inimigo Robert Deverport iria receber a minha agradável visita. Cocei as minhas barbas e peguei na minha luneta. Avistava a praia. Uma mulher e uma criança chapinhavam na água, mas preparavam-se para sair. Com a brincadeira toda nem deram pela presença do meu navio, o Deathnort.
Desembarcámos na praia e caminhámos em direcção ao centro da vila. Era uma zona de África bastante calma e por isso não poderíamos deixar suspeitas de que éramos piratas. Era pleno fim do dia, e era a hora de descanso da marinha real.
Caminhámos pelo bosque até que avistámos a casa de Robert Deverport. A mulher e a criança pertenciam à sua família. Pensei logo que fossem a sua mulher e a sua filha.
A mulher deixou por instantes a filha sentada no pântano enquanto fora lá dentro.
- Ordens capitão? - perguntaram-me.
- Fiquem de vigia, os outros sabem o que têm de fazer! - ordenei. Aproximei-me daquela criança inocente e com um sorriso estampado na cara. Era uma pérola autÊntica. Com a pele queimada do sol e cabelos compridos e escuros. Estava com uma camisa meio rasgada a saltava por cima das ervas do pântano. Quando se virou e me viu, parou. Ficou assutada com a minha presença. - Olá!
- Olá... - disse-me.
- Como é que te chamas morenita? - perguntei-lhe metendo-me com ela, mas ela não parecia mostrar muita confiança.
- Eu não posso falar com estranhos... - disse-me. Como é que uma criança daquele tamanho tinha noção disso?
- Mas é só dizeres-me o teu nome... - pedi-lhe atenciosamente.
A criança lançou-me um olhar estranho mas ganhou confiança e pouco e pouco. - Jane...
- Tens um lindo nome, Jane! - exclamei. Ela voltou a sentar-se e arrancou as ervas mais próximas de si. - O que queres ser quando fores crescida? - Ela olhou para mim com um ar desconfiado. - Gostas do mar? - Ela acenou imediato com a cabeça. - Óptimo...e de barcos? Gostas de barcos?
- O meu pai tem um! - exclamou levantando-se com entusiasmo. - E eu gosto dele.
- Sabes o que é um pirata? - perguntei-lhe.
- Não. - respondeu-me.
- É alguém que tem um barco só para si, que pode navegar nos mares para sempre sem que ninguém lhe diga "não"!
- Eu quero ser pirata! - exclamou Jane.
- E vais ser Jane, eu prometo-te! - disse-lhe.



- Vou contar ao meu pai! - exclamou, preparando-se para correr, mas eu impedi-a.
- Agora não Jane! - exclamei mudando o meu tom de voz.
- Eu quero ir ter com o meu pai agora! - gritou a criança determinada começando a correr. Corri atrás dela e impedi-a novamente. Desta vez agarrei-a com força para não a deixar escapar. Ela gritou ainda mais e começou a chorar pelo pai.
Robert Deverport reconheceu os gritos e saiu num ápice do seu escritório para acudir a filha. Nem queria acreditar que eu tinha a vida mais importante para ele nas minhas mãos. - Liberta a minha filha Black Diamond! - gritou ordenando.
- A tua filha pode magoar-se Robert. - disse-lhe. - E tu não ias aguentar se ela se magoasse, pois não?
- O que queres em troca pela vida da Jane? - perguntou-me.
Nesse momento a mãe de Jane veio ao nosso encontro - Jane!
- Quero a tua morte Robert! - exclamou Black Diamond. - Sntes a tua que a dela, não é?
- Larga a minha filha, já!
Retirei a minha arma e apontei à cabeça da criança, mas senti uma outra arma apontada para mim. Ao virar-me, Jane bateu no meu braço e eu acabei por deixar cair a arma e largar Jane.
A mãe agarrou a filha e Robert pegou na arma e apontou-a para mim.
- Obrigada Thomas!
- Que destino vai ter este homem Robert? - perguntou-lhe.
- O que merece!
No momento em que se preparavam para me matar, houve uma explosão e graças ao fumo consegui fugir. Tinha conseguido metade do que queria. Não tirei a vida a Robert, mas ameacei a mais importante para ele.



Quando Black Diamond concluiu, lembrei-me vagamente desse episódio da minha vida. Toda aquela fascinação por ser pirata quase que me tirou a vida. O meu pai e o Sr. Thomas salvaram-me, e desta vez eu não tinha o meu pai e o Sr. Thomas estava nas celas do navio.
- Precisas de pensar, não é Jane? - perguntou-me irónicamente. - Por seres uma senhora, tens o privilégio de ficar numa cela sozinha!
- Deixem o Jack noutra cela sozinho. - ordenou. - Se o colocarem ao pé dos outros acaba morto, e eu ainda preciso de ele vivo!
Os piratas levantaram-me e dirigiram-se comigo às celas.
- Ah e Jane, esta será a última noite que passarás na cela, as outras vais passá-las comigo no meu camarote. - avisou-me Black Diamond.
Com a repugnância e o nojo que eu tinha dele nem lhe respondi. Precisava urgentemente de um plano para escapar disto com vida.