Deixem a vossa marquinha *.*

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Capítulo 4 - «Nunca te esquecerei, estejas onde estiveres»


[Narrado por Jack]

Naquela madrugada quando o bote embateu no oceano sabia que me iria arrepender de a deixar para trás.Tentei convencer-me a mim mesmo do contrário e que o melhor era eu desaparecer da vida dela e deixá-la ser feliz. Se eu tivesse ficado iria acabar por magoá-la ainda mais do que magoei. Partir era o melhor que eu podia fazer. Antes de tudo beijei-a enquanto ela dormia profundamente e sussurei-lhe: "Nunca te esquecerei, estejas onde estiveres". Puxei as cordas do bote, sentei-me nele e parti.
Louco ou não, a verdade é que passei quatro dias em alto-mar sem nada no estômago. Ao fim do quarto dia avistei terra. Nunca acreditei em palavras como "esperança" ou "fé", mas a verdade é que ambas fizeram sentido no preciso momento em que os meus olhos avistaram terra. Não fazia a mínima ideia de onde estava, só sei que estava bem longe do Destiny, e que a Jane estava a salvo. Black Diamond estava morto e nada mais a perseguia. Ao tentar sair do bote o meu corpo perdeu as forças e caí para dentro de água, ficando com o cabelo coberto de areia. Estava tão fraco que nem me conseguia mexer. De entre areia e água nos meus ouvidos ainda consegui ouvir vozes e passos a caminharem na minha direcção.
- Um náufrago! - exclamou uma voz. - Mãe, ajude-me aqui! - era uma voz femina, uma voz doce mas ao mesmo tempo grave.
Olhei para a frente e vi uma face corada, uns cabelos cor de mel e uns olhos castanhos. As suas mãos agarraram-me na face e a rapariga disse: "Vai tudo correr bem!". Se ela disse mais alguma coisa, não sei, desmaiei devido à fraqueza.

Quando acordei sentia-me não melhor porque o meu estômago ânsiava por comida, mas estava num ambiente mais quente e acolhedor que o bote do Destiny. À minha volta, vi o quarto iluminado com velas e ao meu lado um balde com água e um pano. Não era apenas o calor da casa, mas sim o meu corpo ardia de febre. Comecei a ficar assustado porque não sabia onde estava nem quem eram as pessoas que cuidaram de mim.
A rapariga dos cabelos cor de mel entrou no quarto onde eu estava deitado. - Oh, já acordaste náufrago! - exclamou sorrindo.
Sentei-me melhor na cama para que a visse melhor. - Onde é que eu estou? - perguntei-lhe.
- Está numa ilha africana. - respondeu-me.
- África? - perguntei-lhe. - Eu estou em África?
- Ilha Seychelle para ser mais precisa. - esclareceu-me.
Jane era de África. Não sei de que ilha ou de que país, mas este continente pertencia-lhe.
A rapariga aproximou-se de mim e encostou a mão na minha cabeça para me medir a temperatura. - Estás um pouco melhor, mas precisas de repousar e de te alimentares. - Atrás da rapariga uma mulher trazia um tabuleiro com um banquete para mim. Desde pão a fruta, nunca tinha visto tanta comida junta na minha vida, quanto mais ser servido numa cama.
- Estou num palácio? - perguntei.
- Não, estás na minha casa. - respondeu-me. - A propósito, o meu nome é Sesha.
- Jack Nilton! - apresentei-me, ingerindo um pedaço de pão seguidamente.
Sesha deu ordem à mulher que saísse do quarto e sentou-se ao fundo da minha cama. - Agora vais precisar de comer pelos dias que não comeste.
- Eu agradeço muito Sesha! - agradeci-lhe.
- Dormiste durante um dia inteiro Jack Nilton. - contou-me. - Por momentos pensámos que não irias sobreviver, e com a febre que estavas, as minhas criadas pensaram que eras uma causa perdida.
- Assim que acabar o serviço irei agradecer-lhes pessoalmente. - respondi-lhe com um pouco de ironia.Ela sorriu-me. - Ilha Seychelle? - perguntei-lhe novamente.
- Exactamente! - respondeu-me.
- Numa vida inteira desejei conhecer esta ilha, e por surpresa aqui estou eu! - exclamei.
- Há uma coisa chamada Destino Jack, conheces? - perguntou-me destacando um pouco de atrevimento. - Durante o tempo que estiveste com febre mencionaste dezenas de vezes o nome "Jane". - ao ouvir o seu nome tirei o pão da boca e pousei-o no prato.Ela percebeu a minha reacção e a sua curiosidade aguçou mais - Um amor perdido? - perguntou-me curiosa.
- Um amor perdido. - concordei tentando não mostrar o quanto esse amor fora o mais importante da minha vida e que eu próprio o atraiçoei.
- O mar é um poço profundo Jack. - explicou-me. - Quando se cai não se consegue subir. - fez uma pausa e observou a minha expressão. - Mas os que ficam, têm de seguir o seu próprio rumo.
Percebi a intenção de Sesha. A sua imagem doce e feminina escondia a sua faceta atrevida, pela percepção que tive em cinco minutos.
- Não te preocupes Jack, aqui vais melhorar. - confortou-me.
- Estou numa ilha pirata! - disse-lhe. - Isso conforta-me?
- Aqui estás a salvo de piratas, se é esse o teu medo Jack! - garantiu-me. - Desde que a tripulação do Ancension desembarcou nesta ilha que as coisas mudaram por aqui. - contou. - Cada vez mais temos conseguido afastar esses cobardes e pobres de espírito daqui.
- É essa a percepção que tens deles? - perguntei-lhe.
- Desumanidade e traição são os termos que melhor os caracterizam! - exclamou segura no que afirmava. - O meu pai faz questão de lhes tratar da saúde.
- O teu pai é da marinha real? - questionei-lhe. Se eu me encontrava na casa de um oficial da marinha real era morte certa para mim.
- Sim, e aposto que quando recuperares poderás ingressar nas companhias dele. - informou-me levantando-se da cama.
- Isso seria muito bom... - exclamei irónico.
- Vou deixar-te descansar Jack. - disse-me. - Até amanhã.
- Até amanhã. - respondi-lhe. Era o plano perfeito. Mentir sobre a minha identidade era o que me poderia salvar a pele e assim que o conseguisse fugiria daqui e encontraria um novo rumo para a minha vida.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Capítulo 3 - « Uma nova vida começara para mim»

Cada passo que dava mais desejosa ficava por entrar pela porta da casa dos meus pais. Apesar de legalmente não me pertencer eu sabia que os que habitavam a casa, outrora criados, me receberiam de braços abertos. Avistei o casarão e o jardim que o rodeava. Meu Deus, como estava belo! A minha mãe sempre exigiu que o mesmo fosse tratado como se tratasse de um jardim real. Nunca apreciei a beleza natural de uma parte da minha casa, mas hoje vi o rosto da minha mãe naquele jardim e reconheci a estima que ela tinha por ele.
- Bem-vinda a casa Jane! - exclamou o Sr. Thomas.
- Agora sim, estou em casa! - exclamei, avançando.
Lyeel mostrou-se um pouco receoso por voltar a viver numa casa, já que nunca tivera o privilégio de ter um lar como eu tive. Aproximei-me dele e dei-lhe a mão dizendo-lhe:
- Está tudo bem Lyeel!
Ele sorriu-me a apertou a minha mão com mais força e acariciou-a. Lyeel era tão querido e belo. Desejei tantas vezes nutrir por ele o mesmo que ele nutria por mim e todos os segundos o sentimento ia aumentando, mas tinha a noção que não era amor que eu sentia por ele. Por muito que me custasse admitir, era Jack quem eu amava e desejava estar ao meu lado.
Para minha surpresa Jill estava a regar as plantas com um balde que transportava água do rio. Aproximei-me e sorri ao vê-la.
- Jill! - chamei-a.
Ela interrompeu o seu trabalho e entendi que reconhecera a minha voz. Olhou para o lado e ficou surpreendida ao ver-me.
- Menina Jane! - exclamou surpreendida. Aproximou-se de mim e tocou-me na cara, para confirmar que eu não era uma miragem.
- Sou eu mesma Jill! - exclamei.
- Não acredito! - exclamou abraçando-me. - Graças aos céus que está viva! - abracei-a com muita força. Sentia-me mesmo feliz por estar ali em casa, com a pessoa que foi a minha segunda mãe. - Esta casa continua a ser sua Jane! - disse-me pegando no meu rosto, olhando-me nos olhos. - Não é um simples papel que delibra que esta casa já não lhe pertence.
- Obrigada Jill! - agradeci-lhe. - Há espaço para mais três, pelo o que me recordo da casa!
- Claro que há! - respondeu-me. - Sr. Thomas, é bom tê-lo de volta!
- É bom estar de volta Jill! - exclamou o Sr. Thomas.

Todos os criados me receberam de braços abertos. Os sorrisos dos que me criaram fizeram-se notar naquele fim de tarde. Jill preparou-nos uma refeição composta, na qual estava incluída a sua sopa deliciosa que eu sempre apreciei, mas embirrava por comê-la diariamente. Foi estranho e um pouco doloroso ver a cadeira do meu pai e ele não estar sentado nela. O Sr. Thomas sentou-se na mesma e eu ocupei o meu lugar. Foi um jantar agradável onde falámos sobre África. Não referi nada acerca do Destiny, e muito menos de Jack. A notícia que mais me entristeceu naquela tarde foi saber que a minha outra ama, Rosette falecera há uns meses, vítima de tuberculose, a mesma doença que vitimou a minha mãe.
Fora para o meu quarto. Iria estranhar certamente a cama, visto ultimamente a minha cama era uma rede. Abri o meu roupeiro e os meus vestidos ainda continuavam pendurados nos cabides e separados por cores e feitios, tal como Rosette adorava organizá-los. Jill preparou-me um banho e trouxe-me uma camisa de noite lavada e seca. Não estava nada habituada a este tipo de vestuário, mas foi bom senti-lo na pele novamente. No momento em que Jill se preparava para apagar a minha vela e impedi-a, pedindo-lhe:

- Por favor, hoje fica comigo!
Jill sentou-se ao fundo da minha cama e deu-me a mão.
- Acho que está a precisar de falar de mulher para mulher. - afirmou Jill. Era incrível a maneira como ela me conhecia. Peguei na mão dela e pousei-a sobre a minha barriga. Ela percebeu o que eu quis contar-lhe e acariciou a minha barriga. - Não está sozinha menina Jane! Todos nesta casa vamos ajudá-la a cuidar desse bebé!
Sorri-lhe e depois foi a minha vez de poisar a minha mão na minha barriga. Contei-lhe tudo o que se passara durante os meses de ausência, o modo como Jack entrara na minha vida e como saira. Quando dei por mim, os raios da aurora entraram através da janela. Uma nova vida começara para mim.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Capítulo 2 - Recordações

Passados três meses de viagem pude sentir de novo o areal africano nos meus pés. Descalcei as minhas botas e senti aquela frescura atlântica tão característica de África. Durante todos estes meses passados em alto mar, desejei muitas vezes voltar ao local onde me orgulhava de chamar casa. O cenário estava igual, as mesmas palmeiras a cobrirem a praia. Do outro lado da colina o porto estava vazio, pois a marinha real encontrava-se em alto mar, e achei que era a altura certa para voltar. Aquela praia era quase deserta. A minha casa era ainda alguns metros da praia, mas distanciava ainda alguns quilómetros da cidade, por isso o porto onde desembarcavam os navios era um pouco mais longe, e apenas o meu navio se encontrava nestas margens.
O meu regresso a casa permitiria-me começar de novo mais o meu bebé que vinha a caminho. Queria que ele ou ela tivesse a oportunidade de sentir o que eu sentia cada vez que vagueava por bosques e savanas. Seria mais seguro a criança nascer aqui, e protegê-la-ia dos perigos do oceano. A pirataria antigia o seu auge e quase todos eram apanhados pela marinha real inglesa e eram punidos pela forca. Aqui em terra sentia-me segura e tão cedo não tencionava voltar para o mar.
Uma hora depois, todos os membros da minha tripulação estavam reunidos comigo e com o Sr. Thomas na praia. Todos traziam uma pequena bagagem às costas, do pouco que tinham. Ordenei que partes de mobiliário do meu navio fossem retiradas, pois tencionava levá-las para casa comigo.
- Cavalheiros! - exclamei eu. - Foi um privilégio ter-vos no Destiny, com a vossa lealdade, a vossa determinação e a vossa fidelidade. - fiz uma pausa e observei-os. Uns estavam visivelmente tristes por regressar ao local de onde eram escravos e de onde não tinham família. Outros, por sua vez, partilhavam da mesma opinião que a minha. - Todas as aventuras têm um fim, e esta acabou. Há que seguir em frente e seguir o caminho traçado pelo destino de cada um!
Assim que terminei, os vinte homens que constituiram a tripulação do Destiny gritaram pelo meu nome em seguida de "Hurra", o que me deixou orgulhosa de mim e deles.

Horas depois Lyeel e Marcus acenderam uma fogueria na praia. Queria poder ter a oportunudade de ver o pôr-do-sol sentada no areal, antes de voltar para casa. Olhei para a minha barriga, e estava a ficar maior. Desejei que tanto o meu pai como a minha mãe estivessem sentados comigo, um de cada lado e vissem o explendor daquele pôr-do-sol. Assim que estivesse instalada em casa, visitaria as campas deles e ficaria a contar-lhes tudo o que se passou durante todo este tempo. Quando era pequena acreditava fielmente que a minha mãe ia voltar para casa depois da sua morte, por isso ia esperá-la todos os dias à praia com esperança que um navio trouxesse a alma dela, e só dizia "Mamã volta por favor, precisamos de ti" e foi triste e doloroso quando percebi que ela não ia voltar mais. Pensei que iria responder ao meu filho ou à minha filha quando me perguntasse onde estaria o pai. De facto, durante estes três meses anteriores tive esperança de o voltar a ver um dia, mas há muito tempo que esperança era um termo que para mim perdera o significado. E sempre me disseram que a esperança é a última a morrer. Seria?
- Jane, devias comer algo. - aconselhou-me Lyeel.
- Obrigada... - agradeci.
- Precisas de forças para voltares a casa Jane! - exclamou o Sr. Thomas.
Levantei-me e aproximei-me do Sr. Thomas. - Como se sente por voltar Thomas?
- A minha ligação com África perdeu-se à muito Jane. - respondeu-me. - A tua família foi a única coisa que me manteu ligado aqui, e dezenas de vezes em que pensei libertar-me dela e seguir a minha vida, mas eu sabia que o teu pai e tu precisavam de mim quando a Amelia faleceu. Tu ficaste tão perdida no mundo e o teu pai queria partir para o mar, mas eu abri-lhe os olhos e ele percebeu que agora era apenas ele e tu. - fez uma pausa e limpou-me as lágrimas que me escorriam pela cara. - E que acima de tudo, tinham de tomar conta um do outro.
- Eu estou eternamente grata por ter ficado comigo Sr. Thomas! - respondi-lhe, abraçando-o depois.
- Agora as coisas vão melhorar Jane. - disse-me. - O bebé que vem aí vai crescer em paz e tu vais ser um excelente mãe.
- Mesmo sem o Jack? - perguntei-lhe.
- Mesmo sem o Jack! - respondeu-me.
- Agora sim, estou pronta para voltar! - exclamei.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Parte II - Capítulo 1 - Regresso a África

As minhas mãos tremiam e o tremor percorreu o resto do meu corpo. De entre entre lágrimas e soluços, tentava acalmar-me e tentar arranjar uma solução para aquilo que me aconteceu e para o que estava a acontecer. Respirei fundo e deitei-me na minha rede. Olhei para o céu, estava escuro e assutador. Um nevoeiro cercou o meu navio e pedi que lançassem a âncora, para que parássemos por ali. O nevoeiro deixou-me ainda mais perdida no mundo, como se estivesse no meio do oceano, gritando para me tirarem dali, mas tudo era escusado.
Passou um mês depois de Jack me ter abandonado e desde aí que tentei seguir em frente. Tentei, e afirmei bem. Porque as coisas levam o seu tempo, mas tinha algo que me ligaria para sempre a ele.
Era meio da noite, o nevoeiro começara a disperçar-se, mas a minha angústia manteve-se aqui e não desvaneceu. Cada vez mais se acentuava, o que me levou a quase um desespero. Saí do meu camarote a correr e a chorar e invadi o camarote do Sr. Thomas.
- Sr. Thomas! - gritei eu por entre soluços.
- Jane, o que é que se passa? - perguntou-me saltando da sua rede exaltado.
- Temos de regressar a África imediatamente. - afirmei eu tentando controlar os soluços.
O Sr. Thomas aproximou-se de mim, trazendo uma vela. Apercebeu-se que eu estava desfeita em lágrimas, ainda mais do que nos dias que antecederam. - Jane, conta-me o que se passa. - pediu-me calmamente.
- Estou grávida Sr. Thomas! - respondi-lhe directamente.
- O quê? - perguntou-me.
- Por favor Sr. Thomas, eu não quero ficar mais aqui, eu quero voltar para casa... - não consegui terminar. Dei por mim agarrada àquele que agora chamava de "pai". E era de facto, sem dúvida alguma um pai para mim. Um pai não julga uma filha pelos erros que comete, simplesmente ajuda-a a enfrentar o futuro. E foi isso que ele fez. Nessa noite consegui adormecer nos braços do Sr. Thomas.
Dormi horas e horas, já não me recordava da última vez que dormira tanto tempo e tão bem. Levantei-me, lavei a minha cara e saí do camarote do Sr. Thomas. O navio tinha mudado de rumo. Senti-o pela direcção do vento. Estávamos a navegar rumo a África. Estaria de volta a casa, ao meu lar. Nenhum membro da tripulação questionou à minha frente o porquê de termos mudado de rumo, ou qual era o plano. Porque não havia plano. Aprendi a não fazer planos e a tentar viver com o agora e não com o depois ou com o antes. Agora era responsável por duas vidas. Começava a aceitar a idéia de ser mãe. O que mais me magoava era saber que Jack não voltaria, e nunca saberia que teríamos uma criança. Desejei durante muitas noites que o tempo voltasse atrás e que eu tivesse tentado impedir Jack de se ir embora. Nunca mais ouvi nada sobre ele, não sabia se estava vivo ou morto. Imaginei-o muitas vezes com o seu próprio navio a navegar pelos sete mares, a ser perseguido pela marinha real. Jack tinha esse tipo de desejo nas veias. Desejava sentir o medo e a adrenalina, tal como eu.
Sentei-me nas escadas do Destiny. O Sr. Thomas desceu-as e seguidamente sentou-se ao meu lado.
- Como te sentes? - perguntou-me.
- Muito melhor! - respondi-lhe.
- Já dei a ordem aos homens. - informou-me. Eu assenti com a cabeça. - Já pensaste que nada a partir de agora vai ser igual Jane? - questionou-me. - Quando ancorarmos em África, muitos destes homens vão voltar para as suas casas, outros desejaram começar do início, e sei que também há uns que quererão ficar ao teu lado.
A última frase fez-me sorrir. - Refere-se ao Lyeel? - perguntei-lhe.
- Gosto dele Jane. - confessou. - É um bom homem e sei que independentemente de tudo, ele ficará ao teu lado Jane. - Pelo discurso do Sr. Thomas pareceu-me que ele o comparava a Jack. Lyeel nunca me abandonara, ao contrário de Jack, mas a comparação magoou-me. Se o meu coração tivesse oportunidade de escolha, eu escolhia Lyeel. Era uma das pessoas mais extraordinárias que eu já tivera oportunidade de conhecer.
- Eu vou para o leme Sr. Thomas. - informei-o. - Quero guiar o meu navio até casa! - Levantei-me e subi as escadas e aproximei-me do leme. Lyeel, como sempre estava ali e sorriu ao ver-me ali.
- Bons olhos te vejam Jane! - cumprimentou-me.
- Obrigada Lyeel. - respondi gentilmente.
- Este navio não é a mesma coisa sem a tua energia, a tua força de viver...
- Lyeel... - interrompi-o. - O Destiny vai voltar para casa, tal como eu. - respondi-lhe. - Tudo o que vivi aqui nele, vai para sempre ficar guardado na minha memória. - disse-lhe, notando a sua tristeza no olhar. - Mas está na altura de eu voltar para casa.
- Então é o fim Jane? - perguntou-me.
- Não. - respondi-lhe. - É o começo do fim! - Lyeel conduziu-me até ao leme e navegámos em direcção a casa.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Notícias

Em breve o começo do que pareceu ser o fim, acompanhem:D

Obrigada, Estrela da Noite*

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Capítulo 30 - «Deixa o navio escolher o seu próprio destino»

Puxei a cadeira e Jack sentou-se nela. Fui buscar água limpa e fresca, e panos limpos. Molhei o primeiro pano devagar. Não queria que aquele momento acabasse nunca. Encostei o pano molhado junto à ferida de Jack e ele gemeu.
- Estes golpes foram merecidos! - exclamou Jack. - Mas tenho de admitir que me estão a dar muito jeito...
- Tens razão! - afirmei. - São mais que merecidos estes golpes!
- Nunca pensei voltar a pisar o convés deste navio, estar no teu camarote e ter-te a ti a tratar de mim. - disse honestamente.
Molhei outro pano e passei pelos golpes das costas de Jack. - É uma forma de te agradecer por me teres salvo a vida tantas vezes! - peguei nas ligaduras e comecei a enrolálas sobre os braços de Jack. - Assim estamos quites!
Durante os minutos em que colocava as ligaduras, Jack observava-me silenciosamente.
- Bem, não é hoje que deixas o mundo dos vivos! - exclamei, levantando-me mas a mão dele deteve-me.
- Jane... - disse-me agarrando-me a mão. - Eu não posso continuar aqui depois de tudo o que aconteceu. - fez uma pausa. - A tua tripulação quer ver-me bem longe daqui, só me deixaram entrar no navio para que tu te certificasses que eu estava vivo.
- Têm motivos para isso Jack! - exclamei dando razão aos meus homens. - Mas eu quero que fiques! - disse-lhe sinceramente.
- Não é fácil Jane... - afirmou Jack. - Vais ter a tua tripulação contra ti. O Sr. Thomas, o Lyeel...
- Jack! - interrompi-o. - Eu acho que mereces uma segunda oportunidade.
- Há certas coisas que são impossíveis de serem mudadas! - explicou. - O amor não se explica Jane, sente-se. - estava a fazer um esforço imenso para me conter. - Eu amo-te Jane Deverport.
- Eu tambem te amo Jack Nilton! - exclamei. - E tu podes sempre tentar remedir as coisas. Nada é impossível Jack. Se não tentares, nunca vais saber...
- Eu quero o melhor para ti Jane. - Assentiu Jack. - E eu não me perdoarei se algum dia te voltar a magoar!
- Tu não estás seguro no que dizes! - disse-lhe afastando-me. - Eu vou dar-te uma segunda oportunidade Jack, usa-a bem! - disse-lhe voltando-lhe as costas, saindo do meu camarote. A minha tripulação estava toda ocupada e não queria que ninguém desse pela minha presença. Subi as escadas e Lyeel estava no leme. Não podia evitá-lo, por isso decidi juntar-me a ele.
- Está tudo bem capitã? - perguntou-me. Agradeci a formalidade com que ele me tratava. Por vezes, era melhor assim.
- Está sim. - respondi-lhe eu mentindo. Ele olhou para mim desconfiado mas não insistiu na pergunta.
- Está um pôr do sol lindíssimo Jane! - exclamou.
- De facto está! - exclamei apreciando a beleza natural que os meus olhos percepcionavam. O navio estava iluminado com os últimos raios de sol do dia e previa-se uma noite mais calma das que anteriores.
- É teu Jane! - afirmou Lyeel. - O que resta do pôr do sol é teu...o sol não está totalmente à vista, mas do pouco que ainda se vê é deslumbrante e único. - não tinha palavras para descrever a amabilidade de Lyeel. Nunca ninguém me dissera algo assim. - Tu és um pedaço do sol, mas sem ti o mundo não é capaz de brilhar Jane! - Lyeel largou o leme e conduziu-o até ao mesmo para que pudesse transportar o meu navio até ao seu destino.
- Eu não sei qual é o nosso destino! - confessei-lhe. - Neste momento não tenho objectivos Lyeel, tudo ficou submerso naquela ilha.
- Deixa o navio escolher o seu próprio destino! - aconselhou-me Lyeel.
- Obrigada Lyeel! - agradeci-lhe dando um abraço.

A noite rapidamente chegou. Estava sentada num dos barris a contemplar o horizonte. Tão calmo, tão sereno, mas ao mesmo tempo tão incerto e tão traiçoeiro. Fez-me lembrar uma das primeiras noites que passei sozinha no Destiny após a morte do meu pai. Nada neste navio fazia sentido sem a presença dele, estava perdida no mundo e essa nostalgia invadiu-me o pensamento. Era como se tudo tivesse voltado ao início, e aprendi que sim, que tudo volta ao início.
Avistei Jack ao fundo e levantei-me. Ele aproximou-se de mim e beijámo-nos intensamente, como se fosse o último beijo que daríamos.
- Nunca me esqueças Jane! - pediu-me. - Nunca te esqueças de quem és e do que construíste!
- Prometo Jack! - exclamei beijando-o.
- Devias ir deitar-te... - aconselhou-me.
- Sim, amanhã é outro dia. - respondi-lhe desconfiada com a atitude de Jack. - Mas eu ainda quero continuar aqui...
Jack assentiu com a cabeça e voltou para dentro. Deitei-me em cima de um dos caixotes de barriga para cima e comecei a cantar. Repetia constantemente o verso «Serei pirata até ao fim». Um peso nos olhos invadiu-me. Queria ceder mas não consegui...

- Jane! Jane acorda! - o Sr. Thomas estava a tentar acordar-me, mas eu sentia a minha cabeça a andar em círculos. - Nem acredito que adormeceste aqui.
- Nem eu! - exclamei levantando-me. Olhei à volta e estavam todos reunidos. Estranhei esta atitude matinal mas em vez de os interrogar, limitei-me a procurar por Jack. De entre vinte e tal homens reunidos no convés do Destiny, Jack não era um deles. - Onde está o Jack? - Todos se mantiveram em silêncio. - Onde é que ele está? - Reparei que faltava um bote. - Não...
O Sr. Thomas aproximou-se de mim e colocou o seu braço sobre o meu. - Ele não pertencia aqui Jane!
- Não... - disse-lhe caindo-me as lágrimas.
- Foi o melhor que ele fez Jane. - afirmou o Sr. Thomas. - Ninguém o expulsou, ele simplesmente percebeu que partir seria o melhor para todos!
Antes de me descontrolar tentei pensar no que estava realmente a conhecer. Jack partira porque não pertencia a nenhum lugar e nem ao meu mundo pertencia. Ele desejava ser livre, como qualquer homem e essa liberdade fora-lhe tirada por Black Diamond. Eu sempre fora livre, sempre fizera o que quisera sem estabelecer os meus próprios limites. O meu destino estava cruzado e acredito que eu própria o cruzei. Talvez um dia, os nossos caminhos se voltassem a cruzar.
- Jane, ordens? - perguntou-me Lyeel.
- Deixa o navio escolher o seu próprio destino Lyeel! - ordenei-lhe.
Lyeel assentiu e afastou-se. Dei a ordem à tripulação e eles ocuparam os seus postos.
Tal como Jack me dissera um dia, "sobrevive e nunca olhes para trás", o que me deu a certeza de que ele não iria regressar, mas talvez olhasse para trás. Mas eu prometi a mim mesma que não iria olhar para trás, e assim o fiz...


FIM