Deixem a vossa marquinha *.*

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Capítulo 18 - A Verdade

Uma vez mais deixava algo para trás. Durante anos da minha vida deixei pessoas, lugares e recordações para trás, sem nunca olhar de novo. O importante era seguir em frente. Mas era o navio do meu pai que ficara aportado naquela ilha. Só desejava que quando tudo isto terminasse, eu podesse voltar ao Destiny e finalmente seguir com a minha vida para a frente. Mas no momento eu só tinha certeza de uma coisa, uma missão tinha de ser cumprida, vidas estavam em risco, e um tesouro estava por descobrir. Naquela manhã, vi o Destiny a desaparecer pelo meio da nublina e aí sim, decidi não olhar mais para aquela ilha.
Assim que me virei reparei que o capitão Charles me olhava fixamente. Os seus olhos fixavam o meu rosto, à medida que se aproximava de mim.
- Espero que esteja confortável com o nosso navio! - exclamou.
- Com os seus olhos penetrados em mim, o conforto não é o melhor! - reclamei.
- Eu percebo a sua situação Jane. - disse. - Uma mulher que já passou por tanto, com um filho nos braços, ainda assim a arriscar a vida desta maneira.
- Dispenso as suas palavras capitão Charles! - exclamei. - Não lhe admito que refira a minha vida e muito menos o meu filho! - a maneira de ser deste homem, a maneira como olhava para mim deixava-me irritada e desconfortável. O meu sexto sentido alertava-me de que este homem era tudo menos um homem de confiança. - A única razão pela qual eu aceitei isto foi pelo Robin.
- A Jane sendo uma mulher tão bonita não deveria estar acompanhada pela sua tripulação. Porque não se junta a nós? - perguntou-me.
- Prefiro ficar com os meus homens, se não se importa! - respondi virando-lhe as costas. Senti o meu braço a ser agarrado. - Largue-me!
- A Jane não se encontra mais no seu navio. - ameaçou-me.
- Eu não tenho medo de si! - exclamei.
- Se quer ficar em segurança, é bom que as coisas sejam feitas como eu quero! - ordenou o capitão Charles.
- Eu não sou nenhuma prisioneira nem sua escrava! - protestei. - Eu sou uma mulher livre que não admite ser escrava de ninguém, muito menos de um homem como você! - retirei o braço e virei-lhe costas.

Atravessei o convés completamente revoltada. Os marinheiros exerciam as suas funções, e olharam para mim quando passei. Sentei-me debaixo das escadas e chorei. Tinha tanta coisa na cabeça, tanta responsabilidade. O Sr. Thomas sempre me disse que eu deveria de ser forte e levantar a cabeça e seguir em frente. Mas, todas as pessoas fortes acabam por ter o seu momento de fraqueza. Limpei as lágrimas e fechei os olhos por momentos. A imagem que via de olhos fechados era mágica e única. Eu estava no Destiny juntamente com Robin e navegávamos juntos ao pôr-do-sol de volta a África, onde começaríamos tudo de novo. Ao meu lado uma mão estendida pediu a minha. Eu sorri e entreguei-lhe a minha mão. Uma mão desconhecida que eu quera saber a quem pertencia.
- Jane acorda!
- Eu estou acordada Jack! - exclamei irritada.
- Um dos marinheiros contou-me o que aconteceu, estás bem? - perguntou-me.
- Claro que sim! - exclamei. - Jack, eu estou habituada a lidar com homens assim!
- Jane, vai tudo correr bem. - disse-me pegando cuidadosamente no meu braço para o massajar. - E quando tudo isto acabar, tu e o Robin podem voltar a ser uma família.
O toque das suas mãos era tão delicado e cuidadoso. Os seus dedos massajavam a pele do meu braço, tendo percorrendo até à minha mão. Os olhos de Jack cruzaram com os meus, mas Robin apareceu perguntando por mim. Retirei depressa a minha mão para que Robin não desconfiasse de nada. Indiquei-lhe que se sentasse ao meu colo e abracei-o. - Que se passa Jane? - perguntou-me.
- Nada meu anjo, está tudo bem! - garanti-lhe.
Jack sentou-se ao meu lado e endireitou o chapéu de Robin.
- Já viste o meu chapéu? - perguntou-me Robin. - Pareço um verdadeiro pirata!
Jack e eu sorrimos impulsivamente. - Acho que por agora é melhor seres um marinheiro! - afirmou Jack.
- Eu vou arranjar uma espada de madeira, e uma pala para pôr no olho. - disse Robin saltando no meu colo. A sua inocência por vezes era maravilhosa. A sua espontaneidade contagiava o meu coração e dava-me força e coragem para sorrir e abraçar a vida. Robin afastou-se de nós, tendo-se aproximado do Sr. Thomas.
- Ele é uma criança maravilhosa Jane! - exclamou Jack. - Todos os minutos eu arrependo-me de ter perdido todos estes anos. - escutei Jack atentmente. - Foi o medo que me fez afastar de ti, o facto de eu achar que merecias muito melhor do que eu te podia dar. - o arrependimento nos seus olhos era visivel.
- Jack, se o arrependimento matasse, já estarias morto há muito. - disse-lhe. - O bom dos nossos erros é que podemos aprender com eles, e fazer melhor daí em diante. - afirmei com sinceridade. - E o Robin merece que dês essa oportunidade a ti próprio, de fazeres melhor e que lutes por ele!
- Talvez essa oportunidade possa surgir connosco, morena. - afirmou Jack. - O Robin tem muita sorte em te ter por perto. - exclamou levantando-se e afastando-se de mim.
- Jack? - chamei-o. Ele olhou para trás. - O Robin merece saber a verdade, e eu vou contar-lhe. - informei-o. Jack assentiu com a cabeça e encorajou-me a fazê-lo. Preferi fazê-lo sozinha. Precisava de falar a sós com Robin e explicar-lhe tudo o que aconteceu. O meu medo de lhe contar a verdade aumentava a cada segundo. Iria ser muita coisa para Robin, mas eu fá-lo-ia de uma forma simples e verdadeira. Aproximi-me do Sr. Thomas pedi a Robin que viesse comigo e caminhámos os dois de volta as escadas...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Capítulo 17 - Início de uma nova viagem

Dois dias depois, ao seguir do romper da aurora, toda a tripulação estava reunida no porto, à espera das ordens para embarcar. Desta vez iria embarcar com uma tripulação bem diferente daquela a que fui habituada. Vestes da marinha real, bordadas pelas mulheres até ao mínimo detalhe. As perucas grandes que tapavam os poucos cabelos que muitos daqueles homens tinham. E ainda para mais aquela infinita quantidade de armas que cada um levava. Fez-me lembrar o Destiny na sua época de ouro, como o meu pai lhe chamava. O meu navio continuou aportado aqui e eu jurei a mim mesma, que eu dia voltaria para o recuperar.

Robin observava aquele movimento todo com bastante entusiasmo. Não estava habituado a tanta confusão de volta de um navio. Mostrava-se excitado por poder voltar novamente ao mar.
Eu encontrava-me junto aos cavalos da carruagem que nos trouxeram até ao porto. Eram cavalos lindos e com um pê-lo muito bem escovado. Animais tão meigos e que adoravam devorar cenouras e feno. Ontem passara o tempo junto dos estábulos, algo que nunca tinha feito, visto que passei grande parte da minha vida em alto-mar. De repente ouvi o barulho de sapatos de salto alto, e presumi que fosse Sesha. Estava correcta. Trajada de um vestido verde claro com rendas brancas. Fazia-se acompanhar de um leque devido ao calor daquela manhã.
- Boa sorte Jane! - exclamou Sesha. Estranhei o seu tom. O som estridente e espalhafatoso de que eu me habituara a ouvir desaparecera. Eram palavras sinceras.
- Obrigada Sesha. - agradeci.
- Eu sei que não nos aturamos uma à outra, por causa do Jack...mas eu sei que não deve ser fácil estar na tua situação. - disse aproximando-se de mim. - Sabes Jane, o Jack inconscientemente falava muitas vezes em ti. - estas últimas palavras de Sesha deixaram-me surpresa. - Sempre percebi que essa tal Jane tinha sido muito marcante na vida dele, mas nunca soube o quanto. - fez uma pausa e olhou-me nos olhos. - Agora entendo o porquê dele nunca ter consumado o nosso casamento.
- Sesha...
- Não digas nada Jane. - pediu. - O Jack é um homem muito independente. Ele só pode assentar com a mulher certa, e eu não sou essa mulher. - os seus olhos não estavam tristes, tinham esperança e confiança. - Bem, boa viagem Jane! - exclamou voltando ao seu tom exaltado. Notei que de seguida, Sesha aproximou-se de Jack.

[Narrado por Jack]
Sesha caminhava na minha direcção com a sua maneira de andar característica. Os seus passos mostravam a sua personalidade robusta e de classe alta. Durante os anos que passei ao lado de Sesha, pecebi que era uma mulher que gostava de exibir tudo o que possuía, incluindo-me.
- Então, é desta que nos despedimos a sério Jack? - perguntou ironicamente.
- Sabes que não sou de ficar num sítio por muito tempo. - respondi-lhe retribuindo a minha ironia.
- Vai custar-me ver-te partir. - disse. - Mas depressa arranjo outro pretendente! -exclamou.
- Tenho a certeza que sim. - concordei.
- Dá-me um abraço Jack! - pediu Sesha abraçando-me logo de seguida. - Se amas mesmo aquela piratinha que afirma ser tua "prima", não desistas dela. - aconselhou-me. Ela afastou-se de mim e não olhou para trás. Esta fora a última vez na vida que vira Sesha. Soube, mais tarde, que se casara com um bom partido e que herdara a fortuna do pai. Tudo o que ela sempre sonhou em toda a vida. Mas naquela manhã de calor era o início de uma longa viagem. Os nossos destinos estavam agora a tomar o seu rumo. Ninguém sabia o que ia acontecer, poderíamos voltar sem vida, poderíamos servir Inglaterra, como poderíamos servir apenas os nossos próprios interesses. O fim da viagem nem poderia ser previsto. O tempo era incerto, e os perigos desconhecidos. Vidas de marinheiros e de foras da lei estavam dependentes daquela a que era considerada a grande viagem do reino. Olhei para Jane e reparei que esta estava a ser escoltada para o navio. Robin estava sentado em cima de uma pedra a olhar para o mar. Tinha um chapéu na cabeça e com uma palha na boca. Aproximei-me dele.
- Preparado? - perguntei.
- Estou sempre! - respondeu-me com um sorriso. - A Jane diz que temos sempre de estar preparados para o futuro!
- E a Jane tem razão! - concordei. - Esta viagem vai ser um bocadinho diferente das que estás habituado Robin. - expliquei-lhe. O seu rosto iluminou-se com os raios de sol por olhar para cima. - Desta vez será uma viagem a sério, na qual a tua mãe terá uma grande responsabilidade.
- A minha mãe é a capitã do Destiny, ela é muito responsável. - afirmou.
- Eu sei. - respondi-lhe com um sorriso. - Já andastes às cavalitas?
- Às quê? - perguntou-me.
- Sobe para as minhas costas, que eu mostro-te. - pedi-lhe. - Robin pôs-se em cima da rocha para que ficasse mais alto e depois apoiou-se nos meus ombros para subir. Caminhei com ele até ao navio. Atravessámos a rampa e larguei-o no convés. Robin rira-se e disse-me que queria repetir.
- Eu gosto da tua companhia Jack! - exclamou. As suas palavras deixaram-me com tanta alegria. Aos poucos Robin teria toda a sua confiança em mim. Porém, eu temia que tal se perdesse quando soubesse da verdade. - Achas que vamos voltar? - perguntou-me olhando para terra.
- Claro que vamos voltar! - respondi-lhe. - O Destiny não pode ficar aqui para sempre!