Deixem a vossa marquinha *.*

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Capítulo 20 - Tudo volta ao início

Passados minutos ancorámos. O capitão Charles ordenou que os botes fossem preparados para desembarcarmos. Eu fui até ao interior do navio buscar o meu colete, a minha espada e cordas. Enrolei-as à volta da minha cintura e apanhei o cabelo prendendo-o com um gancho. Coloquei a minha mão no bolso esquerdo do colete e surpreendemente retirei de lá a faca que o Sr. Thomas me oferecera como presente num dos meus aniversários. As minhas iniciais gravadas. Durante segundos entrei no mundo das recordações. Lembro-me desse aniversário. Estava a bordo do Destiny há muito pouco tempo e conhecera Jack recentemente. A mesma faca que eu utilizei para me defender do corsário que me tentara fazer mal. A faca que derrubou aquele sangue. Derrubaria muito mais? Coloquei-a de volta no bolso e voltei ao convés.
Robin estava exaltado ao ver tanta confusão ao seu redor. Era a primeira vez que pisariamos terra desde que embarcámos. Aproximei-me do meu filho e coloquei a minha mão no seu ombro.

- Robin, estás pronto para ir? - perguntei-lhe.
- Sim Jane. - respondeu-me.
Beijei-o na face e de seguida abracei-o. Ajeitei-lhe o colete e o chapéu. Dei-lhe a mão e dirigimo-nos para junto de Lyeel, Sr. Thomas e Marcus.
- Menina Deverport? - chamou-me o capitão Charles.
Disse a Robin para ficar ali e aproximei-me do capitão.
- Admiro a sua capacidade de liderança Jane! - exclamou o capitão Charles. Não se tratava de um elogio, mas sim de palavras com outro sentido.
- O que é que tenciona com isto? - perguntei-lhe.
- Herdou essa perspicácia toda do seu pai! - afirmou.
- Eu já lhe pedi para não mencionar o meu pai! - exigi.
- Nós os dois menina Deverport poderíamos governar este e o outro mundo! - exclamou.
- Eu tenho o meu navio, a minha tripulação e a minha vida! - respondi-lhe. - Não tenciono abdicar disso por uma vida ao seu lado! - a sua expressão não era de ódio, mas feições não eram as mais simpáticas. - Não pense que pode fazer chantagem comigo! - disse-lhe virando-lhe as costas. Notei que Lyeel nos tivera a observar de longe. O Sr. Thomas, Robin e Marcus já estavam no bote e antes de eu descer as escadas Lyeel puxou o meu braço.
- Está tudo bem Jane? - perguntou-me.
- Sim, está. - menti. - Obrigada Lyeel.
- Jane?
- Eu só quero que isto acabe Lyeel! - exclamei, passando para fora do navio para descer as escadas. Lyeel veio a seguir. Sentei-me na estaca de madeira e esperei que chegássemos até terra. Coloquei a mão novamente no bolso para sentir a faca. Com ela sentia-me mais protegida, e se fosse preciso derramar sangue para me proteger, fa-lo-ia. O nosso bote avançou primeiro, olhei para trás e Jack com o resto da tripulação vinham noutro bote. Virei-me para a frente e observei a ilha. Não havia sinal de habitação, era de certo uma ilha desabitada. Não havia fumo de pudesse evidenciar uma fogueira. Para nosso bem era bom que assim fosse.
Quando o bote embateu na areia, saltei cá para fora e sorri por pisar novamente solo firme. Descalcei as minhas botas para sentir a areia molhada nos meus pés. Coloquei as botas no bote e andei. O sol já se tinha posto e o luar começou a espreitar. Eu peguei no pau de madeira incendiado para poder iluminar o cenário à minha volta. Ordenei aos meus homens que se espalhassem pela ilha, tendo indicado a Robin que não se afastasse de Thomas. O bote de Jack aportou de seguida. Ele saiu e veio na minha direcção. Vinha com um sorriso atrevido, por isso daquela boca não ia sair coisa boa.
- Nunca pensei em voltar a uma ilha destas comtigo! - exclamou.
Sorri com o seu comentário. - Desta vez não naufragámos e estamos acompanhados! - acrescentei.
- Olha o que deu termo-nos embebedado da última vez! - exclamou e ambos olhámos para Robin.
Meditei sobre tudo o que já tinha acontecido desde aquela noite até hoje. Em momento algum, após o nascimento de Robin me arrependi de ter dormido com Jack.
- Por ele valeu a pena. - disse suspirando.
- Sabíamos o que estávamos a fazer, apesar do efeito da bebida? - perguntou Jack.
A sua questão fez-me sorrir. - Não culpes a bebida Jack Nilton! - exclamei. Jack respondeu ao meu sorriso e piscou-me o olho. Juntamo-nos aos restantes tripulantes que recolhiam os mantimentos. Lyeel transportou uma enorme caixa de mantimentos e colocou-a dentro do bote. Eu, Jack e outros marinheiros fomos tentar procurar água. A ilha era silenciosa, e como era de noite os barulhos da Natureza estavam adormecidos. Iluminei o caminho em frente e deparei-me com um ribeiro. Jack abaixou-se, colocou um dos dedos dentro de água e depois levou-o à boca.
- Sim, é potável. - confirmou Jack, dando indicações aos homens para abastecerem os barris. Enquanto isso, Jack pediu-me que o acompanhasse até um pouco longe dos homens. Parámos e Jack segurou no pau de madeira que nos iluminava. - Isto deve estar pesado. - disse.
- Portanto, só agora é que te lembras de ser cavalheiro e de pegares nisso! - reclamei.
- Tu gostas de guiar a expedição, e por isso deixei-te com isso! - respondeu.
- Porque me trouxeste até aqui? - perguntei-lhe.
- Para poder fazer isto. - respondeu-me beijando-me. Nesse momento foi como um fogo nos iluminasse. Entrei numa máquina do tempo e recuei ao dia em que o vi peloa primeira vez e depois ao dia em que nos beijámos pela primeira vez. Porque tudo volta ao início. Tantos dias que eu esperei poder sentir os seus lábios junto dos meus. Jack com a sua mão disponível desprendeu-me o cabelo e aconchegou-me até ele. - Estamos nisto juntos tu e eu Jane!






[Peço desculpa a todos os meus seguidores pela demora, mas devido a tarefas escolares não consegui actualizar mais cedo]

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Capítulo 19 - Um erro de cálculo


O silêncio, a ausência das nossas palavras pode significar muita coisa. Pode significar surpresa, emoção, desilusão, tristeza e também choque. Robin ficou em silêncio durante minutos e minutos. Não o pressionei e dei-lhe espaço. Ele olhava para ochão e depois olhava para Jack com tristeza no olhar. A sua mão estava entrelaçada com a minha e ele apertou-a com força. Puxei-o carinhosamente para junto de mim e beijei-o na face.
- Robin, não importa os teus laços com o Jack...com o teu pai. – disse-lhe. – Nós estamos juntos nisto!
- Ele... – soluçou Robin. Pressionou os olhos para não chorar e olhou de novo para Jack. O meu filho não se deteve e caminhou até Jack.

[Narrado por Jack]

Vi-o a caminhar na minha direcção. Atravessou o convés inteiro e nunca retirou o seu olhar de mim. Não sabia o que lhe dizer nem do que falar com ele. Agora ele sabia dos laços de sangue que nos uniam.
- Porque é que te foste embora? – perguntou Robin calmamente. A sua pergunta não deixou surpreendido. O que me deixou espantado foi o tom com que me abordou. E era perfeitamente compreensível que ele quisesse saber a verdade dita por mim.
- Robin, a tua mãe era a pessoa mais importante na minha vida naquela altura... – ressenti-me, pois Jane continuava a ter uma grande importância na minha vida. – E eu só iria magoá-la mais se ficasse no Destiny.
- A mãe nunca me falou de ti, até hoje. – disse timidamente.
- Eu teria feito a mesma coisa. Para quê alimentar esperanças de ver uma pessoa que nem sabemos se está viva. Eu passei a ser um fantasma na memória dela. Um fantasma adormecido...
- Ainda a amas? – interrompeu-me. E esta pergunta sim, deixou-me surpreso. O olhar de Robin penetrava o meu, o que me deu a entender que esta resposta ele queria mesmo saber.
- Robin...
- Jack, a resposta é sim ou não! – exclamou determinado e seguro. – Porque é que os adultos complicam tanto o que é simples?

[Narrado por Jane]

Robin olhava fixamente para Jack. Fora uma grande descoberta para ele, mas mais tarde ou mais cedo tinha de saber a verdade. Jack abaixou-se e ficou da altura de Robin. Este olhou-o nos olhos e soluçou de novo. Num acto quase instintivo Robin agarrou-se a Jack a chorar, pondo-me também a mim a chorar. Jack correspondeu ao abraço e beijou-o numa das faces. Limpei as minhas lágrimas e contemplei aquela maravilhosa entre pai e filho. No meu subconsciente sempre quis que este momento acontecesse, que os dois se conhecessem um dia. Robin merecia isso, e Jack merecia tê-lo como filho. Aproximei-me de ambos. Robin continuava a abraçar Jack com força.
- Nunca mais te vou abandonar Robin! – prometeu Jack ajeitando-lhe o chapéu de pirata. – Estou ancioso por passar o resto da minha vida ao teu lado, a ver-te crescer. – disse Jack. – Quero estar cá para te ouvi dizer que deste o teu primeiro beijo, para me contares da tua primeira bebedeira, da tua...
- Jack! – interrompi-o. – Eu estou aqui! – exclamei.
- Vai-te habituando morena! – exclamou. As suas palavras recordaram-me o antigo Jack. O irónico, sedutor e provocador Jack Nilton de há anos. O brilho no olhar era o mesmo, porém desta vez era um brilho maior. Robin preenchera os espaços vazios na vida de Jack. Desde que soubera que tinha um filho, Jack mudara. Apesar de todas as complicações com a marinha real, Jack voltara a sorrir como dantes, o seu olhar fixava-se em Robin em bastantes alturas.
Jack levantou-se e sorriu-me. Abraçou Robin uma vez mais e depois deixou-o ir brincar. Olhei para Jack e notei que este estava feliz por ter Robin na sua vida. Jack olhou de seguida para mim e pegou na minha mão. – Agora sim Jane, sinto-me completo. – Sorri-lhe e acariciei-lhe a mão. – Será que nós também vamos ter uma nova oportunidade Jane? – perguntou-me.
- Talvez, um dia... – respondi-lhe. – O tempo é incerto, e agora quero que a missão acabe para regressar ao Destiny.
- Eu espero que o tempo nos dê essa oportunidade. – afirmou Jack largando a minha mão a afastou-se.
(...)
Era o pôr-do-sol. Era a minha altura favorita do dia.Estava no convés, com os cotovelos pousados na berma do navio, suportando o peso do meu rosto. Eu contemplava o oceano. Um oceano nunca antes navegado pelo Destiny, um mar de perdição, um lugar belo e mágico, e ao mesmo tempo tentador, porque o que é desconhecido é tentador para cada homem. Desejava aproximar-me da costa e poder pisar o areal novamente.Nesse dia estava vento, e com o vento esvoaçavam várias partículas e pós. Plumas de umas flores próprias da mata tinham uma cor quase transparente, e cada vez que lhe tocávamos separava-se em pequenas partes. Um pedaço desse veio parar ao meu rosto e delicadamente retirei-o com a mão. Supreendi-me, pois já há muito tempo que não via tal coisa. Remexi com os dedos e aquilo desfazia-se cada vez mais.
Lyeel informou-me que me esperavam no camarote do capitão Charles, onde todo o concelho da marinha real estava reunido. Virei-me e pedi-lhe que fosse andando, pois já iria ao seu encontro. Olhei de novo para o oceano e de seguida para a minha pluma. Atirei-a para o mar e deixei-a voar como o vento. Uma pequena porção de flor voava livremente, e essa era a liberdade que eu não voltaria a ter enquanto todos estes problemas estivessem resolvidos. Caminhei em direcção ao camarote do capitão. Abri a porta e todos olharam na minha direcção. Agarrei os meus cabelos, que ondulavam com o vento e fechei a porta. Jack olhou de relance para mim, mas ao notar que o capitão Charles o observava, desviou o olhar.
Mapas foram estendidos por cima da mesa de madeira. A luz do sol desaparecera, pelo que velas foram acesas para iluminarem o camarote.
- Esta expedição está a demorar mais tempo do que eu previa! – suspirou o capitão.
- O meu pai sempre me dizia que quem espera, sempre alcança! – intervi.
- E o seu pai tinha toda a razão menina Deverport. – concordou sarcasticamente.
- Mas ele também me dizia que os prémios só se alcançam se o fizermos com dignidade, e não à custa de futilidades e de ambições! – finalizei. O capitão Charles pousou o candelabro em cima da mesa e aproximou-se de mim. Notei que Jack se preparava para me defender, mas o senhor Thomas impediu-o.
- Não tendes medo de nada, pois não Jane? – perguntou-me.
- E do que é que eu deveria de ter medo? – perguntei-lhe.
- Não brinque comigo Jane! – avisou-me. – Talvez devesse recear-me. – assentiu. –Não se esqueça da farda que uso.
- O verdadeiro valor dos homens não se mede pelo seu poder enquanto ser, mas sim pelas atitudes que tomam!
- Muito perspicaz... – afirmou olhando-me fixamente. – Não se esqueça que posso ser eu mesmo a colocar-lhe uma corda à volta desse seu lindo pescoço...
- E não se esqueça que as terras são minhas, e vocês dependem do meu consentimento para obeterem o que querem.
- Foi uma boa jogada, menina Deverport! – afirmou, afastando-se de mim, voltando para a mesa. Os mapas estavam assinalados com círculos nas ilhas mais próximas. Aproximei-me para observar.
- Pelos cálculos estamos a milhares de milhas de distância de qualquer solo firme. – disse um dos marinheiros.
Naquele momento lembrei-me da pluma que tivera na minha mão. Não havia espécies daquele género em alto-mar, teríamos de estar próximos de terra.
- Ou talvez – disse eu. – Podemos ter terra mais próxima do que imaginamos.
Os presentes estranharam a minha afirmação, mas um deles não se deteve e retirou a luneta de cima da cómoda dirigindo-se até ao convés. Eram os últimos raios de sol do dia e ele apressou-se para tentar observar. A luneta girou de um lado para o outro, até que se deteve num ponto fixo. O marinheiro baixou-a dando a confirmação de que estávamos perto de terra.
- Parece que se enganou nos cálculos, capitão! – exclamei, afastando-me dele. O seu olhar de repúdio perseguiu-me, mas eu contemplava a minha própria felicidade por saber que por momentos estaria fora deste navio e poderia sentir a areia debaixo dos meus pés.