Deixem a vossa marquinha *.*

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Capítulo 13 - Chegada a Terra

Durante dias e dias desejei ser mais do que era. Sentia-me em baixo por não ter conseguido dar uma vida melhor a Robin. O retorno de Jack do mundo dos desaparecidos alterou as nossas vidas. Questionei-me durante horas e minutos qual seria o meu destino quando chegasse a terra. Sabia que iria para uma colónia pertencente a Inglaterra que se localizava em África. Aquele nome "Ilha Seychelle" não me dizia absolutamente nada. Para mim era um ponto desconhecido no planeta. Durante a viagem tentei perceber do sítio no qual eu iria passar certamente semanas da minha vida. Jack recusava-se a falar do assunto, no pouco tempo em que estávamos juntos. Por vezes, trocávamos olhares de navio para navio. Não quis que ele voltasse ao Destiny. Foram demasiadas memórias e queria que permanecessem assim. Como uma história com um capítulo encerrado. Um capítulo porém que tinha uma linha condutora que indicava que este tipo de histórias nunca poderiam acabar. Essa linha era Robin, o meu elo de ligação com Jack. Ainda não lhe contara a verdade. Era demasiado para absorver naqueles dias. Pela primeira vez em muito tempo Robin teria de se habituar ao barulho de uma cidade, aos modos de uma civilização, e a viver numa casa. O capitão Charles desponibilizara a sua casa para nos receber. Mas nada daquele homem me inspirava confiança. Respondi-lhe que ficaria com a minha tripilação. Jack opôs-se e disse-me que poderíamos ficar na sua. Só aceitei por causa de Robin.

Lyeel estava diferente. Andava ressentido devido à presença de Jack. Nem mesmo estando em navios separados, Lyeel o via com outros olhos. E ainda para mais estava com ciúmes. Durante estes anos sei que Lyeel se tentou aproximar de mim, mas nunca lhe dei mais esperanças. Depois da partida de Jack nenhum outro homem conseguiu ocupar o seu lugar. Durante esse mesmo tempo desejei poder retribuir os sentimentos a Lyeel mas tal pareceu impossível. Ele foi como um pai para Robin, apesar de nunca se ter assumido como tal. Era como um irmão para mim, que ficava comigo quando eu tinha enjoos, ou quando Robin não conseguia adormecer. Tudo isto me custava não poder amá-lo como ele me amava a mim.
- As coisas vão mudar agora que ele apareceu outra vez na tua vida Jane? - perguntou-me.
- Lyeel, mudou muita coisa. - respondi-lhe. - Eu não posso garantir que alguma coisa se modifique ou se as coisas vão continuar como estão.
Lyeel sorriu carinhosamente para mim. - Desta vez ele não te vai magoar Jane.
- O Jack agora tem a sua vida Lyeel. - respondi-lhe. - Mas nós vamos estar sempre ligados.
- Quando tencionas contar a verdade ao Robin? - perguntou-me.
- É tanta coisa Lyeel. - desabafei. - Eu tenho medo da reacção dele.
- Ah ele é forte! - exclamou Lyeel. - Saiu a ti nesse aspecto.
A sua resposta fez-me sorrir. Olhámos os dois para Robin. Este encontrava-se na companhia do Sr. Thomas e ambos estavam a ver o mar. Robin adorava ver o mar. Quando era bebé pegava nele e contava-lhe as histórias que o meu pai um dia me contou.
- Sabes o que mais me magoa? Que o Robin nunca mais vai poder ver o mar desta maneira. - afirmei. - Nenhum pôr-do-sol será mais belo do que este que vemos todos os dias.
- Um dia Jane, poderás ter essa oportunidade. - respondeu-me. - Nós vamos safar-nos!
Essa resposta era incógnita. Nunca se tem a certeza do que poderá acontecer. O destino já traçou o nosso caminho. Nós temos duas opções, seguimo-lo ou mudamos o rumo da nossa vida.

Ilha Seychelle, Junho de 1688

Chegámos a Terra numa manhã de calor. As brisas eram quase nulas e o calor invadia os nossos corpos. Nessa manhã, o movimento estava calmo. Exigi que não fôssemos tratados como prisioneiros, pois isso traria muita atenção e a nossa chegada tinha a intenção de ser discreta. Descemos para os botes que nos encaminhariam até ao porto. Ajudei Robin a descer para junto de mim e pedi-lhe que não fizesse muito barulho. Robin obedeceu mas reparei que o olhar se fixava para um ponto.
- Robin? - perguntei.
- Um dia quero ser como ele! - exclamou Robin. Olhei na direcção na qual o seu braço apontava e aí estava Jack no seu bote a dar ordens aos seus homens. Ele estava tão seguro de si mesmo. E o mais bonito foi ver a ligação que Robin teve com ele, mesmo sem saber a verdade. - Posso ser como ele não posso?
- Eu só quero que sejas alguém Robin. - respondi-lhe.
Chegámos junto ao porto. Os mais curiosos aproximaram-se dos botes questionando-se quem seriam estes estranhos de pele mais morena. O primeiro bote aportou. Dele sairam Jack, o capitão Charles e restantes tripulantes. Um escravo trouxe o cavalo de Charles e este montou-o, galopando até ao centro da ilha. Jack aproximou-se de nosso botea ajudou-me a sair.
- Esta é a sua cidade, senhor? - perguntou Robin a Jack.
- Sim, é aqui que eu vivo! - respondeu-lhe, pegando nele e ajudou-o a sair. Robin olhava para Jack com imensa adoração. Jack tirou-lhe o chapéu e acariciou-lhe o cabelo moreno. - És um homenzinho especial!
- Já sou grande! - exclamou Robin.
Simultaneamente com aquela conversa meditei sobre o assunto. Robin adoraria ter Jack como pai. Mas não seria assim tão simples. Jack não poderia substituir a sua ausência durante anos. Jack tinha aqui uma vida, um emprego e funções a serem cumpridas.

Fomos guiados até às carruagens que esperavam por nós. No entanto apenas haviam duas. Jack abriu a porta de uma e disse-me a mim para entrar, juntamente com Robin e o Sr. Thomas. Como sobrava um lugar, Lyeel ocupou-o. Durante a viagem Lyeel olhava para Jack de um modo repugnante. O Sr. Thomas mostrava a Robin tudo o que havia na cidade dizendo o nome de todos os objectos. Eu olhava para o lado. Imensas pessoas que viviam naquela ilha. Pessoas trajadas com os melhores vestidos da alta costura. Tentei não prestar muita atenção aos olhares das mulheres da corte que me olhavam e comentavam a minha veste. Eu já me esquecera de como era viver em sociedade. A minha mãe quando era viva fez questão de me ensinar certos modos, os quais eu ignorava pois só procurava aventura e perigo. A carruagem parou junto de um enorme edifício. Jamais vira construção tão alta como aquela. Saí e estranhei o pavimento da cidade. Seria difícil caminhar naquelas ruas tão largas e cheias de pedras que percorriam a calçada.
- Dentro de minutos entraram os quatro neste edifício. - informou Jack. - Jane, se preferires que o Robin fique...
- Ele vai comigo! - interrompi-o.
- Bem sendo assim... - disse Jack.
- Jack! - exclamou uma voz num tom esganiçado e agudo. - Jack voltas-te finalmente! - a voz pertencia a uma mulher que se atirou nos braços de Jack. Eu fiquei espantada ao ver aquele espalhafatal todo. A rapariga beijou-o o que me deixou mais revoltada que nunca. - Quem são estes Jack?
Assim que a mulher acabou de questionar Jack fiquei curiosa para saber que resposta é que ele lhe iria dar...

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Capítulo 12 - Remorços

Se há coisa que eu aprendi nesta vida é que há momentos em que de facto o tempo pára, as pessoas desaparecem e ficamos só nós, presos a um nevoeiro de pensamentos. Aí, pensamos no que poderíamos ter feito diferente, no que poderia ter mudado. Foi isso que aconteceu com Jack. Após lhe ter contado a verdade, os seus olhos fecharam-se e só faltaram as lágrimas. Durante minutos permaneceu em silêncio. Porém, eu sabia que o seu coração estava mais sobressaltado que nunca, o seu cérebro estava dividido entre questões e lógica de pensamento. Até que momentos, conseguiu dizer algo:
- Jane, tu tens a noção do que acabaste de me dizer? - perguntou-me transtornado. Deu voltas e votlas ao camarote, como se de uma solução tentasse arranjar para escapar ao que lhe estava a acontecer.
- Jack...
- Sabes o que faz de mim ter-vos abandonado? - perguntou-me.
A minha resposta de "tu não ias adivinhar", ou "tu não sabias" era inapropriada. Isso não valia de desculpa alguma. Jack escolhera o seu caminho quando partiu naquela madrugada de nevoeiro. Quase como num acto involuntário, peguei na sua mão e obriguei-o a olhar-me nos meus olhos.
- Sou um homem horrível Jane... - disse, por fim.
Não esperava ouvir um pedido de desculpas porque isso não lhe valeria de nada. O passado estava feito, não haveria nada que fizesse o tempo voltar atrás e mudar os nossos destinos.
- Ele sabe? - perguntou-me.
- Não. - respondi-lhe. Não sei se Jack ficou aliviado ou não. O seu olhar estava magoado. O mesmo olhar com que eu fiquei durante meses e meses após a sua partida. - Mas acho que chegou a hora de ele saber a verdade.
- Eu não posso ter um filho! - exclamou Jack.
- Desculpa? - perguntei-lhe.
- Eu não posso assumi-lo agora! - exclamou Jack.
- Estás a gozar comigo? - gritei furiosa. - Se não queres saber de nós, volta para terra e deixa-nos em paz! - exclamei completamente sobressaltada. - Vivemos estes anos todos sem ti, podemos continuar assim!

- Jane, tu não estás a entender. - tentou explicar-se Jack. - Eu quero que o Robin conheça o pai, mas sabes o que é que iria acontecer se descobrissem toda a verdade? Descobriam o meu historial passado e acabávamos todos na forca.
- Afinal sempre podemos ter o mesmo destino! - exclamei irónica.
- Assim, eu não te posso ajudar! - exclamou. - Jane, eu nunca permitirei que nada vos aconteça aos dois. - o seu tom de voz acalmou. Jack pegou no meu queixo e olhou-me nos olhos. - Eu não te posso perder outra vez!
- Tu já me perdeste Jack! - respondi-lhe com toda a minha sinceridade. - Mas ainda não perdeste o Robin! - disse-lhe. - Ele é parecido contigo, tem o mesmo espírito que o teu. Não cometas o mesmo erro novamente.
- De que me vale corrigir um erro se isso me impede de te ter outra vez? - perguntou.
Antes que eu pudesse responder a porta do camarote foi aberta e o capitão Charles entrou.
- Não interrompo nada, pois não? - perguntou. O tom da sua voz irritava-me totalmente. Todas as suas palavras eram ditas de uma forma tão cínica e num tom quase devorador e preverso. - A menina Deverport já tomou alguma decisão?
Após a pergunta de Charles, o olhar de Jack concentrou-se de novo em mim. Olhei pela janela do camarote e avistei o meu navio e os membros da minha tripulação assustados, sem saber que destino lhes reservava. A minha decisão estava tomada. - Voltamos para terra consigo!
- Excelente! - exclamou Charles sorrindo. O seu sorriso era falso e escondia algo. De certeza que havia algo mais nesta história toda. Mas opções não me restavam. - Sendo assim, convido-a a que fique instalada no meu camarote.
- Prefiro ficar no meu navio, com a minha tripulação! - respondi-lhe de uma forma fria e arrogante.
- Nesse caso como queria, menina Deverport! - consegui perceber pela atitude de Charles que este ficara furioso com a minha resposta.
Saí do camarote e fui conduzida até ao meu navio. Robin estava sentado junto ao leme e assim que me viu a entrar correu até mim e abraçou-me.
- Está tudo bem Robin! - disse-lhe.
- Jane, eu sei que não está tudo bem! - respondeu-me Robin com a sua perspicácia. - Para onde vamos nós?
- Vamos para terra Robin... e por mais que eu te queira responder, não sei o que nos espera...

Charles ordenara a que o meu navio fosse comandado por um da sua tripulação. Assim não correriam riscos de fuga. Fugir neste momento era inútil. Dentro de dias estaríamos em terra. Precisava de saber algo mais sobre esse tesouro que afirmavam ser tão importante. Mas o mais importante, garantir a segurança de Robin e do resto da minha tripulação.