Deixem a vossa marquinha *.*

domingo, 10 de julho de 2011

Capítulo 21 - Juntos sob as estrelas

Voltámos para junto dos outros marinheiros. Tínhamos de ser discretos entre a multidão. Contudo, os nossos olhares eram cúmplices. Eu olhava para Jack e só me dava vontade de ir com ele para longe. Sentia-me de novo a jovem apaixonada e desejava tê-lo, e conhecendo o seu olhar, sabia que ele queria o mesmo. Mais que tudo desejava dar uma família a Robin, como sempre desejei e como sempre ele mereceu. Jack devia-lhe isso. E também a mim. Jack ajudou-me a transportar o barril de água até à praia. Robin entretera-se com umas tartarugas marinhas que deram à costa. Estava sentado à beira-mar a observá-las. Sorri ao vê-lo. Porém, o meu sorriso desvaneceu quando me apercebi que outro olhar o observava. Era o capitão Charles que o observava fixamente e isso remexeu comigo. O meu instinto de mãe alertou-me e eu não suportava ver Robin em perigo. Eu e Jack poisamos o barril e eu fui ao encontro do capitão. Robin estava cativado com as tartarugas que nem prestou atenção à presença do capitão.

- Afaste-se dele! - avisei.
- Tanta preocupação menina Deverport... - afirmou virando-se para mim.
- Pensei que tivesse permanecido no seu navio...
- Não é a única que gosta de pisar terra, menina Deverport! - exclamou sarcasticamente. - Esta criança é adorável.
- Deixe o Robin em paz ou mato-o a si com as minhas próprias mãos! - ameacei. Não era uma ameaça qualquer. As minhas palavras descreviam perfeitamente a minha raiva e a minha ira por aquele capitão. Se ele ousasse tocar com um simples dedo no meu filho eu era capaz de lhe arrancar os olhos com as minhas unhas. - Ele sorriu-me sarcasticamente e preparava-se para avançar, mas eu impedi-lo. - Não ouse sequer tocar-lhe! Ou terá de ver o que eu realmente sou capaz!
Ele sorriu achando que o meu tom era apenas uma farsa. - As voltas e os modos que a vida dá! - exclamou. - Fostes uma menina de classe alta, que recebeu a melhor das educações, e agora ameaçais-me matar Jane! - disse aproximando-se de mim. - O mar mudou-te por completo. - fez uma pausa. - Não devia ser tão agressiva menina Deverport, os homens não estão habituados á fúria de uma mulher, e esse facto ainda se pode virar contra si. - finalizou, virando-me as costas e dirigiu-se para um dos botes. A sua personalidade revoltava-me. Achava-se superior a todos os homens que pisavam o mesmo chão que ele. Desfavorecia constantemente as mulheres, o que me deixava ainda mais constrangida. Este pesadelo iria terminar em breve e queria ser eu a dar-lhe um ponto final.
- Jane não desafies o capitão! - exclamou Jack.
- Se ele toca no Robin eu mato-o! - gritei. Apercebendo-me da atenção que tinha dado, atenuei o meu tom de voz. - Ele está a preparar alguma coisa Jack. - afirmei. - Eu tenho medo que ele use o Robin contra nós!
- Jane! - exclamou Jack pondo as suas mãos nos meus ombros. - Eu nunca permitirei que ele vos faça mal. - assentiu. - Vocês são a minha vida, e eu não suportaria perder-vos aos dois, outra vez.
As palavras de Jack conseguiram tranquilizar-me um pouco. Robin aproximou-se de nós com uma das tartarugas na mão.
- Posso levar uma comigo? - perguntou Robin.
Jack baixou-se, ficando do seu nível. - Porque não as devolvemos ao seu verdadeiro lar? - perguntou.
- Eu só queria um companheiro para mim. - suspirou Robin.
- Um companheiro? - perguntei.
- Um animal só meu. - esclareceu.
- Robin, se levares a tartaruga ela acabará por morrer. - expliquei. - O lugar dela é aqui.
Robin ficou pensativo, mas depois sorriu compreensivamente.
- Agora vamos voltar para o navio. - disse Jack pegando-lhe ao colo e correram ambos até aos botes.
Olhei para o navio. Vinha luz do interior do navio. O jantar estaria pronto a ser servido. Não tinha fome sequer, mas o senhor Thomas obrigava-me a comer. Dizia que eu tinha de ter forças para enfrentar cada dia que passava. Peguei num dos caixotes que tinha junto dos meus pés e coloquei-o no bote, sentando-me de seguida esperando que rumássemos de volta ao navio. Olhei para trás e vi a ilha a desvanecer, perguntando-me qual seria a próxima vez que pisaria terra novamente.

(...)

Era noite cerrada. O navio estava à escura. A única luz que tinha era a luz das estrelas que cobriam aquela escuridão. Estava deitada numa das camas de rede no interior do navio e estava sem sono. Robin dormia profundamente ao meu lado, assim como o resto da tripulação. Durante os últimos tempos, tive de aprender a partilhar o mesmo espaço que dezenas de homens. A certas alturas tornava-se mesmo insuportável e saia dali, ficando sentada nas escadas do convés. Tentei fechar os olhos, forçando o sono a vir. De repente uma luz surgiu vinda do fundo das escadas. S vela brilhava e a cera derretia. Era Jack. Aproximou-se da minha cama e baixou-se.
- Vem comigo. - pediu-me.
A luz da vela iluminava o seu rosto. Os seus olhos castanhos pareciam pretos e o seu rosto transpareceu uma tonalidade mais morena. Assenti que sim na cabeça e silenciosamente saí da minha cama. Caminhei calmamente para que a madeira não chiasse e dirigi-me ao convés com Jack. O seu ar estava misterioso e ao mesmo tempo sedutor. O convés estava silencioso e nenhum marinheiro se encontrava caído com uma garrafa vazia ao lado. Depois apercebi-me de que este navio era da marinha real, e não um navio pirata como o meu. Jack encaminhou-me até ao rebordo do navio e iluminou um dos botes que estavam amarrados.
- Esta noite não tens de ficar sozinha. - disse-me. - Eu estou aqui contigo!
Entrámos os dois no bote e Jack colocou a vela por cima de um dos tacos de madeira.
- Não precisamos dela. - disse soprando para a chama da vela. - Olha para o céu. Deitei-me encostada a Jack e ambos observámos as estrelas. Entrelaçamos as mãos e deixámo-nos estar ali abraçados um ao outro, deixando-os envolver pela magia do céu e pela melodia das ondas do mar.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Capítulo 20 - Tudo volta ao início

Passados minutos ancorámos. O capitão Charles ordenou que os botes fossem preparados para desembarcarmos. Eu fui até ao interior do navio buscar o meu colete, a minha espada e cordas. Enrolei-as à volta da minha cintura e apanhei o cabelo prendendo-o com um gancho. Coloquei a minha mão no bolso esquerdo do colete e surpreendemente retirei de lá a faca que o Sr. Thomas me oferecera como presente num dos meus aniversários. As minhas iniciais gravadas. Durante segundos entrei no mundo das recordações. Lembro-me desse aniversário. Estava a bordo do Destiny há muito pouco tempo e conhecera Jack recentemente. A mesma faca que eu utilizei para me defender do corsário que me tentara fazer mal. A faca que derrubou aquele sangue. Derrubaria muito mais? Coloquei-a de volta no bolso e voltei ao convés.
Robin estava exaltado ao ver tanta confusão ao seu redor. Era a primeira vez que pisariamos terra desde que embarcámos. Aproximei-me do meu filho e coloquei a minha mão no seu ombro.

- Robin, estás pronto para ir? - perguntei-lhe.
- Sim Jane. - respondeu-me.
Beijei-o na face e de seguida abracei-o. Ajeitei-lhe o colete e o chapéu. Dei-lhe a mão e dirigimo-nos para junto de Lyeel, Sr. Thomas e Marcus.
- Menina Deverport? - chamou-me o capitão Charles.
Disse a Robin para ficar ali e aproximei-me do capitão.
- Admiro a sua capacidade de liderança Jane! - exclamou o capitão Charles. Não se tratava de um elogio, mas sim de palavras com outro sentido.
- O que é que tenciona com isto? - perguntei-lhe.
- Herdou essa perspicácia toda do seu pai! - afirmou.
- Eu já lhe pedi para não mencionar o meu pai! - exigi.
- Nós os dois menina Deverport poderíamos governar este e o outro mundo! - exclamou.
- Eu tenho o meu navio, a minha tripulação e a minha vida! - respondi-lhe. - Não tenciono abdicar disso por uma vida ao seu lado! - a sua expressão não era de ódio, mas feições não eram as mais simpáticas. - Não pense que pode fazer chantagem comigo! - disse-lhe virando-lhe as costas. Notei que Lyeel nos tivera a observar de longe. O Sr. Thomas, Robin e Marcus já estavam no bote e antes de eu descer as escadas Lyeel puxou o meu braço.
- Está tudo bem Jane? - perguntou-me.
- Sim, está. - menti. - Obrigada Lyeel.
- Jane?
- Eu só quero que isto acabe Lyeel! - exclamei, passando para fora do navio para descer as escadas. Lyeel veio a seguir. Sentei-me na estaca de madeira e esperei que chegássemos até terra. Coloquei a mão novamente no bolso para sentir a faca. Com ela sentia-me mais protegida, e se fosse preciso derramar sangue para me proteger, fa-lo-ia. O nosso bote avançou primeiro, olhei para trás e Jack com o resto da tripulação vinham noutro bote. Virei-me para a frente e observei a ilha. Não havia sinal de habitação, era de certo uma ilha desabitada. Não havia fumo de pudesse evidenciar uma fogueira. Para nosso bem era bom que assim fosse.
Quando o bote embateu na areia, saltei cá para fora e sorri por pisar novamente solo firme. Descalcei as minhas botas para sentir a areia molhada nos meus pés. Coloquei as botas no bote e andei. O sol já se tinha posto e o luar começou a espreitar. Eu peguei no pau de madeira incendiado para poder iluminar o cenário à minha volta. Ordenei aos meus homens que se espalhassem pela ilha, tendo indicado a Robin que não se afastasse de Thomas. O bote de Jack aportou de seguida. Ele saiu e veio na minha direcção. Vinha com um sorriso atrevido, por isso daquela boca não ia sair coisa boa.
- Nunca pensei em voltar a uma ilha destas comtigo! - exclamou.
Sorri com o seu comentário. - Desta vez não naufragámos e estamos acompanhados! - acrescentei.
- Olha o que deu termo-nos embebedado da última vez! - exclamou e ambos olhámos para Robin.
Meditei sobre tudo o que já tinha acontecido desde aquela noite até hoje. Em momento algum, após o nascimento de Robin me arrependi de ter dormido com Jack.
- Por ele valeu a pena. - disse suspirando.
- Sabíamos o que estávamos a fazer, apesar do efeito da bebida? - perguntou Jack.
A sua questão fez-me sorrir. - Não culpes a bebida Jack Nilton! - exclamei. Jack respondeu ao meu sorriso e piscou-me o olho. Juntamo-nos aos restantes tripulantes que recolhiam os mantimentos. Lyeel transportou uma enorme caixa de mantimentos e colocou-a dentro do bote. Eu, Jack e outros marinheiros fomos tentar procurar água. A ilha era silenciosa, e como era de noite os barulhos da Natureza estavam adormecidos. Iluminei o caminho em frente e deparei-me com um ribeiro. Jack abaixou-se, colocou um dos dedos dentro de água e depois levou-o à boca.
- Sim, é potável. - confirmou Jack, dando indicações aos homens para abastecerem os barris. Enquanto isso, Jack pediu-me que o acompanhasse até um pouco longe dos homens. Parámos e Jack segurou no pau de madeira que nos iluminava. - Isto deve estar pesado. - disse.
- Portanto, só agora é que te lembras de ser cavalheiro e de pegares nisso! - reclamei.
- Tu gostas de guiar a expedição, e por isso deixei-te com isso! - respondeu.
- Porque me trouxeste até aqui? - perguntei-lhe.
- Para poder fazer isto. - respondeu-me beijando-me. Nesse momento foi como um fogo nos iluminasse. Entrei numa máquina do tempo e recuei ao dia em que o vi peloa primeira vez e depois ao dia em que nos beijámos pela primeira vez. Porque tudo volta ao início. Tantos dias que eu esperei poder sentir os seus lábios junto dos meus. Jack com a sua mão disponível desprendeu-me o cabelo e aconchegou-me até ele. - Estamos nisto juntos tu e eu Jane!






[Peço desculpa a todos os meus seguidores pela demora, mas devido a tarefas escolares não consegui actualizar mais cedo]

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Capítulo 19 - Um erro de cálculo


O silêncio, a ausência das nossas palavras pode significar muita coisa. Pode significar surpresa, emoção, desilusão, tristeza e também choque. Robin ficou em silêncio durante minutos e minutos. Não o pressionei e dei-lhe espaço. Ele olhava para ochão e depois olhava para Jack com tristeza no olhar. A sua mão estava entrelaçada com a minha e ele apertou-a com força. Puxei-o carinhosamente para junto de mim e beijei-o na face.
- Robin, não importa os teus laços com o Jack...com o teu pai. – disse-lhe. – Nós estamos juntos nisto!
- Ele... – soluçou Robin. Pressionou os olhos para não chorar e olhou de novo para Jack. O meu filho não se deteve e caminhou até Jack.

[Narrado por Jack]

Vi-o a caminhar na minha direcção. Atravessou o convés inteiro e nunca retirou o seu olhar de mim. Não sabia o que lhe dizer nem do que falar com ele. Agora ele sabia dos laços de sangue que nos uniam.
- Porque é que te foste embora? – perguntou Robin calmamente. A sua pergunta não deixou surpreendido. O que me deixou espantado foi o tom com que me abordou. E era perfeitamente compreensível que ele quisesse saber a verdade dita por mim.
- Robin, a tua mãe era a pessoa mais importante na minha vida naquela altura... – ressenti-me, pois Jane continuava a ter uma grande importância na minha vida. – E eu só iria magoá-la mais se ficasse no Destiny.
- A mãe nunca me falou de ti, até hoje. – disse timidamente.
- Eu teria feito a mesma coisa. Para quê alimentar esperanças de ver uma pessoa que nem sabemos se está viva. Eu passei a ser um fantasma na memória dela. Um fantasma adormecido...
- Ainda a amas? – interrompeu-me. E esta pergunta sim, deixou-me surpreso. O olhar de Robin penetrava o meu, o que me deu a entender que esta resposta ele queria mesmo saber.
- Robin...
- Jack, a resposta é sim ou não! – exclamou determinado e seguro. – Porque é que os adultos complicam tanto o que é simples?

[Narrado por Jane]

Robin olhava fixamente para Jack. Fora uma grande descoberta para ele, mas mais tarde ou mais cedo tinha de saber a verdade. Jack abaixou-se e ficou da altura de Robin. Este olhou-o nos olhos e soluçou de novo. Num acto quase instintivo Robin agarrou-se a Jack a chorar, pondo-me também a mim a chorar. Jack correspondeu ao abraço e beijou-o numa das faces. Limpei as minhas lágrimas e contemplei aquela maravilhosa entre pai e filho. No meu subconsciente sempre quis que este momento acontecesse, que os dois se conhecessem um dia. Robin merecia isso, e Jack merecia tê-lo como filho. Aproximei-me de ambos. Robin continuava a abraçar Jack com força.
- Nunca mais te vou abandonar Robin! – prometeu Jack ajeitando-lhe o chapéu de pirata. – Estou ancioso por passar o resto da minha vida ao teu lado, a ver-te crescer. – disse Jack. – Quero estar cá para te ouvi dizer que deste o teu primeiro beijo, para me contares da tua primeira bebedeira, da tua...
- Jack! – interrompi-o. – Eu estou aqui! – exclamei.
- Vai-te habituando morena! – exclamou. As suas palavras recordaram-me o antigo Jack. O irónico, sedutor e provocador Jack Nilton de há anos. O brilho no olhar era o mesmo, porém desta vez era um brilho maior. Robin preenchera os espaços vazios na vida de Jack. Desde que soubera que tinha um filho, Jack mudara. Apesar de todas as complicações com a marinha real, Jack voltara a sorrir como dantes, o seu olhar fixava-se em Robin em bastantes alturas.
Jack levantou-se e sorriu-me. Abraçou Robin uma vez mais e depois deixou-o ir brincar. Olhei para Jack e notei que este estava feliz por ter Robin na sua vida. Jack olhou de seguida para mim e pegou na minha mão. – Agora sim Jane, sinto-me completo. – Sorri-lhe e acariciei-lhe a mão. – Será que nós também vamos ter uma nova oportunidade Jane? – perguntou-me.
- Talvez, um dia... – respondi-lhe. – O tempo é incerto, e agora quero que a missão acabe para regressar ao Destiny.
- Eu espero que o tempo nos dê essa oportunidade. – afirmou Jack largando a minha mão a afastou-se.
(...)
Era o pôr-do-sol. Era a minha altura favorita do dia.Estava no convés, com os cotovelos pousados na berma do navio, suportando o peso do meu rosto. Eu contemplava o oceano. Um oceano nunca antes navegado pelo Destiny, um mar de perdição, um lugar belo e mágico, e ao mesmo tempo tentador, porque o que é desconhecido é tentador para cada homem. Desejava aproximar-me da costa e poder pisar o areal novamente.Nesse dia estava vento, e com o vento esvoaçavam várias partículas e pós. Plumas de umas flores próprias da mata tinham uma cor quase transparente, e cada vez que lhe tocávamos separava-se em pequenas partes. Um pedaço desse veio parar ao meu rosto e delicadamente retirei-o com a mão. Supreendi-me, pois já há muito tempo que não via tal coisa. Remexi com os dedos e aquilo desfazia-se cada vez mais.
Lyeel informou-me que me esperavam no camarote do capitão Charles, onde todo o concelho da marinha real estava reunido. Virei-me e pedi-lhe que fosse andando, pois já iria ao seu encontro. Olhei de novo para o oceano e de seguida para a minha pluma. Atirei-a para o mar e deixei-a voar como o vento. Uma pequena porção de flor voava livremente, e essa era a liberdade que eu não voltaria a ter enquanto todos estes problemas estivessem resolvidos. Caminhei em direcção ao camarote do capitão. Abri a porta e todos olharam na minha direcção. Agarrei os meus cabelos, que ondulavam com o vento e fechei a porta. Jack olhou de relance para mim, mas ao notar que o capitão Charles o observava, desviou o olhar.
Mapas foram estendidos por cima da mesa de madeira. A luz do sol desaparecera, pelo que velas foram acesas para iluminarem o camarote.
- Esta expedição está a demorar mais tempo do que eu previa! – suspirou o capitão.
- O meu pai sempre me dizia que quem espera, sempre alcança! – intervi.
- E o seu pai tinha toda a razão menina Deverport. – concordou sarcasticamente.
- Mas ele também me dizia que os prémios só se alcançam se o fizermos com dignidade, e não à custa de futilidades e de ambições! – finalizei. O capitão Charles pousou o candelabro em cima da mesa e aproximou-se de mim. Notei que Jack se preparava para me defender, mas o senhor Thomas impediu-o.
- Não tendes medo de nada, pois não Jane? – perguntou-me.
- E do que é que eu deveria de ter medo? – perguntei-lhe.
- Não brinque comigo Jane! – avisou-me. – Talvez devesse recear-me. – assentiu. –Não se esqueça da farda que uso.
- O verdadeiro valor dos homens não se mede pelo seu poder enquanto ser, mas sim pelas atitudes que tomam!
- Muito perspicaz... – afirmou olhando-me fixamente. – Não se esqueça que posso ser eu mesmo a colocar-lhe uma corda à volta desse seu lindo pescoço...
- E não se esqueça que as terras são minhas, e vocês dependem do meu consentimento para obeterem o que querem.
- Foi uma boa jogada, menina Deverport! – afirmou, afastando-se de mim, voltando para a mesa. Os mapas estavam assinalados com círculos nas ilhas mais próximas. Aproximei-me para observar.
- Pelos cálculos estamos a milhares de milhas de distância de qualquer solo firme. – disse um dos marinheiros.
Naquele momento lembrei-me da pluma que tivera na minha mão. Não havia espécies daquele género em alto-mar, teríamos de estar próximos de terra.
- Ou talvez – disse eu. – Podemos ter terra mais próxima do que imaginamos.
Os presentes estranharam a minha afirmação, mas um deles não se deteve e retirou a luneta de cima da cómoda dirigindo-se até ao convés. Eram os últimos raios de sol do dia e ele apressou-se para tentar observar. A luneta girou de um lado para o outro, até que se deteve num ponto fixo. O marinheiro baixou-a dando a confirmação de que estávamos perto de terra.
- Parece que se enganou nos cálculos, capitão! – exclamei, afastando-me dele. O seu olhar de repúdio perseguiu-me, mas eu contemplava a minha própria felicidade por saber que por momentos estaria fora deste navio e poderia sentir a areia debaixo dos meus pés.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Capítulo 18 - A Verdade

Uma vez mais deixava algo para trás. Durante anos da minha vida deixei pessoas, lugares e recordações para trás, sem nunca olhar de novo. O importante era seguir em frente. Mas era o navio do meu pai que ficara aportado naquela ilha. Só desejava que quando tudo isto terminasse, eu podesse voltar ao Destiny e finalmente seguir com a minha vida para a frente. Mas no momento eu só tinha certeza de uma coisa, uma missão tinha de ser cumprida, vidas estavam em risco, e um tesouro estava por descobrir. Naquela manhã, vi o Destiny a desaparecer pelo meio da nublina e aí sim, decidi não olhar mais para aquela ilha.
Assim que me virei reparei que o capitão Charles me olhava fixamente. Os seus olhos fixavam o meu rosto, à medida que se aproximava de mim.
- Espero que esteja confortável com o nosso navio! - exclamou.
- Com os seus olhos penetrados em mim, o conforto não é o melhor! - reclamei.
- Eu percebo a sua situação Jane. - disse. - Uma mulher que já passou por tanto, com um filho nos braços, ainda assim a arriscar a vida desta maneira.
- Dispenso as suas palavras capitão Charles! - exclamei. - Não lhe admito que refira a minha vida e muito menos o meu filho! - a maneira de ser deste homem, a maneira como olhava para mim deixava-me irritada e desconfortável. O meu sexto sentido alertava-me de que este homem era tudo menos um homem de confiança. - A única razão pela qual eu aceitei isto foi pelo Robin.
- A Jane sendo uma mulher tão bonita não deveria estar acompanhada pela sua tripulação. Porque não se junta a nós? - perguntou-me.
- Prefiro ficar com os meus homens, se não se importa! - respondi virando-lhe as costas. Senti o meu braço a ser agarrado. - Largue-me!
- A Jane não se encontra mais no seu navio. - ameaçou-me.
- Eu não tenho medo de si! - exclamei.
- Se quer ficar em segurança, é bom que as coisas sejam feitas como eu quero! - ordenou o capitão Charles.
- Eu não sou nenhuma prisioneira nem sua escrava! - protestei. - Eu sou uma mulher livre que não admite ser escrava de ninguém, muito menos de um homem como você! - retirei o braço e virei-lhe costas.

Atravessei o convés completamente revoltada. Os marinheiros exerciam as suas funções, e olharam para mim quando passei. Sentei-me debaixo das escadas e chorei. Tinha tanta coisa na cabeça, tanta responsabilidade. O Sr. Thomas sempre me disse que eu deveria de ser forte e levantar a cabeça e seguir em frente. Mas, todas as pessoas fortes acabam por ter o seu momento de fraqueza. Limpei as lágrimas e fechei os olhos por momentos. A imagem que via de olhos fechados era mágica e única. Eu estava no Destiny juntamente com Robin e navegávamos juntos ao pôr-do-sol de volta a África, onde começaríamos tudo de novo. Ao meu lado uma mão estendida pediu a minha. Eu sorri e entreguei-lhe a minha mão. Uma mão desconhecida que eu quera saber a quem pertencia.
- Jane acorda!
- Eu estou acordada Jack! - exclamei irritada.
- Um dos marinheiros contou-me o que aconteceu, estás bem? - perguntou-me.
- Claro que sim! - exclamei. - Jack, eu estou habituada a lidar com homens assim!
- Jane, vai tudo correr bem. - disse-me pegando cuidadosamente no meu braço para o massajar. - E quando tudo isto acabar, tu e o Robin podem voltar a ser uma família.
O toque das suas mãos era tão delicado e cuidadoso. Os seus dedos massajavam a pele do meu braço, tendo percorrendo até à minha mão. Os olhos de Jack cruzaram com os meus, mas Robin apareceu perguntando por mim. Retirei depressa a minha mão para que Robin não desconfiasse de nada. Indiquei-lhe que se sentasse ao meu colo e abracei-o. - Que se passa Jane? - perguntou-me.
- Nada meu anjo, está tudo bem! - garanti-lhe.
Jack sentou-se ao meu lado e endireitou o chapéu de Robin.
- Já viste o meu chapéu? - perguntou-me Robin. - Pareço um verdadeiro pirata!
Jack e eu sorrimos impulsivamente. - Acho que por agora é melhor seres um marinheiro! - afirmou Jack.
- Eu vou arranjar uma espada de madeira, e uma pala para pôr no olho. - disse Robin saltando no meu colo. A sua inocência por vezes era maravilhosa. A sua espontaneidade contagiava o meu coração e dava-me força e coragem para sorrir e abraçar a vida. Robin afastou-se de nós, tendo-se aproximado do Sr. Thomas.
- Ele é uma criança maravilhosa Jane! - exclamou Jack. - Todos os minutos eu arrependo-me de ter perdido todos estes anos. - escutei Jack atentmente. - Foi o medo que me fez afastar de ti, o facto de eu achar que merecias muito melhor do que eu te podia dar. - o arrependimento nos seus olhos era visivel.
- Jack, se o arrependimento matasse, já estarias morto há muito. - disse-lhe. - O bom dos nossos erros é que podemos aprender com eles, e fazer melhor daí em diante. - afirmei com sinceridade. - E o Robin merece que dês essa oportunidade a ti próprio, de fazeres melhor e que lutes por ele!
- Talvez essa oportunidade possa surgir connosco, morena. - afirmou Jack. - O Robin tem muita sorte em te ter por perto. - exclamou levantando-se e afastando-se de mim.
- Jack? - chamei-o. Ele olhou para trás. - O Robin merece saber a verdade, e eu vou contar-lhe. - informei-o. Jack assentiu com a cabeça e encorajou-me a fazê-lo. Preferi fazê-lo sozinha. Precisava de falar a sós com Robin e explicar-lhe tudo o que aconteceu. O meu medo de lhe contar a verdade aumentava a cada segundo. Iria ser muita coisa para Robin, mas eu fá-lo-ia de uma forma simples e verdadeira. Aproximi-me do Sr. Thomas pedi a Robin que viesse comigo e caminhámos os dois de volta as escadas...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Capítulo 17 - Início de uma nova viagem

Dois dias depois, ao seguir do romper da aurora, toda a tripulação estava reunida no porto, à espera das ordens para embarcar. Desta vez iria embarcar com uma tripulação bem diferente daquela a que fui habituada. Vestes da marinha real, bordadas pelas mulheres até ao mínimo detalhe. As perucas grandes que tapavam os poucos cabelos que muitos daqueles homens tinham. E ainda para mais aquela infinita quantidade de armas que cada um levava. Fez-me lembrar o Destiny na sua época de ouro, como o meu pai lhe chamava. O meu navio continuou aportado aqui e eu jurei a mim mesma, que eu dia voltaria para o recuperar.

Robin observava aquele movimento todo com bastante entusiasmo. Não estava habituado a tanta confusão de volta de um navio. Mostrava-se excitado por poder voltar novamente ao mar.
Eu encontrava-me junto aos cavalos da carruagem que nos trouxeram até ao porto. Eram cavalos lindos e com um pê-lo muito bem escovado. Animais tão meigos e que adoravam devorar cenouras e feno. Ontem passara o tempo junto dos estábulos, algo que nunca tinha feito, visto que passei grande parte da minha vida em alto-mar. De repente ouvi o barulho de sapatos de salto alto, e presumi que fosse Sesha. Estava correcta. Trajada de um vestido verde claro com rendas brancas. Fazia-se acompanhar de um leque devido ao calor daquela manhã.
- Boa sorte Jane! - exclamou Sesha. Estranhei o seu tom. O som estridente e espalhafatoso de que eu me habituara a ouvir desaparecera. Eram palavras sinceras.
- Obrigada Sesha. - agradeci.
- Eu sei que não nos aturamos uma à outra, por causa do Jack...mas eu sei que não deve ser fácil estar na tua situação. - disse aproximando-se de mim. - Sabes Jane, o Jack inconscientemente falava muitas vezes em ti. - estas últimas palavras de Sesha deixaram-me surpresa. - Sempre percebi que essa tal Jane tinha sido muito marcante na vida dele, mas nunca soube o quanto. - fez uma pausa e olhou-me nos olhos. - Agora entendo o porquê dele nunca ter consumado o nosso casamento.
- Sesha...
- Não digas nada Jane. - pediu. - O Jack é um homem muito independente. Ele só pode assentar com a mulher certa, e eu não sou essa mulher. - os seus olhos não estavam tristes, tinham esperança e confiança. - Bem, boa viagem Jane! - exclamou voltando ao seu tom exaltado. Notei que de seguida, Sesha aproximou-se de Jack.

[Narrado por Jack]
Sesha caminhava na minha direcção com a sua maneira de andar característica. Os seus passos mostravam a sua personalidade robusta e de classe alta. Durante os anos que passei ao lado de Sesha, pecebi que era uma mulher que gostava de exibir tudo o que possuía, incluindo-me.
- Então, é desta que nos despedimos a sério Jack? - perguntou ironicamente.
- Sabes que não sou de ficar num sítio por muito tempo. - respondi-lhe retribuindo a minha ironia.
- Vai custar-me ver-te partir. - disse. - Mas depressa arranjo outro pretendente! -exclamou.
- Tenho a certeza que sim. - concordei.
- Dá-me um abraço Jack! - pediu Sesha abraçando-me logo de seguida. - Se amas mesmo aquela piratinha que afirma ser tua "prima", não desistas dela. - aconselhou-me. Ela afastou-se de mim e não olhou para trás. Esta fora a última vez na vida que vira Sesha. Soube, mais tarde, que se casara com um bom partido e que herdara a fortuna do pai. Tudo o que ela sempre sonhou em toda a vida. Mas naquela manhã de calor era o início de uma longa viagem. Os nossos destinos estavam agora a tomar o seu rumo. Ninguém sabia o que ia acontecer, poderíamos voltar sem vida, poderíamos servir Inglaterra, como poderíamos servir apenas os nossos próprios interesses. O fim da viagem nem poderia ser previsto. O tempo era incerto, e os perigos desconhecidos. Vidas de marinheiros e de foras da lei estavam dependentes daquela a que era considerada a grande viagem do reino. Olhei para Jane e reparei que esta estava a ser escoltada para o navio. Robin estava sentado em cima de uma pedra a olhar para o mar. Tinha um chapéu na cabeça e com uma palha na boca. Aproximei-me dele.
- Preparado? - perguntei.
- Estou sempre! - respondeu-me com um sorriso. - A Jane diz que temos sempre de estar preparados para o futuro!
- E a Jane tem razão! - concordei. - Esta viagem vai ser um bocadinho diferente das que estás habituado Robin. - expliquei-lhe. O seu rosto iluminou-se com os raios de sol por olhar para cima. - Desta vez será uma viagem a sério, na qual a tua mãe terá uma grande responsabilidade.
- A minha mãe é a capitã do Destiny, ela é muito responsável. - afirmou.
- Eu sei. - respondi-lhe com um sorriso. - Já andastes às cavalitas?
- Às quê? - perguntou-me.
- Sobe para as minhas costas, que eu mostro-te. - pedi-lhe. - Robin pôs-se em cima da rocha para que ficasse mais alto e depois apoiou-se nos meus ombros para subir. Caminhei com ele até ao navio. Atravessámos a rampa e larguei-o no convés. Robin rira-se e disse-me que queria repetir.
- Eu gosto da tua companhia Jack! - exclamou. As suas palavras deixaram-me com tanta alegria. Aos poucos Robin teria toda a sua confiança em mim. Porém, eu temia que tal se perdesse quando soubesse da verdade. - Achas que vamos voltar? - perguntou-me olhando para terra.
- Claro que vamos voltar! - respondi-lhe. - O Destiny não pode ficar aqui para sempre!

quarta-feira, 30 de março de 2011

Capítulo 16 - Planos antecipados

Durante as horas seguintes a minha cabeça esteve concentrada naquilo que diziam ser o "Coração de Ouro". Mas o que seria mesmo aquilo? Haveria algo mais por detrás deste nome? Estava tão curiosa. Parecia quando era pequena quando a minha pessoa não descansava enquanto não descobrisse o que estava a acontecer. Mas desta vez tinha de me prevenir. A curiosidade por vezes leva-nos a seguir caminhos errados. A verdade é que queria mesmo descobrir do que se tratava. Precisava de ver com os meus próprios olhos esse "coração de ouro".

No meu primeiro jantar com aquela família senti-me diferente. Há muito que perdera a noção de jantar sentada numa mesa cheia de comida, com pessoas ao meu lado. Reparei em como Robin falava com Jack. Este ficou surpreso por saber que o filho possuia de tanta sabedoria. Pensei em como seria bom se Jack e Robin passassem mais tempo juntos. Robin adorava Jack, apesar de desconhecer qualquer ligação que existiu entre nós os dois. E o Jack...via nos seus olhos que amava aquela criança e que estava morto de arrependimento de ter escolhido o caminho que escolheu.
O pai de Sesha ofereceu-me vinho. Mais uma coisa à qual não estava habituada, visto que a bordo dos navios a bebida de eleição é o rum, mas dada a minha experiência com esta bebida, parei durante algum tempo. O sabor do vinho era doce e viciante. O seu aroma fazia lembrar-me o cheiro da adega que tinha na minha casa. O Sr. Thomas olhou-me de relance e percebi que deveria pousar o vinho.
- Então Jane, porque não nos fala um pouco de si? - perguntou Sesha. Parei de comer e olhei para si. O seu olhar penetrou em mim, como se me quisesse arrancar algum pedaço.
- Não há muito para dizer... - respondi limpando a boca ao guardanapo.
- Hum... - emitiu. - Significa que há um bocadinho de informação que nos pode contar! - afirmou Sesha. O seu tom estava-me a irritar profundamente.
- Sesha, não impliques com a Jane. - pediu Jack discretamente.
- Peço desculpa. - disse Sesha, disfarçando a sua vontade aguda e irritante de se meter na minha vida, e eu não me iria dar ao desfrute de lhe contar o meu passado. Jack olhou para mim. Estava na minha diagonal e eu estava com a sensação de que ele me queria dizer algo. Desviei o olhar, pois o pai de Sesha estava de olho em mim e eu não poderia deitar tudo a perder.
De repente umas das criadas entrou exaltadamente na sala, aproximou-se do pai de Sesha e segredou-lhe algo ao ouvido. Notei pelo olhar dele que o assunto era sério. Ele limpou a boca ao guardanapo, pediu licença e levantou-se da mesa e saiu do salão de jantar. Jack fez o mesmo. Toda aquela situação era de desconfiar e havia algo muito misterioso nisto tudo.

[Narrado por Jack]
A Jane estava desconfiada sobre esta saída repentina. Os outros também estariam, mas a Jane sobretudo. Conhecia a sua personalidade e tinha noção do que tudo para ela vindo de um lugar estranho era motivo de desconfiança. Eu e Jones dirigimo-nos até à entrada onde éramos aguardados por um dos oficiais da marinha.
- Posso saber o motivo pelo qual o meu jantar foi interrompido? - perguntou Jones.
- A viagem precisa de se antessipar! - respondeu directamente.
- Perdão? - perguntou Jones. - Eles mal chegaram!
- Precisamos da rapariga antes que ela mude de ideias! - exclamou o oficial.
- Ela não é uma rapariga qualquer! - exclamei revoltado agarrando no uniforme do oficial. - A Jane não vai mudar de ideias... e esta história toda não faz dela um brinquedo que podemos usar e deitar fora. Não vou permitir que as coisas cheguem a esse ponto!
- Devias acalmar-te Jack! - avisou-me Jones puxando-me par trás. - Informe o seu superior que amanhã nos iremos encontrar com ele. - disse. - Agora vá embora e deixe-nos acabar a refeição! - ordenou.
- Muito bem! - assentiu. - Com a vossa licença...
Já devia prever que isto fosse acontecer. Havia alguém que sabia do meu passado com Jane e que agora o usava indirectamente contra nós.
- Devias controlar melhor as tuas emoções Jack! - advertiu Jones. - Não é preciso tanta exaltação e revolta por causa de uma mulher, ainda para mais uma mulher que não é tua noiva!
Assenti com a cabeça. As minhas acções e os meus instintos quase que deitaram tudo a perder. Precisava de falar urgentemente com a Jane. Havia tanto por dizer, por revelar e por explicar. Durante nove anos das nossas vidas aconteceu tanto e a vida mudou. Entrei na sala e lá estavam todos a olharem para mim desconfiados. Mas o olhar dela foi o que mais me captou. Aquele olhar esfíngico e duvidoso penetrava o meu corpo.

...

Depois de todos irem dormir desloquei-me ao quarto dela. Conseguia ver a luz da vela acesa por debaixo da porta. Sabia que estava sozinha e que se preparava para descansar. De mansinho abri a porta e ela lá estava com a camisa de noite vestida. Uma camisa num tom azul claro. Parecia uma Jane diferente, mais sensual e feminina. Ela não se pareceu surpresa com a minha presença.
- Já tinha calculado que aparecesses por aqui! - exclamou ela. - Mais tarde ou mais cedo entrarias no meu quarto.
- Há coisas que nunca mudam! - respondi-lhe com ironia. Já à muito que não usava este tipo de discurso.
- E como há coisas que não mudam, continuas a esconder-me algo... - disse.
- Jane, eles querem antecipar a viagem! - contei-lhe.
- Porquê? - perguntou.
- Há alguém que sabe o que se passou entre nós Jane! - exclamei. - E usarão isso contra nós!
Jane sentou-se na sua cama e encostou as penas a si. - Não, ninguém pode saber! - exclamou. - E o Robin? É perigoso para ele Jack, ele não pode saber a verdade por outra pessoa, é demasiado perigoso.
- Amanhã iremos encontrar-nos com todos os oficiais da marinha e aí decidirão como tudo se resolve. - expliquei.
Preparava-me para sair do quarto quando Jane me interrompeu.
- O que sabes sobre o coração de ouro?
Virei-me para si e aproximei-me. - Não sei muito mais que tu Jane! - respondi-lhe honestamente. - Aliás, ninguém sbe muito bem do que se trata.
- Significa que vamos procurar alguma coisa jamais vista por todos nós. - disse exaltadamente.
- Jane, tens de acreditar e confiar em mim... - pedi-lhe.
- Desculpa Jack, eu não consigo. - respondeu-me. - Tu mentiste-me acerca do meu pai, e agora não vais conseguir recuperar a minha confiança.
- Mas eu não vou desistir de ti morena! - disse-lhe. Saí do seu quarto desejando uma vez mais sentir os seus lábios nos meus e tê-la para mim para sempre.

[Narrado por Jane]

Neste momento tudo era um espelho. Mas um espelho que dividia duas almas, duas vidas. Vidas separadas pelo tempo que o destino resolveu juntar novamente. A minha imagem complementava-se com a dele, mas ambas as imagens não poderiam ficar de um mesmo lado. Os nossos reflexos nunca mais seriam os mesmos. O que um dia pareceu ser o início da nossa história, hoje pareceu que todos os sonhos seriam impossíveis de se realizarem...

sexta-feira, 18 de março de 2011

Capítulo 15 - Coração de Ouro

A vida dá voltas e voltas. Quando pensamos que uma memória poderia estar morta e enterrada, num fechar de olhos ela revela-se. Durante meses sofri com a perda do meu pai. O que para mim fora passado, agora era umas partículas de pó no presente que ganhavam força para formar uma poeirada capaz de assolar a minha vida. A minha tristeza com as atitudes de Jack acentuava a cada minuto naquele salão. Esforçava-me para entender porque é que ele não foi capaz de mencionar o assunto directamente comigo. Ele sempre soube que o assunto do meu pai me era doloroso, mas omitir-me algo que ele sabia, isso sim era demais.
- Partiremos para a viagem daqui a três dias! - informou o capitão Charles. - Tenente Jack, é favor de acolher a Jane e os seus "familiares" nas suas propriedades até partirmos para alto-mar.
- Sim capitão. - respondeu Jack. Este aproximou-se de mim e colocou a sua mão no meu braço. - Vamos para casa Jane.
- Não me toques! - exclamei ressentida, retirando forçadamente o meu braço debaixo da sua mão.
- Jane eu preciso de te explicar tanta coisa... - disse.
- Agora queres explicar? - perguntei-lhe incrédula. - Jack tu omitiste a verdade sobre o meu pai durante estes dias, e só agora é que me queres explicar?
- Não podemos falar aqui. - afirmou. - Falaremos em minha casa. Jack avançou e eu fiquei para trás. Permaneci na companhia do Sr. Thomas. Também ele estava ressentido com tudo o que estava a acontecer, não tivesse sido ele outrora o melhor amigo do meu pai. Mas porque é que nunca ele tinha falado neste lado da sua vida? Nunca tivera segredos do seu trabalho para o Sr. Thomas. A sua única omissão comigo fora a identidade de Black Diamond.
Jack acompanhou Robin até ao exterior. Este gostava da sua companhia e começava logo a conversar, como se o conhecesse à anos. Por um lado, o meu sexto sentido alertava-me de que esta união poderia causar problemas a Robin, quando este soubesse a verdade. Mas por outro, existia um sentimento tão forte e tão bonito em ambos os olhares.

De volta à rua, entrámos na carruagem que nos transportou até à casa de Jack. Na verdade, tratava-se da mansão do pai de Sesha. Por falar em Sesha, lá estava ela junto do seu pai, mostrando a sua veia mimada de menina rica sem preocupações que nunca teve de lutar pela sua sobrevivência.
- Paizinho, estes são os familiares de Jack. - informou.
- Vejo bem...
O olhar do senhor veio até mim. Tratou-se de um olhar meigo e acolhedor.
- Deveis ser a Jane! - supôs.
- Sim, sou eu! - respondi surpresa por saber o meu nome.
- Tens os olhos do teu pai! - exclamou. Interpretei como um elogio carinhoso, o suficiente para me deixar um pouco mais sorridente.
- O paizinho conheceu o pai dela? - perguntou Sesha num tom aguçado de ciúmes.
- Sim Sesha, eu tive o privilégio de conhecer o Robert!
- Sabeis, então, o motivo pelo qual eu estou aqui! - afirmei.
- Porque não entramos? - sugeriu.
Entrámos na massão. A mesma era enorme. Os corredores estavam decorados com armas e armaduras antigas. Fez-me recordar a minha. O meu pai valorizava bastante as antiguidades. À nossa espera estava uma mesa servida de chá e de doces. Num impulso Robin dirigiu-se à mesa e comeu os doces.
O pai de Sesha convidou-me a sentar num dos cadeirões existentes do salão. Eu mal estava habituada ao conforto de uma casa.
- A herança que o seu pai deixou em vão é muito importante para a coroa. - comelou por dizer. - Esse tesouro poderá trazer grandes benefícios para a ilha, daí querermos o que é nosso de volta. - fez uma pausa e bebeu um pouco de chá. - Suspeitamos que os mapas poderão estar numa propriedade que alegadamente é sua, e como deve calcular só poderá ser "invadida" com o cossentimento da proprietária! Dado a sua experiência em alto-mar ser-nos-à muito útil. - as suas últimas palavras destruiram a pouca impressão boa que tinha de si. Ele sabia da vida que eu tinha levado nos últimos anos, e de certa forma iria certamente jogar com isso.
- E o tesouro em si? - perguntei.
- Não se trata de jóias Jane, é algo muito mais valioso! - exclamou. - O Coração de Ouro é muito mais valioso que míseras jóias que pagam impostos.
Esse nome não me era de todo estranho. Havia algo que me fazia recordar dele, mas não estava a lembrar-me do que era...

sexta-feira, 11 de março de 2011

Capítulo 14 - Cartas na mesa

- Então Jack quem é ela? - perguntou aquela vozinha fininha aguda. Senti no seu tom uma certa curiosidade.
- É a minha prima Jane! - exclamou Jack.
- O quê? - perguntei.
- Ah então somos da família! - disse-me a rapariga atirando-se nos meus braços. - Oh querida, precisas de mudar esse visual.
- Pois... - respondi olhando em seguida para Jack. Nesse aspecto ele não tinha mudado. Tinha sempre estas respostas com um pozinho de ironia. Sacana, pensei. Bem não seria muito inteligente da sua parte dizer "Ah esta é a Jane, uma amiga minha de alguns anos que conhecia em alto-mar e sabes, estávamos os dois bêbados e cometemos um pequeno deslize que se chama Robin!". No entanto, aquela situação com a menina rica estava a deixar-me muito desconfortável.

- Sesha querida estás a deixar a Jane pouco à vontade... - disse Jack tirando-a de cima de mim. Finalmente consegui respirar outro tipo de ar que não um infestado de perfume que tinha um odor enjoativo ao qual eu nunca estava habituada a cheirar.
- Querido, agora que os teus familiares estão todos aqui, porque não realizamos o nosso casamento? - perguntou. - Eu e o Jack estamos noivos há alguns anos, mas nunca surgiu a oportunidade certa.
Casamento. Significava que estavam noivos, tal como eu calculei. Não os criticava, tantos anos que estiveram juntos era natural que quisessem consumar o amor que sentiam um pelo outro. Apenas nunca imaginei que Jack se casasse. Ele sempre foi tão independente. Quis preservar tanto a sua liberdade que acabou por encontrar algo que o prendeu durante tantos anos.
- Ou será que foi obra do destino? - perguntou o Sr. Thomas. A sua pergunta desviou a atenção de Jack e Sesha para si. - Eu sou Thomas, o tio da Jane.
- Sim, ela é a sua cara! - exclamou não tendo a mínima noção do que estava a dizer.
- Jane, está na altura de entrarmos. - informou Jack. - Sesha, porque não vais até ao porto ter com o teu pai e depois encontramo-nos todos em casa? - a rapariga assentiu com a cabeça e saiu dali aos saltinhos como uma rapariguinha doida e com a cabeça na lua. Jack aproximou-se de mim e agarrou-me o braço para que eu não entrasse primeiro que os outros. - Eu devia ter-te falado nela...
- Houve muitas coisas das quais não falaste Jack, porque é que haverias de falar na tua noiva? - perguntei.
- Cheira-me a ciúmes... - disse Jack ao ouvido.
- Não te preocupes porque eu não me meto no vosso caminho! - exclamei.
- O problema é que sempre lá estiveste Jane... - disse-me olhando-me nos olhos. Estava a espera que saissem mais palavras da sua boca, mas Jack limitou-se a entrar naquele enorme edifício. Havia tanto para dizermos um ao outro. As suas últmas palavras deixaram-me tão pensativa. Tinha a sua verdade. Se Jack esperou tanto tempo para um casamento é porque algo o impedia de tal, e levava-me a crer que eu era a razão de tanta espera. Jack parecia estar bem ao lado de Sesha, afinal ela tinha uma posição importante na sociedade o que transmitia segurança a Jack, mas estaria ele apaixonado por ela? Essas questões só poderiam ter resposta se eu soubesse o que tinha acontecido durante estes anos todos. Mas isso era o que menos importava agora. O meu futuro e dos meus iria ser decidido dentro daquelas paredes e isso era o que eu mais temia...

A sala era enorme. Estava iluminada por um enorme candelabro. Já não me encontrava naquele tipo de ambiente há anos. Já me esquecera de como era viver em sociedade. Com homens a inalarem o fumo dos seus cachimbos, a tinta importada de um local longínquo que era utilizada para escrever no papel. O montede criados vestidos a rigor que vagueavam naquela sala e servirem os seus senhores. Tanta coisa que eu estava a reviver deixou-me numa posição ainda mais descofortável do que aquela que vivi lá fora. Outrora eu, devido aos meus antecessores, fora alguém importante na sociedade, mas nuna dei valor a isso, porque esses momentos em sociedade só aconteciam em ocasiões muitos raras, noemadamente quando o meu pai voltava do mar. Nos outros dias eu era apenas uma criança livre que adorava apanhar com a brisa do vento.
- Jane, eu nunca estive neste tipo de sítios... - confessou Lyeel.
- Isso gora não é o importante Lyeel. - tranquilizei. - Aquelas cabeças ali ao fundo têm o nosso futuro nas mãos...
- Porque não estamos algemados? - perguntou Lyeel.
- Porque alegadamente somos família do Jack! - respondi-lhe.
Jack aproximou-se de nós e encaminhou-nos para o centro da sala. Ao fundo encontrava-se uma mesa rectangular com três homens lá sentados, e um deles era o capitão Charles.
- Nunca pensei ver a filha do Robert aqui nesta sala... - disse um dos homens. O tom com que me abordou só acentuou a minha desconfiança.
- Sê bem-vinda Jane! - exclamou o terceiro homem.
Não sei se deva agradecer ou pedir a Deus que me tirasse daqui, pensei.
- Já deveis saber a razão porque estais aqui Jane! - exclamou o primeiro homem que me abordou. - Penso que o capitão Charles tenha dito alguma coisa.
- Não foi totalmente explícito! - ripostei.
- Eu tenciono ser breve. - disse. - O seu pai trbalhou connosco durante anos. Prestou-nos os seus melhores serviços como marinheiro real.Porém, deixou a nossa ilha com alguns assuntos pendentes. - as suas palavras deixaram-me confusa. - O seu pai há uns anos prendeu um homem acusado de pirataria que acabou por ser enforcado.
- Esse homem possuia uma rede de contrabando que tinha como objectivo roubar a coroa inglesa. - completou o outro homem. - Há anos foi roubado um tesouro de inglaterra de extrema importância. Como qualquer tesouro há um mapa envolvido e os mapas desapareceram quando o seu pai saiu.
- Eu não tenho mapas nenhuns! - exclamei.
- Mas estará certamente numa propriedade do seu pai. - afirmou Charles.
- A nossa casa ardeu, não sobrou mais nada! - exclamei. Ao recordar a minha casa senti-me tão triste. Todo o meu passado fora dvorado por chamas.
- Certamente existirão outras terras por aí! - disse Charles. - Precisamos da Jane e do que resta da sua tripulação para encontrar esse tesouro.
- E em troca?
- Estarão ilibados contra os crimes de pirataria a que estão acusados! - respondeu. Seria obrigada a concordar com a proposta. Não tinha alternativa. - Ah e Jane, deveria agradecer ao Jack por ter descoberto tudo isto, por sua conta! Sem ele nunca saberiamos tudo isto acerca do seu pai.
Foi como se o mundo tivesse desabado. Como se um enorme buraco se tivesse formado debaixo dos meus pés e eu caisse na escuridão. Não queria acreditar no que acabara de ouvir. Jack sabia de tudo isto desde o início e nunca me dissera a verdade. Isso fora a última gota...

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Capítulo 13 - Chegada a Terra

Durante dias e dias desejei ser mais do que era. Sentia-me em baixo por não ter conseguido dar uma vida melhor a Robin. O retorno de Jack do mundo dos desaparecidos alterou as nossas vidas. Questionei-me durante horas e minutos qual seria o meu destino quando chegasse a terra. Sabia que iria para uma colónia pertencente a Inglaterra que se localizava em África. Aquele nome "Ilha Seychelle" não me dizia absolutamente nada. Para mim era um ponto desconhecido no planeta. Durante a viagem tentei perceber do sítio no qual eu iria passar certamente semanas da minha vida. Jack recusava-se a falar do assunto, no pouco tempo em que estávamos juntos. Por vezes, trocávamos olhares de navio para navio. Não quis que ele voltasse ao Destiny. Foram demasiadas memórias e queria que permanecessem assim. Como uma história com um capítulo encerrado. Um capítulo porém que tinha uma linha condutora que indicava que este tipo de histórias nunca poderiam acabar. Essa linha era Robin, o meu elo de ligação com Jack. Ainda não lhe contara a verdade. Era demasiado para absorver naqueles dias. Pela primeira vez em muito tempo Robin teria de se habituar ao barulho de uma cidade, aos modos de uma civilização, e a viver numa casa. O capitão Charles desponibilizara a sua casa para nos receber. Mas nada daquele homem me inspirava confiança. Respondi-lhe que ficaria com a minha tripilação. Jack opôs-se e disse-me que poderíamos ficar na sua. Só aceitei por causa de Robin.

Lyeel estava diferente. Andava ressentido devido à presença de Jack. Nem mesmo estando em navios separados, Lyeel o via com outros olhos. E ainda para mais estava com ciúmes. Durante estes anos sei que Lyeel se tentou aproximar de mim, mas nunca lhe dei mais esperanças. Depois da partida de Jack nenhum outro homem conseguiu ocupar o seu lugar. Durante esse mesmo tempo desejei poder retribuir os sentimentos a Lyeel mas tal pareceu impossível. Ele foi como um pai para Robin, apesar de nunca se ter assumido como tal. Era como um irmão para mim, que ficava comigo quando eu tinha enjoos, ou quando Robin não conseguia adormecer. Tudo isto me custava não poder amá-lo como ele me amava a mim.
- As coisas vão mudar agora que ele apareceu outra vez na tua vida Jane? - perguntou-me.
- Lyeel, mudou muita coisa. - respondi-lhe. - Eu não posso garantir que alguma coisa se modifique ou se as coisas vão continuar como estão.
Lyeel sorriu carinhosamente para mim. - Desta vez ele não te vai magoar Jane.
- O Jack agora tem a sua vida Lyeel. - respondi-lhe. - Mas nós vamos estar sempre ligados.
- Quando tencionas contar a verdade ao Robin? - perguntou-me.
- É tanta coisa Lyeel. - desabafei. - Eu tenho medo da reacção dele.
- Ah ele é forte! - exclamou Lyeel. - Saiu a ti nesse aspecto.
A sua resposta fez-me sorrir. Olhámos os dois para Robin. Este encontrava-se na companhia do Sr. Thomas e ambos estavam a ver o mar. Robin adorava ver o mar. Quando era bebé pegava nele e contava-lhe as histórias que o meu pai um dia me contou.
- Sabes o que mais me magoa? Que o Robin nunca mais vai poder ver o mar desta maneira. - afirmei. - Nenhum pôr-do-sol será mais belo do que este que vemos todos os dias.
- Um dia Jane, poderás ter essa oportunidade. - respondeu-me. - Nós vamos safar-nos!
Essa resposta era incógnita. Nunca se tem a certeza do que poderá acontecer. O destino já traçou o nosso caminho. Nós temos duas opções, seguimo-lo ou mudamos o rumo da nossa vida.

Ilha Seychelle, Junho de 1688

Chegámos a Terra numa manhã de calor. As brisas eram quase nulas e o calor invadia os nossos corpos. Nessa manhã, o movimento estava calmo. Exigi que não fôssemos tratados como prisioneiros, pois isso traria muita atenção e a nossa chegada tinha a intenção de ser discreta. Descemos para os botes que nos encaminhariam até ao porto. Ajudei Robin a descer para junto de mim e pedi-lhe que não fizesse muito barulho. Robin obedeceu mas reparei que o olhar se fixava para um ponto.
- Robin? - perguntei.
- Um dia quero ser como ele! - exclamou Robin. Olhei na direcção na qual o seu braço apontava e aí estava Jack no seu bote a dar ordens aos seus homens. Ele estava tão seguro de si mesmo. E o mais bonito foi ver a ligação que Robin teve com ele, mesmo sem saber a verdade. - Posso ser como ele não posso?
- Eu só quero que sejas alguém Robin. - respondi-lhe.
Chegámos junto ao porto. Os mais curiosos aproximaram-se dos botes questionando-se quem seriam estes estranhos de pele mais morena. O primeiro bote aportou. Dele sairam Jack, o capitão Charles e restantes tripulantes. Um escravo trouxe o cavalo de Charles e este montou-o, galopando até ao centro da ilha. Jack aproximou-se de nosso botea ajudou-me a sair.
- Esta é a sua cidade, senhor? - perguntou Robin a Jack.
- Sim, é aqui que eu vivo! - respondeu-lhe, pegando nele e ajudou-o a sair. Robin olhava para Jack com imensa adoração. Jack tirou-lhe o chapéu e acariciou-lhe o cabelo moreno. - És um homenzinho especial!
- Já sou grande! - exclamou Robin.
Simultaneamente com aquela conversa meditei sobre o assunto. Robin adoraria ter Jack como pai. Mas não seria assim tão simples. Jack não poderia substituir a sua ausência durante anos. Jack tinha aqui uma vida, um emprego e funções a serem cumpridas.

Fomos guiados até às carruagens que esperavam por nós. No entanto apenas haviam duas. Jack abriu a porta de uma e disse-me a mim para entrar, juntamente com Robin e o Sr. Thomas. Como sobrava um lugar, Lyeel ocupou-o. Durante a viagem Lyeel olhava para Jack de um modo repugnante. O Sr. Thomas mostrava a Robin tudo o que havia na cidade dizendo o nome de todos os objectos. Eu olhava para o lado. Imensas pessoas que viviam naquela ilha. Pessoas trajadas com os melhores vestidos da alta costura. Tentei não prestar muita atenção aos olhares das mulheres da corte que me olhavam e comentavam a minha veste. Eu já me esquecera de como era viver em sociedade. A minha mãe quando era viva fez questão de me ensinar certos modos, os quais eu ignorava pois só procurava aventura e perigo. A carruagem parou junto de um enorme edifício. Jamais vira construção tão alta como aquela. Saí e estranhei o pavimento da cidade. Seria difícil caminhar naquelas ruas tão largas e cheias de pedras que percorriam a calçada.
- Dentro de minutos entraram os quatro neste edifício. - informou Jack. - Jane, se preferires que o Robin fique...
- Ele vai comigo! - interrompi-o.
- Bem sendo assim... - disse Jack.
- Jack! - exclamou uma voz num tom esganiçado e agudo. - Jack voltas-te finalmente! - a voz pertencia a uma mulher que se atirou nos braços de Jack. Eu fiquei espantada ao ver aquele espalhafatal todo. A rapariga beijou-o o que me deixou mais revoltada que nunca. - Quem são estes Jack?
Assim que a mulher acabou de questionar Jack fiquei curiosa para saber que resposta é que ele lhe iria dar...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Capítulo 12 - Remorços

Se há coisa que eu aprendi nesta vida é que há momentos em que de facto o tempo pára, as pessoas desaparecem e ficamos só nós, presos a um nevoeiro de pensamentos. Aí, pensamos no que poderíamos ter feito diferente, no que poderia ter mudado. Foi isso que aconteceu com Jack. Após lhe ter contado a verdade, os seus olhos fecharam-se e só faltaram as lágrimas. Durante minutos permaneceu em silêncio. Porém, eu sabia que o seu coração estava mais sobressaltado que nunca, o seu cérebro estava dividido entre questões e lógica de pensamento. Até que momentos, conseguiu dizer algo:
- Jane, tu tens a noção do que acabaste de me dizer? - perguntou-me transtornado. Deu voltas e votlas ao camarote, como se de uma solução tentasse arranjar para escapar ao que lhe estava a acontecer.
- Jack...
- Sabes o que faz de mim ter-vos abandonado? - perguntou-me.
A minha resposta de "tu não ias adivinhar", ou "tu não sabias" era inapropriada. Isso não valia de desculpa alguma. Jack escolhera o seu caminho quando partiu naquela madrugada de nevoeiro. Quase como num acto involuntário, peguei na sua mão e obriguei-o a olhar-me nos meus olhos.
- Sou um homem horrível Jane... - disse, por fim.
Não esperava ouvir um pedido de desculpas porque isso não lhe valeria de nada. O passado estava feito, não haveria nada que fizesse o tempo voltar atrás e mudar os nossos destinos.
- Ele sabe? - perguntou-me.
- Não. - respondi-lhe. Não sei se Jack ficou aliviado ou não. O seu olhar estava magoado. O mesmo olhar com que eu fiquei durante meses e meses após a sua partida. - Mas acho que chegou a hora de ele saber a verdade.
- Eu não posso ter um filho! - exclamou Jack.
- Desculpa? - perguntei-lhe.
- Eu não posso assumi-lo agora! - exclamou Jack.
- Estás a gozar comigo? - gritei furiosa. - Se não queres saber de nós, volta para terra e deixa-nos em paz! - exclamei completamente sobressaltada. - Vivemos estes anos todos sem ti, podemos continuar assim!

- Jane, tu não estás a entender. - tentou explicar-se Jack. - Eu quero que o Robin conheça o pai, mas sabes o que é que iria acontecer se descobrissem toda a verdade? Descobriam o meu historial passado e acabávamos todos na forca.
- Afinal sempre podemos ter o mesmo destino! - exclamei irónica.
- Assim, eu não te posso ajudar! - exclamou. - Jane, eu nunca permitirei que nada vos aconteça aos dois. - o seu tom de voz acalmou. Jack pegou no meu queixo e olhou-me nos olhos. - Eu não te posso perder outra vez!
- Tu já me perdeste Jack! - respondi-lhe com toda a minha sinceridade. - Mas ainda não perdeste o Robin! - disse-lhe. - Ele é parecido contigo, tem o mesmo espírito que o teu. Não cometas o mesmo erro novamente.
- De que me vale corrigir um erro se isso me impede de te ter outra vez? - perguntou.
Antes que eu pudesse responder a porta do camarote foi aberta e o capitão Charles entrou.
- Não interrompo nada, pois não? - perguntou. O tom da sua voz irritava-me totalmente. Todas as suas palavras eram ditas de uma forma tão cínica e num tom quase devorador e preverso. - A menina Deverport já tomou alguma decisão?
Após a pergunta de Charles, o olhar de Jack concentrou-se de novo em mim. Olhei pela janela do camarote e avistei o meu navio e os membros da minha tripulação assustados, sem saber que destino lhes reservava. A minha decisão estava tomada. - Voltamos para terra consigo!
- Excelente! - exclamou Charles sorrindo. O seu sorriso era falso e escondia algo. De certeza que havia algo mais nesta história toda. Mas opções não me restavam. - Sendo assim, convido-a a que fique instalada no meu camarote.
- Prefiro ficar no meu navio, com a minha tripulação! - respondi-lhe de uma forma fria e arrogante.
- Nesse caso como queria, menina Deverport! - consegui perceber pela atitude de Charles que este ficara furioso com a minha resposta.
Saí do camarote e fui conduzida até ao meu navio. Robin estava sentado junto ao leme e assim que me viu a entrar correu até mim e abraçou-me.
- Está tudo bem Robin! - disse-lhe.
- Jane, eu sei que não está tudo bem! - respondeu-me Robin com a sua perspicácia. - Para onde vamos nós?
- Vamos para terra Robin... e por mais que eu te queira responder, não sei o que nos espera...

Charles ordenara a que o meu navio fosse comandado por um da sua tripulação. Assim não correriam riscos de fuga. Fugir neste momento era inútil. Dentro de dias estaríamos em terra. Precisava de saber algo mais sobre esse tesouro que afirmavam ser tão importante. Mas o mais importante, garantir a segurança de Robin e do resto da minha tripulação.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Capítulo 11 - Decisão

- Jane desculpa ter-nos denunciado! - disse Robin sussuradamente.
- Está tudo bem Robin. - assegurei-lhe.
Jack olhava fixamente para Robin. Os seus olhos estavam brilhantes e quase emocionados só de olhar para ele.
- Senhor, ordens? - perguntou um dos marinheiros.
- Eu preciso de falar a sós com a Capitã Deverport. - afirmou Jack. - Levem a criança para junto da sua tripulação e não se atrevam a tocar-lhe! - ordenou. A maneira como proferiu aquela ordem denunciou a sua afecção por Robin, mesmo não tendo a certeza de quem era verdadeiramente.
- Vai Robin. - disse-lhe. - Fica junto do Lyeel e do Sr. Thomas e não faças nada. - beijei-o na face e deixei-o ir. O meu medo mais que nunca aumentou e senti suores frios a percorrerem-me o corpo.
- Jane, vamos para o meu camarote. - disse-me Jack pegando no meu braço. Soltei-o e continuei a andar como se nada fosse. Jack ia à minha frente aceleradamente, como se estivesse nervoso e perdido nos pensamentos. O meu pensamento recaía em Robin e na nossa situação. Sentia que estava a pôr a vida do meu filho em risco ao entrar naquele camarote. Mas não me restava outra opção. Jack abriu a porta e deixou-me entrar em primeiro lugar. Ao contrário do camarote do seu Capitão, o de Jack era iluminado e bastante organizado, algo que eu nunca esperei ver. Como Jack estava mudado. Tinha uma vida tão diferente da minha. O luxo, a condição social. Que teria acontecido ao longo destes anos todos? Por momentos da minha vida julguei-o morto. A única esperança de o ver vivo era quando eu olhava para Robin e via o rosto do pai.
- Nunca pensei Jack. - disse-lhe.
Ele fechou a porta e trancou-a. - Mudou muita coisa Jane...
- Sim, de facto mudou... - concordei tristemente.
- Nenhum de nós escolheu este destino. - respondeu-me Jack.
- Escolheste-o tu quando decidiste partir. - interrompi-o. Virei-me para ele e aproximei-me. - Porquê Jack?

- Eu fiz o melhor para ti e para mim. - respondeu-me.
- Abandonar-me foi o melhor para os dois? - perguntei-lhe.
Ele aproximou-se de mim como costumava aproximar-se. O meu coração disparou e a minha pulsação aumentou. - Eu pensei em voltar para trás, mas...se eu tivesse ficado teria acabado por te magoar outra vez.
- Magoaste-me mais quando partiste! - gritei. Jack olhou de relance para mim e reparou no meu estado de frustração. Tentei acalmar-me e baixei o tom de voz.- Jack, tu tens uma vida nova. És oficial da marinha, provavelmente tens uma vida em terra, e eu não quero que mudes isso agora! - exclamei. - Depois destes anos todos sem ti, que importa agora teres voltado?
- Importa tudo Jane! - disse-me. - É esta vida que tu queres para ti? - perguntou-me. - Tu e toda a tua tripulação correm risco de vida neste momento! - exclamou. - Está na altura de mudar Jane. - afastei-me dele. No fundo as palavras dele eram certas. Pela primeira vez Robin corria risco de vida e eu jamais poderia permitir isso!
- Eu quero que garantas a minha protecção e a da tripulação de eu decidir que vamos para terra! - exigi.
- Jane, eu não posso encobrir os crimes de todos! - disse-me.
- E quem encobriu os teus? - perguntei-lhe. A minha pergunta deixou-o sem resposta. - Se eu voltar para terra tens de me garantir isso Jack. - informei-o. - Deves-me isso!
Jack reflectiu por momentos pensando no que eu lhe disse.
- O teu capitão fez-me uma proposta. - disse-lhe. - Falou-me num tesouro que pertence à coroa inglesa e tenciona recuperá-lo. - percebi que pela reacção de Jack ele sabia perfeitamente ao que eu me estava a referir.
- E aceitaste a proposta? - perguntou.
- Eu preciso de saber no que me vou meter, se aceitar... ele mencionou o nome do meu pai. Disse-me que ele foi possuidor de um mapa que conduziria ao tesouro.
- E o teu pai tinha esse mapa? - perguntou.
- Eu não tenho mapa nenhum se é isso que estás a insinuar. - afirmei. - O que vocês procuram não está no meu navio, por isso voltem para terra e deixem-nos em paz!
- Que espécie de homem seria eu se te abandonasse a ti novamente? - perguntou.
- Jack, eu não vos vou ser útil em nada... - ripostei.
- Mas vais ter de ser se queres viver! - exclamou, aumentando o seu tom de voz. - Achas que eu aguentaria em ver-te na forca? - as suas mãos pousaram na minha face. - Tu não mereces esse final Jane...
- E que final mereço eu? - perguntei.
Jack acariciou-me a cara. As suas mãos estavam macias e os seus dedos percorreram a minha boca. Sentir o seu cheiro de novo foi quase como se tivesse acordado ao fim destes anos todos. As sensações antes adormecidas estavam a voltar...
- Tu mereces viver Jane! Acima de tudo mereces viver! - exclamou, afastando-se de mim.
- Como é que ele conhecia o meu pai? - perguntei.
- O teu pai conheceu-o enquanto servia a marinha real. - respondeu-me.
- Nem ele e o Sr. Thomas me falaram dele... - afirmei.
- Jane, o importante é voltares em segurança. - assentiu Jack. A minha cabeça murmurava uma data de coisas ao mesmo tempo que me impossibilitavam de pensar em alguma coisa. Jack continuava a tentar convencer-me para voltar com ele, mas eu apenas pensava em Robin e a verdade que eu tinha de lhe contar. - Jane, a criança que afirma ser teu filho...
- Sim Jack, o Robin é meu filho! - respondi-lhe directamente.
Jack olhou-me nos meus olhos como se quisesse arrancar a verdade de dentro de mim. O seu olhar~penetrante não me deixou intimidada, mas percebi que tinha chegado a hora de Jack saber a verdade. - O Robin é teu filho Jack. - disse-lhe de uma vez por todas, sem rodeios.
Os seus olhos desviaram os meus, como se o seu corpo se tivesse contraído ao ter ouvido tal coisa. Jack levou as mãos à cabeça apercebendo-se do erro que cometeu ao partir naquela madrugada...

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Capítulo 10 - Tesouro Escondido

- Revejam este navio de uma ponta à outra! - ordenou Jack. - A frieza da sua voz provocou-me arrepios. Pior que isso, a segurança de Robin estava em perigo. Tinha de os deter de alguma maneira. Mas como?
- És o capitão daquele navio? - perguntei-lhe. O seu olhar cruzou-se novamente com o meu.
- Jane...
- És o capitão ou não? - perguntei novamente, querendo uma resposta directa.
- Não. - respondeu-me desviando o olhar.
- Então exigo falar com o vosso capitão! - ordenei. Antes que Jack apresentasse alguma objecção ao meu pedido interrompi-o. - Agora!
O meu tom de ordem fez com que a sua atitude se tornasse mais fria e dura. - Claro. - respondeu-me. - Mas vais como prisioneira. - disse-me, pegando nos meus braços para me colocar as algemas.
- De ti não esperava outra coisa, Jack Nilton! - exclamei, dirigindo-me para a tábua que permitia a passagem de um navio para o outro. Antes de colocar um pé naquele comprido pedaço de madeira, olhei para trás e zelei pela segurança de Robin. Toda a minha tripulação era prisioneira do seu próprio navio. Ao atravessar, olhei para o oceano que estava por baixo de mim e desejei atirar-me a ele e ser levada para bem longe dali. Jack estava mesmo atrás de mim e colocou uma das suas mãos nas minhas costas para que eu não me desiquilibrasse. A bordo do navio encontravam-se ainda mais oficiais da marinha, fardados dos pés às cabeças, possuindo armas mais evoluídas do que as nossas. Olhei novamente para o Destiny e nenhum sinal de Robin. Tinha esperança que ninguém o descubrisse e que nos deixassem voltar em paz. O meu olhar tomou atenção aos passos de Jack e a maneira como ele agia perante a lei. Aproximou-se de mim e olhou-me nos olhos. - O capitão está à tua espera.
- Ordena os teus homens que saiam do meu navio! - ordenei-lhe. - Jack, eu não sei que tesouro é esse que vocês tanto procuram!

- Tu és prisioneira! - exclamou. - Não tens autoridade nenhuma neste navio.
- Tu também não tinhas autoridade nenhuma de me teres feito o que fizeste! - disse-lhe, atirando-lhe a verdade à cara.
Jack agarrou no meu braço e conduziu-me ao camarote do capitão. Olhei para ele frustrada e entrei a seguir. O camarote era um sítio escuro, com uma pequena janela no fundo. Aproximei-me mais da claridade e na minha direcção caminhava um homem alto e musculado.
- É um prazer vê-la menina Deverport! - exclamou.
- Desculpe? - perguntei atónita quando ele proferiu o meu apelido.
- De facto a sua beleza não desvaneceu...dadas as suas condições de habitação. - disse com ironia.
- É o capitão deste navio? - perguntei-lhe.
- Falha minha! - ironizou. - Permita-me que me apresente...Capitão Charles Castro. - os seus olhos castanhos escuros pousaram nos meus. O seu olhar era duro, cansado e obsessivo.
- Como é que sabe o meu nome? - perguntei.
- Não lhe escapa nada, pois não menina Deverport? - constatou. - Eu tive o privilégio de conhecer o seu pai.
- Não querendo parecer rude, mas o seu tom pareceu-me sarcástico. - afirmei.
- Interpretou mal as minhas palavras... - disse-me. - Robert Deverport era um homem leal, bom e dedicado a servir a marinha real... - contou-me. - É uma pena que a filha tenha tomado um rumo tão diferente à sua vida.
- O que faz parte do meu passado não lhe diz respeito! - exclamei arrogantemente.
- Dada a sua condição de ser mulher solteira, capitã de uma tripulação de falhados, não lhe resta muito mais. - assentiu.
Aproximei-me mais do que determinada do homem que tinha à minha frente. - O que quer de mim?
- A Jane, e toda a sua tripulação, esperam a forca. - respondeu-me, mexendo no seu cabelo. Apesar da idade que tinha, os indícios de vaidade a si próprio estavam bem presentes. - Se voltar apenas como minha convidade, eu livro-a da forca.
- Mas? - perguntei-lhe sabendo que haveria algo mais por detrás de tal oferta.
- O seu pai era possuidor de um mapa muito valioso que nos conduzirá a um tesouro perdido. - afirmou.
- Não me resta nada do meu pai, a nossa casa de África ardeu. - respondi-lhe.
- É uma pena. - disse com ironia. - Esse tesouro poderia salvar-lhe a pele e à sua tripulação...
- Eu não tenho mapa nenhum! - afirmei.
- Nesse caso assistirá ao vivo à morte de cada um dos seus mortos-vivos tripulantes, um por um... - ameaçou-me.
- O que é que esse tesouro tem de tão valioso? - perguntei-lhe. - Já que estou metida no assunto exigo saber as circunstâncias!
- O desejo de querer conhecer sempre mais, por vezes pode tornar-se uma arma inimiga, Jane. - apontou. Aproximou-se de mim e colocou-se junto ás minhas costas, afastando o meu cabelo da orelha e sussurrou: - Não tens muito mais opções Jane! - o seu sussurro foi como uma pedra no meu coração. - Jack! - chamou. Por mais abalada que me encontrasse, eu tinha de arranjar uma solução para salvar o meu filho. E Jack contra mim? Como é que a vida de uma pessoa muda assim tanto? Jack entrou no camarote e pegou-me num dos braços, levando-me de volta para o convés. O meu olhar paralisou assim que vi dois homens a agarrar cada um dos braços do meu filho.
- Encontrámos esta criança a bordo do navio, senhor! - disse um dos homens a Jack.
Robin tentou manter-se calmo, mas o seu olhar indiciava sinais de medo e de perigo.
- Larguem a criança! - ordenou Jack. As suas palavras, por segundos, deixaram-me mais aliviadas. Porém, Jack aproximou-se de Robin e aí o meu coração voltou a bater cada vez mais depressa.
- Um rapazinho a bordo! - exclamou Jack. - Não é comum não. - eu mantinha-me atenta a todas as reacções de Jack. Pai e filho estavam pela primeira vez juntos, em frente um do outro, e nenhum deles sabia o seu grau de parentesco um com o outro. Jack retirou o chapéu de Robin e acariciou-lhe o cabelo. - A criança está assustada. Ela deve voltar connosco para terra.
- O quê? - questionei-o.
- A lei não permite que crianças sejam enforcadas. - informou-me. - O rapaz merece uma vida melhor. - Forçadamente dei razão a Jack. Robin merecia tudo o que eu lhe pudesse dar. Uma vida longe do perigo, uma vida de conforto. Porém, jamais permitiria que essa vida fosse longe de mim.
- Jane, estou com medo! - disse Robin agarrando-se a mim.
- Não faz mal Robin, todos temos medo. - disse-lhe tentando acalmar-me. - Tu e eu estamos juntos nisto e nada nem ninguém nos vai separar. - prometi-lhe. - Robin, tu tens de me prometer que vais ser forte aconteça o que acontecer!
- Sim mãe, eu prometo! - exclamou. Assim que a palavra «mãe» ecoou nos ouvidos de Jack, este institivamente olhou para nós e ficou perplexo a olhar para nós. Aproximou-se de mim e levantou-me calmamente.Num acto de defesa Robin pôs-se à frente, mas eu tirei-o do caminho. Jack olhou para mim fixamente e perguntou: - Tu tens um filho Jane?

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Capítulo 9 - Reencontro


Estranhamente aquele era um dia de nevoeiro. Habituei-me a acordar com o romper da aurora. Porém, hoje abri os olhos mais tarde devido ao clima. O Sr. Thomas sempre interpolou os dias de nevoeiro como dias de azar. Nunca acreditei muito nas suas crenças, porque eram quase como profecias antigas. Mas porquê não acreditar? Nada neste mundo é impossível.
Assim que saí do meu camarote, Robin já saltava de um lado para o outro, com um pau na mão, fingindo ser um bandido que governava os sete mares. Reconhecia o seu espírito. Os seus olhos castanhos brilhavam com toda aquela excitação de uma personagens de uma história.
Reparei que Marcus estava demasiado concentrado na profundeza daquele nevoeiro. O bichinho da curiosidade atacou e aproximei-me dele, querendo saber o porquê de tanta concentração naquela imagem vazia e misteriosa.
- Anceias por ver algo Marcus? - perguntei.
- Capitã, dizem que os dias de nevoeiro trazem azar, mas eu acredito que tragam sorte. - respondeu-me. - Eu uso este brinco na orelha, acredito que me traga sorte. - levantou os cabelos que tapavam a sua orelha esquerda e vi o seu brinco. - Por detrás deste nevoeiro poderá estar uma ilha deserta, um navio naufragado, uma donzela naufragada que quem sabe poderia ser minha noiva.
A sua história fez-me sorrir. - És sempre assim tão sonhador?
- Sonhar não faz mal aos homens. - afirmou. - Por vezes é preciso sonhar para se chegar ao que é mesmo real. - as suas últimas palavras fizeram-me pensar bastante. Era bom ver o brilho nos olhos e o entusiasmo de alguém que sonhava por algo que realmente desejava. Era incrível ver que Marcus, apesar da vida que tinha, tinha tempo de sonhar e de alimentar o seu sonho com pequenas esperanças, mas que para ele eram grandes vitórias.
- Então não deixes de sonhar Marcus! - aconselhei-o.
- A capitã também devia de sonhar mais vezes! - aconselhou-me, também.
O meu sonho era ver o meu filho feliz e com um sorriso na cara todos os dias. Isso era a minha fonte de felicidade. Mas talvez Marcus tivesse razão, talvez eu também devesse encontrar a minha própria felicidade. Uma vaga de vento invadiu-me e transportou o meu olhar para o mastro do navio, onde se encontrava Lyeel com a sua luneta. Interpretei como se fosse uma voz que me chamasse e preparava-me para dirigir até ele. Porém, a sua voz ouviu-se no meio da brisa: - Navio à vista! - gritou com um tom de voz preocupante. O meu coração disparou de anciedade. - Bandeira? - perguntei. Lyeel pegou novamente na sua luneta e verificou: - É um navio da marinha real!
- Homens às suas posições! - ordenei. Por entre correrias e encontrões, encontrei Robin e agarrei-o, levando-o para um canto. - Robin, tu vais fazer exactamente o que eu te vou dizer.
- Mãe, o que se passa? - perguntou-me. Pela maneira como me chamou percebi que estava assustado.
- Robin, não tenhas medo. - confortei-o. - Vais lá para baixo, junto do porão e aí vais esconder-te dentro de um dos caixotes, e só sais de lá quando perceberes que não estás em perigo.
Robin assentiu, mas depressa questionou-me - E tu?
- Não te preocupes comigo! - pedi-lhe, dando-lhe de seguida um beijo leve na sua face.
Nunca em tempo algum tínhamos avistado um navio da marinha real. O melhor que poderíamos fazer era sermos o mais discretos possíveis, e felizmente a nossa bandeira não estava hasteada. Quando me voltei para trás, serviçais da marinha com as suas ilustres fardas invadiram o meu convés, apontando armas contra os membros da minha tripulação.
- Ninguém dispara! - ergui a minha voz. Tanto os meus homens como os outros levantaram armas. - Eu sou a capitã do navio. - informei-os. Notei o ríspido riso que alguns homens teceram devido à minha apresentação.
- Capitã, apenas precisamos de revistar o seu navio, de forma a poderem prosseguir a sua viagem. - informou-me um dos serviçais.
- O que procuram? - perguntei.
- Foi roubado um tesouro que pertence à Inglaterra. - respondeu-me. - Queremos certificar-nos de que não sois possuidora desse mesmo tesouro.
- Não vão encontrar nada. - respondi-lhe.
- Então, não haverá problema de o meu superior e dos restantes homens revistarem o vosso navio. - afirmou.
O meu coração batia fortemente. Controlava os meus nervos, mas a segurança de Robin estava em perigo. Engoli seco e fiz sinais aos meus homens para que tivessem atentos. De repente, no meio do nevoeiro surgiu um vulto. À medida que se aproximava de mim, a sua imagem tornava-se nítida na minha mente. Aquele andar, aquela postura particular. Eu não queria acreditar no que os meus olhos estavam a ver. O vulto misterioso era Jack. Durante segundos o nevoeiro tornou-se mais agressivo, a multidão desapareceu e apenas estávamos eu e ele. Como se ele tivesse regressado da terra dos mortos. O seu rosto tornara-se mais adulto. Aquela sua expressão de rapaz de dezoito anos desvanecera e transformara-o num homem. O seu corpo desenvolvera-se e a sua barba tornara-se mais grossa.O seu sorriso irónico fora substituído por uma expressão mais madura. Por detrás da sua face desconhecida, encontravam-se aqueles olhos castanhos que foram de encontro aos meus...
- Revistem o navio homens! - ordenou. Ao ouvir a sua voz senti um aperto no peito e tornou-se difícil para mim respirar.
- Jane... - disse-me Lyeel segurando-me no braço.
Bastaram três passos para que Jack e eu estivessemos frente a frente.
- Olá morena... - cumprimentou-me não com o seu habitual tom irónico, mas com um tom de surpresa.
Eu não tinha palavras para lhe dizer. Ainda estava estupfacta com o que via há minha frente. Jack tornara-se oficial da marinha e eu estava oficialmente condenada. O Sr. Thomas tinha toda a razão. As suas palavras estavam mais que certas e aquele dia de nevoeiro ainda só estava no princípio...