Deixem a vossa marquinha *.*

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Capítulo 7 - Mistérios do passado

Basta um segundo para que a nossa vida mude para sempre. Basta um olhar, um sorriso, uma lágrima. Basta uma palavra que mude a corrente da nossa vida e que o nosso destino mude. Acredito num destino, em algo que nos esteja destinado e que outrora fora traçado por alguém. Mas também acredito que qualquer ser é capaz de mudar o seu rumo e criar o seu próprio destino. Foram estas as palavras do meu pai ao escolher o nome do seu navio, relatou o Sr. Thomas. Por respeito à sua memória é que mantive o nome do navio do meu pai, que agora era meu por direito, e um dia seria de Robin. Recordava as palavras do meu pai com alegria no coração. Tantos anos que ele se dedicou à marinha real, e hoje tudo na minha vida vai contra esses princípios. Se tivesse nascido rapaz, o meu pai ter-se-ia orgulhado de me ver a servir a marinha real. Esse teria sido o meu destino. No entanto, parece que algo o mudou.
O Destiny navegava sobre as águas pacíficas do atlântico. Estranhamente pacíficas, uma vez que a marinha real começava a sua época de ouro. A pirataria estava em risco e quem fosse apanhado enfrentaria a forca. O meu plano era aportar em Londres e começar de novo. Mas quem sou eu para idealizar planos se eles acabam por se realizar de outra forma? O meu navio não hasteava uma bandeira pirata, nem tanto uma bandeira da marinha real. Segundo Marcus estavamos no lado neutro. Como se fossemos uma simples família a navegar sobre os sete mares para trocar especiarias entre países.
Há meses aportamos numa pequena cidade junto à costa africana norte. Uma zona não muito segura, na qual civilizações estavam ainda em construção, daí o termo de "pequena cidade". Tal como nós, alguém estava a começardo zero, a diferença é que todos aqueles homens, mulheres e crianças, tinham o seu destino traçado num papel, numa assinatura que os tornava de alguém. Lyeel e eu consaeguimos trocar alguns objectos de valor por mantimentos que nos favorecessem condições para algum tempo. Nesse momento reavaliei a minha posição. Em relação a todos aqueles escravos eu era livre. O meu filho era livre, podia sorrir e gritar sem que estivesse acorrentado. Por isso, o melhor sítio que poderíamos estar era sem dúvida a bordo do Destiny...


[Narrado por Jack]
Melhores dias vieram. Passados anos eu era marinheiro servidor da marinha real africana, aliada à marinha real inglesa. O pai de Sesha considerou-me um potêncial "servidor dos mares", como mencionava frequentemente. Estranhamente, conquistei a confiança de um homem do que era habitual. Devo revelar que não usei nehuma das minhas técnicas de engate em relação a Sesha.Simplesmente rendeu-se aos meus encantos. Passados três anos, organizei a minha vida e decidi agarrar com força esta oportunidade que me salvaria da forca, tendo protecção e abrigo em casa de Sesha, que recentemente se tornara minha noiva.

Servir a marinha real não era somente navegar pelos mares em busca e piratas ou tiranos. Havia que proteger a cidade e a população de possíveis guerras. Certo dia, coube-me a mim tratar de registos no escritório. Analisei sentenças de homens associados à pirataria que seriam enforcados brevemente. Casos como eu, homens que se dedicaram à arte do roubo nos mares e que pagariam por isso.
- Jack?
- Sim, meu comandante? - perguntei.
- Estão aqui alguns registos que preciso que entregues ao capitão. São antigos, mas ele saberá o que fazer com eles. - ordenou-me o meu superior, de nome Charles Castro.
O papel estava empoeirado e a caligrafia era quase imperceptível. Levantei-me da cadeira, peguei nos registos e dirigi-me até ao porto, onde se encontrava o capitão Joseph. Pelo caminho folheie-os não por curiosidade de os ler, mas sim por ter a oportunidade de tocar naquela espécie de pergaminho tão usual da marinha. De repente fui contra um comerciante e deixei-os cair no chão. Ao apanhá-los reparei num nome que não me era estranho. A caligafia era de um comandante da marinha de nome Robert Deverport. Era uma sentença de morte contra alguém. Antes de ler o que quer que fosse, o meu único pensamento era dirigido a Jane. Robert Deverport era pai de Jane. De uma forma súbita, a ligação entre Robert Deverport e o pai de Sesha fez-me sentido. Faltava-me perceber a quem pertencia a sentença de morte, registada e assinada por Robert Deverport. Antes que pudesse ler alguma coisa, fui visto por Joseph que o chamou.
- Capitão! - cumprimentou Jack. - O tenente Castro pediu-me que lhe entregasse isto.
- Obrigada Jack. - respondeu-me. - Podes ir agora para casa, o sol já se está a pôr.
Uma curiosidade inexplicável estava a apoderar-se de mim, e queria ter um conhecimento abrangente sobre o pai de Jane. E não iria descansar até matar esta minha curiosidade. Resolvi esperar até que todos regressassem a casa para ir remexer nos artigos. Sabia onde o capitão guardava todos os registos dos condenados e comecei por aí. Coloquei a vela acessa em cima da secretária e abri o armário onde todas as informações da cidade estavam guardadas. Sabia que os registos que eu trouxera foram os últimos a serem arquivados. Depois de procurar anciosamente, descobri a sentença de morte assinada e autorizada por Robert Deverport. Peguei na vela para que conseguisse desdobrar o que estava escrito e ao ler o nome do condenado a vela escorregou-me das mãos e apagou-se...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Capítulo 6 - Regresso ao Mar

Todos os gritos, todo o suor, todas as lágrimas valeram a pena quando finalmente o meu bebé estava nos meus braços. Era simplesmente lindo. Mal o vi, reconheci traços físicos de Jack. Não conseguia parar de chorar, desejando com todas as minhas forças que Jack estivesse ao meu lado e pudesse segurar o seu pequenino, tal como eu o segurei. Nunca na vida pensei em formar uma família, o meu único objectivo era sobreviver, procurando aventuras, mas no fundo queria poder partilhar tudo isso com alguém. Jill lavou o meu bebé e enrolou-o numa manta quentinha feita pela minha mãe, e depois eu pude finalmente segurá-lo. Era perfeito. O seu nome? Robin Deverport.
Passava os dias inteiros a vê-lo dormir e a apreciar a sua beleza. Como era possível existir um bebé tão bonito e tão frágil. Ele estava deitado no berço que outrora fora meu e dormiu horas seguidas. O Sr. Thomas emocionou-se a primeira vez que o viu. Tanto que eu desejei que ambos os meus pais tivessem tido a mesma oportunidade que o Sr. Thomas teve. Segurar em Robin, acariciando a sua cabecinha frágil e sentir o seu cheiro. Passado um mês, ia todas as tardes mais o Robin para a praia, observar o Destiny.
- Um dia voltaremos para lá! - exclamei, aconchegando o meu tesouro para junto de mim. - Ele pode não estar aqui Robin, mas tenho esperança que um dia o conheças...
O meu filho começou a mostrar a sua independência assim que começou a andar. Queria ir para todo o lado e nem sempre me pedia para o seguir. Era mesmo parecido comigo e com Jack nesse aspecto, procurava aventura e coisas novas. Com o passar dos meses, Robin começou a ter a noção do perigo e do medo. Ensinei-o a nadar no rio que ficava junto de casa. Aos três anos falava com uma sabedoria invulgar e era dotado de uma perspicácia enorme. «Educámo-lo bem Jane!» dizia-me o Sr. Thomas. Levava Robin muitas vezes às campas dos meus pais e contava-lhe imensas histórias. O pequenino sempre as escutara com muita atenção.

Estava noite de lua cheia. Jamais na minha vida vou conseguir esquecer esta noite que mudou as nossas vidas! Robin adormecera na minha cama. Finalmente adormecera depois de um dia inteiro a brincar. Tentava adormecer, mas algo me dizia para não o fazer, para ficar a tomar conta dele. Levantei-me da cama e andei pelo quarto tentando libertar-me deste peso que me impedia de fechar os olhos. Observava a chama acesa da vela ao mesmo tempo que o quarto era iluminado pelo luar. De repente comecei a ouvir ruídos vindos de fora e observava um enorme clarão a aproximar-se. Exaltada, peguei em Robin e saí do quarto. Entrei no quarto de Lyeel e expliquei-lhe o que se passava. Ele tentou acalmar-me, fondo acordar o Sr. Thomas e Marcus. Robin acordou e começou a chorar. Acalmei-o, tentando eu própria manter a calma e cantei-lhe a canção pirata que o meu pai me ensinara.

Jill subira as escadas a correr a chorar num acto de desespero gritando «colónias», «guerra». Jill quando se encontrava assim, pronunciava termos africanos próprios dos povos nativos, os quais eu desconhecia. Lyeel agarrou-me no braço e tirou-me dali.
- Lyeel, eu não parto sem eles! - exclamei.
Um pau de madeira incendiado partiu uma das vidraças principais, incendiando as cortinas.
- É por isso que temos de sair daqui! - gritou Lyeel protegendo-me a mim e a Robin.
- A casa dos meus pais! - exclamei eu a chorar. O Sr. Thomas, Marcus e Jill desceram as escadas e dirigimo-nos todos para a cozinha. Protegia Robin do fumo que invadira a casa. Marcus e Lyeel foram à nossa frente, verificando que ninguém se encontrava na porta das trazeiras.
- Marcus leva a Jane, o Robin e a Jill para a praia. - ordenou Lyeel. - Eu e o Sr. Thomas vamos lá ter depois.
- Não! - exclamei. - Eu não consigo ver tudo o que os meus antepassados construíram a cair nas mãos de colonos! - lágrimas de raiva e frustração invadiram a minha face.
- Jane! - Lyeel agarrou-me. - Vais ter de votlar para o Destiny. Desta vez não tens escolha!
Olhei Lyeel nos olhos e assenti, pegando novamente em Robin e corremos para a praia. Felizmente nenhum dos colonos nos perseguiu. Tinhamos sorte de estar maré cheia, o que possibilitaria a nossa fuga. Ao chegarmos à praia, Jill segurou no meu pequeno e eu e Marcus subimos a bordo do Destiny preparando-o para a partida. Olhei para trás e uma nuvem de fumo estava a invadir a praia. As poucas casas vizinhas que ali se encontravam estavam também a arder. Marcus ajudou Jill e Robin a subir para o navio, enquanto eu tinha o coração nas mãos sem saber de Lyeel e de Sr. Thomas.
Robin chorava e tossia devido ao fumo. Abri a porta do meu camarote e deitei-no na minha rede. Jill acompanhou-me e ficou com Robin. Regressei ao Destiny e reparei que Lyeel e o Sr. Thomas corriam sobre o areal até ao Destiny. Minutos depois ambos se encontravam em segurança. O Sr. Thomas abraçou-me com força.
- Aqueles sacanas tiveram o que mereceram! - afirmou.
- Mas isso não trás a minha casa nem a minhas vida de volta! - disse agressivamente, chorando a seguir. - Sr. Thomas, o Robin não está seguro na terra, nem seguro no mar! O mais importante na minha vida é ele.
- Jane! - gritou o Sr. Thomas, fazendo-me parar de chorar. - O Robin está contigo, está a salvo. Não´há mais nada a fazer Jane, agora ele pertence ao navio.
- Ele sempre pertenceu Sr. Thomas. - esclareci. - Eu apenas quero a segurança dele.
- E vai estar seguro. - confortou-me o Sr. Thomas. - O mar agora é um lugar calmo e é um porto seguro.
Nessa noite, não houve ordens minhas em relação ao destino. Sobreviver era o essencial. Até encontrar um porto seguro para Robin não ia descansar, mas apenas deixei-me adormecer agarrada ao meu tesouro...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Capítulo 5 - Vidas diferentes

[Narrado por Jack]
Passados dois dias estava novamente em forma e sentia-me muito melhor. A febre passou e recuperei depois de ter passado tanto tempo sem comer. Verdade seja dita que fui tratado como um rei nesta casa. E que casa! Assim que me vi livre da cama, fui explorar a zona onde me encontrava. Era uma casa demasiado grande para uma família de três, tirando os criados é claro. Sesha fazia-me companhia durante o dia. Claro que gostava de ter os meus momentos a sós e durante esse tempo pensava muito em Jane. Queria ter a certeza se estava viva e de saúde. Certamente estava melhor sem mim. Só lhe traria mais sofrimento e desilusão e senti-me bem onde estava. Numa ilha em construção, onde fui bem recebido por todos. Sentia-me em paz, e desejei que pudesse um dia chamar lar a esta ilha.
O pai de Sesha, o Capitão Joseph, regressara a casa depois de uma longa jornada em alto mar. Assim que chegou ao porto, Sesha correu para os seus braços e segredou-lhe aos ouvidos sobre mim. Achei uma atitude mimada por parte dela, esboçando um sorriso de como se eu tratasse de um prémio seu. Joseph preferiu esboçar o seu sorriso simpático horas depois de me ter conhecido. Estávamos sentados no grande salão, iluminados pela luz vinda da lareira.
- Diz-me Jack, de que navio vieste? - perguntou-me.
- Destiny... - respondi-lhe pensando se seria o mais correcto dizer-lhe a verdade.
- Há meses que não tenho notícias do paradeiro desse navio. - afirmou Joseph coçando a barba. - Ouvi rumores de que o Capitão Robert Deverport tinha falecido em alto mar.
Ao ouvir o nome do pai de Jane tomei mais atenção. Seria possível que Joseph conhecesse Jane?
- Fora um bom homem... - disse eu.
- Em tempos fizemos parte da mesma tripulação. - contou. - Mas depois tomámos caminhos diferentes. Apesar de ingressarmos ambos na marinha real africana, cada um seguiu o seu caminho. - Joseph fez uma pausa para acender o seu cachimbo. - Ele casou e ouvi dizer que teve uma filha, e eu acabei por constituir familia também. - Joseph conhecia Jane. Estranha coincidência, mas acreditei que nunca imaginara que Joseph tivesse conhecimento do rumo que a vida de Jane tomou após a morte do pai, mas esse seria um capítulo que seria enterrado comigo, o mesmo se aplicaria à minha vida inteira. Podia correr o risco de ser enforcado nesta mesma ilha ou ser mandado para o exílio.
Sesha entrou no salão e foi a correr para junto do pai colocando-se sobre os ombros deste. - Papá deixe o Jack descansar. - pediu. - Tem muito tempo para lhe contar as suas aventuras em alto mar e a capturar piratas e tirar-lhes a vida.
- Este rapaz se ingressar na marinha real é o que ele vai fazer da vida! - exclamou. - Nada melhor que servir Inglaterra! Em troca as nossas ilhas estão protegidas. - informou. - A era da pirataria tem os dias contados. Esses diabos de alma serão todos punidos e enforcados. - as palavras do pai de Sesha assustavam-me cada vez mais. Era um risco de morte estar na mesma casa que ele. Só vi duas soluções para a minha vida. Ou levava o resto dos meus dias a fugir, ou ingressava de facto marinha real, e dias depois tomei a minha decisão.

***

[Narrado por Jane]

Adorava ver o pôr-do-sol junto ao rio. Há semanas que o fazia. Durante toda a minha vida falava da beleza natural da minha terra, mas nunca a vira por completo. Ver o sol a reflectir-se por cima das árvores era deslumbrante. Qualquer um que amasse África como eu amava iria sentir o mesmo. A minha barriga crescia a cada semana que passava. Era a minha rotina vir todos os dias ao pôr-do-sol sentar-me sobre a terra e molhar os pés. Queria que o meu bebé estivesse a ambientar-se a este ambiente, pois tencionava ficar por cá durante anos, e vê-lo crescer como os meus pais, o Sr. Thomas e Jill me viram. Ele iria ter uma família. Segundo Jill faltavam apenas dois meses para o bebé nascer. Começava a ficar anciosa. Era uma sensação nova para mim, iria ter uma vida nas minhas mãos, mas felizmente já não me sentia sozinha. Tinha as melhores pessoas do mundo a ajudarem-me e do meu lado.
Assim que a luz do sol se pôs voltei para casa. O Sr. Thomas e Lyeel estavam no salão. Estranhei a ausência de Jill, pois esta sempre esperara por mim.
- Onde está a Jill? - perguntei.
- Saiu ao início da tarde e ainda não voltou. - respondeu-me o Sr. Thomas.
Antes que eu pudesse responder Jill entrou sobressaltada na sala, mas assim que reparou na minha presença tentou mudar de atitude.
- Que aconteceu Jill? - perguntei.
- Nada de mais. - respondeu-me bastante nervosa.
- Jill! - exclamei. - Exigo que me contes o que é que se passa. - pedi-lhe.
- Eu não queria dizer-lhe, devido ao seu estado menina. - começou por dizer, soluçando. - Mas ouvi rumores de que as colónias vizinhas preparam uma revolução.
O Sr. Thomas e Lyeel aproximaram-se de mim.
- Uma revolução? - perguntei-lhe.
- A nossa é das poucas colónias independentes, e receio que a revolução chegue aqui...
- Acalme-se Jill! - pediu o Sr. Thomas tranquilizando-a. - Não corremos perigo nenhum aqui.
Se corríamos perigo ou não eu não tinha a certeza. A minh única certeza era de que tinha de proteger o meu filho de tudo no mundo.