Deixem a vossa marquinha *.*

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Capítulo 12 - Port Royal

Desta vez, tentaríamos ser apenas marinheiros normais, que acabavam de chegar a uma nova cidade, sem sermos entendidos como piratas. Colocámos a bandeira oficial da marinha no mastro. Guardei-a, pois sabia que um dia poderia vir a precisar dela. Alguns dos meus homens vestiram as fardas oficiais, para que não houvesse suspeitas. Pensei em vestir um vestido, mas não tinha nenhum, e não era grande adepta desse tipo de roupa feminina. Soltei o meu cabelo, ficando este ondulado devido à minha trança. Era noite cerrada, e estava lua cheia. Saí do meu camarote, e Jack estava à minha espera.
- O que foi agora? - perguntei-lhe eu.
- Pensei que estivesses mais feminina... - disse Jack olhando para o meu corpo.
- A farda não te fica bem! - ataquei-o.
- Sou mais irresistível com as minhas roupas normais! - exclamou.
- Para além de desprezível e presunçoso, és também convencido! - exclamei eu sorrindo. - Jack Nilton, não páras de me surpreender.
- Bem-vinda ao meu mundo querida! - exclamou.
Peguei no chapéu que fazia parte da farda e atirei-o, para que Jack se calasse.

Pisámos o areal da praia de Port Royal. A minha missão estava agora a começar. Eu ia à frente com o Sr. Thomas, Jack, Lyell e Marcus.
- Já te tentei imaginar-te de vestido, mas não consigo Jane! - disse Jack. - Tu és tão...
- Importa-se de calar Sr. Nilton? - ordenei-lhe eu.
- Peço desculpa, capitã. - disse Jack.
- Muito bem, todos sabem o que têm de fazer, certo? - perguntei virando-me para o resto da tripulação.
- Certo! - responderam todos.
- Lyell leva os homens ao centro da cidade. - ordenei-lhe eu. - Jack, Sr. Thomas e Marcus, venham comigo.

- Tens a certeza disto Jane? - perguntou-me o Sr. Thomas.
- Estamos nisto juntos ou não? - perguntei-lhe.
- Estamos Jane, desculpa. - disse o Sr. Thomas. - Apenas zelo para que nada de mal te aconteça.
- Eu sei que não é fácil para si Thomas, ver-me a pôr a minha própria vida em risco, mas eu quero fazer isto. - expliquei-lhe eu.


Chegámos ao centro da cidade de Port Royal. Havia imensos oficiais na rua, o que mostrava que era uma cidade bastante vigiada. Os meus homens já se tinham juntado aos outros, o que me deixou mais descansada. Eu, o Sr. Thomas, Jack e Marcus entrámos num dos bares e este estava cheio. Sem que eu dissesse mais alguma palavra Marcus entrgou-se ao prazer da bebida.
- Homens! - reclamei eu. Olhei para Jack, e os olhos deste estavam fixados nas prostitutas do fundo. Não o criticava. Afinal, ele era homem. Uma dessas prostitutas caminhou na direcção de Jack.
- Jack! - chamei-o eu.
- Não me digas que estás com ciúmes Jane. - disse-me Jack agarrando-se à prostituta e beijando-a.Confesso que aquele beijo me deixou cheia de ciúmes. Decidi ir lá e separá-los. - O que é que estás a fazer? - perguntou-me Jack.
- Com a sua licença... - disse eu à prostituta puxando Jack para ao pé de mim. - Jack, nós temos uma missão, e esta não é a altura ideal para te renderes aos prazeres do sexo!
- Jane, sou homem. - disse Jack. - Mas eu ia resistir. - respondeu-me ele olhando novamente para a prostituta. - Ah, e Jane...ficas irresistível quando estás com ciúmes.
Virei-lhe as costas e sentei-me num banco, pensando no que iria fazer a seguir.
- És a primeira mulher não prostituta que aqui entra! - disse-me uma voz masculina.
- Penso que isso seja bom... - disse-lhe eu.
- És nova aqui, não és? - perguntou-me.
- Estou só de passagem! - afirmei, pegando numa caneca de cerveja e olhando para dentro dela.
- Chamo-me Karev! - apresentou-se.
- Jane Deverport. - apresentei-me.
- O que é que uma menina bonita como tu, com a vida pela frente faz aqui em Port Royal?
- Procuro informações...
- E que informações precisas? - perguntou-me.
- O que sabes sobre Black Diamond? - perguntei-lhe aproximando-me dele.
- És corajosa Jane. - disse-me Karev. Nesse momento reparei que tinha uns belos olhos azuis. - Uma menina como tu em querer saber disso. És única.
- Podes ajudar-me? - perguntei-lhe.
- Pouco sei. - respondeu-me. - Aqui em Port Royal, esse assunto ainda não foi esquecido. É procurado desde sempre, mas há mais de quatro anos que ninguém sabe do seu paradeiro. Dizem que morreu. - Karev fez uma pausa. - Hum, não acredito. Tentei alistar-me na marinha para o tentar apanhar, mas era demasiado novo. Apenas sei que falavam na cidade do ouro perdida. - Nesse momento a minha atenção acentuou-se. - Nessa parte, já não sei se acredito. Black Diamond está metido numa ´serie de histórias e de lendas, e só os loucos acreditam nelas. - Partindo das palavras dele, eu era uma louca, portanto. - Estupidez, milhares de espanhóis perderam a vida por causa dessa lenda do El Dourado.
- Só os loucos acreditam nela não é? - perguntei-lhe. - Está certo. - Deixei umas moedas no balcão e levantei-me.
Karev olhou para mim e sorriu-me. - Boa sorte nisso Jane.
- Obrigada...
Fiz sinal ao Sr. Thomas, mas este estava com alguma dificuldade em transportar Marcus, por isso fui ajudá-lo.
- Onde está o Jack? - perguntei eu.
- Desapareceu. - respondeu-me o Sr. Thomas.
- Saiu com uma daquelas prostitutas. - disse Marcus completamente bêbado.
- É bom que te cales Marcus, ou ficas a dormir no areal. - avisei-o eu.
- Deixamos o Jack para trás? - perguntou-me o Sr. Thomas. - Segundo o código...
- Um homem que fica para trás é deixado para trás! - exclamou Marcus rindo-se descontroladamente.
- Eu não o deixo para trás! - exclamei eu. - Thomas, faz sinal aos homens para voltarem ao navio. Eu vou procurar o Jack.

Fiquei sozinha na cidade. Não tinha medo. Tinha a minha espada e a minha pistola. Ninguém se iria atrever a fazer-me frente. Imaginava esta cidade mais rica e diferente e todas as outras onde já tinha estado. Uma rua escura e tenebrosa estava diante dos meus olhos. Cheirava-me a perigo, e associei logo à personalidade de Jack, por isso decidi avançar. À medida que me aproximava conseguia ouvir vozes. Uma delas afastava-se cada vez mais, mas a outra estava cada vez mais próxima. Era a voz de Jack. Espreitei por detrás de um barril, e Jack estava sentado no chão e tinha o braço direito a sangrar. Corri para junto de si.
- Jack! - exclamei eu. - O que aconteceu?
- Jane? - perguntou Jack. - O que é que estás aí a fazer?
- Isso pergunto-te eu. - exclamei ajudando-o a levantar. - Vamos sair daqui.
- Obrigada por me ajudares! - agradeceu Jack.
A sua voz tornou-se mais doce e querida, o que me encantou. - Menos conversa Sr. Nilton, vamos voltar para o navio.

Capítulo 11 - «Só merece ser encontrado o que vale a pena ser encontrado»


Tinha passado exactamente um mês desde a morte do meu pai, e desde essa altura que me tinha tornado pirata. E estava a sobreviver bem, sozinha. A história de El Dourado colocava-me cada vez mais indecisa sobre o que escolher. Não desacreditava totalmente nas palavras de Jack. Aliás, no meu subconsciente eu queria que aquilo fosse verdade, para possuir uma quantidade de ouro que desse para estabilizar a minha vida. Mas esta história da maravilhosa cidade do ouro, não podia de modo algum, distanciar-me do meu objectivo principal: encontrar Black Diamond e destruí-lo, e eu iria conseguir fazê-lo, nem que fosse a última coisa que eu fizesse enquanto viva. Peguei novamente no mapa e analisei-o com mais pormenor. Reparei que por cima de um dos símbolos estavam as iniciais "BD".Eu conhecia aquelas iniciais.
- Black Diamond! - gritei eu levantando-me da minha rede. O primeiro pensamento foi tentar perceber como é que Jack tinha conseguido o mapa. Teria ele sido vítima de Black Diamond? Nunca ninguém me explicara pormenores da identidade de Black Diamond. Mas havia uma coisa que eu ainda não tinha feito...confrontar a minha tripulação com esta história toda.
Nessa mesma noite ordenei a Lyell que reunisse todos os homens no convés, e assim o fez.
- Digam-me, cavalheiros, o que sabem sobre Black Diamond? - perguntei-lhes eu. Reparei que a minha pergunta inquietou alguns dos homens. Um ou outro começou a fazer uma espécie de ritual, como se estivesse a libertar de uma maldição.
- Não devemos pronunciar o seu nome capitã! - exclamou Richard. - Tráz azar!
- Desculpa? - perguntei eu.
- Black Diamond é a maior ameaça dos sete mares, se pronunciarmos o seu nome, ele vem até nós. - disse Richard.
- Isso é uma tolice! - exclamou Marcus. - Capitã, é claro que este capitão pirata é uma ameaça, mas não nos vai acontecer nada se pronunciarmos o seu nome!
- Há cerca de quatro anos, que nunca mais se ouviu falar dele. Antes pilhava navios inteiros, sem deixar um único sobrevivente. - começou Till por dizer. - Antepassados meus morreram no mar ao tentar derrotá-lo.
À medida que os meus homens me iam contando as diversas histórias, reparava na forma como Jack se tentava esconder da situação.
- O que tem a dizer sobre isto, Sr. Nilton? - perguntei-lhe eu.
- Só merece ser encontrado o que vale a pena ser encontrado... - disse Jack, fazendo uma breve pausa. - Para quê saber de uma figura que poderá estar morta, se temos a cidade do ouro à nossa espera.
- Cidade do ouro? - perguntou Marcus.
- Jack! - repreendi eu.
- Não lhes contas-te Jane? - perguntou-me Jack. - Meus senhores, o nosso próximo destino é El Dourado, a cidade do ouro, perdida nas águas do Pacífico. A riqueza é tanta nessa cidade que o rio é tão dourado como o próprio ouro.
- Jack, já chega! - ordenei-lhe eu.
- Capitã, esta será a nossa maior aventura! - gritou Till. - Para quê perocuparmo-nos com Black Diamond?
Eu não acreditava no que estava a ouvir. Jack tinha conseguido cativar a atenção dos meus homens e estava a persuadi-los de mentiras!
- Se encontrarmos o ouro, ficamos com ele, até ao último tostão. - disse Richard.
- E se existirem índios? - perguntou Till.
- Tiramos-lhe o coração a sangue frio! - exclamou Richard completamente encantado com a ideia de se tornar rico.
- Cavalheiros! - gritei eu, continuando todos a falar - Atenção! - aí sim, todos se centraram em mim. - Não quero alimentar-vos as esperanças de que poderão ficar ricos. Há um mapa que diz exactamente a localização da cidade, mas isso não chega.
- Acreditem meus senhores, o ouro chama por nós. Porquê continuar à espera? - exclamou Jack persuadindo-os cada vez mais.
Aproximei-me de Jack e puxei-lhe o braço. - O que é que estás a fazer? - perguntei-lhe eu chegando quase ao meu ponto máximo de irritação.
- A dizer-lhes o que eles querem ouvir Jane! - respondeu-me.
- Jack, tu vais parar imediatamente com isso. - ordenei-lhe eu.
- Jane, sou pirata. - disse. - Estes homens só querem dinheiro. Achas que eles querem ir atrás da tua ideia de destruir o Black Diamond, se têm riqueza à frente?
- Tu prometeste-me que me irias ajudar a encontrar o Black Diamond! - exclamei eu.
- Jane. - disse-me, colocando as suas mãos na minha cintura. - Esquece essa fantasia.
Retirei violentamente as mãos dele na minha cintura. - Então, explica-me isto! - pedi-lhe agressivamente, mostrando-lhe o mapa. - Explica-me estas iniciais!
- Jane...
- Eu quero saber a verdade agora Jack! - gritei eu, mas baixei de seguida o meu tom de voz, para não ser o centro das atenções. - O El Dourado vai levar-me ao Black Diamond e tu sabias disso desde o início.
- És mais inteligente do que eu esperava Jane! - tentou elogiar-me Jack.
- Como é que conseguis-te o mapa Jack? - perguntei-lhe eu.
- Roubei-o, há uns anos. - respondeu-me directamente.
- E de quem era o mapa? - insisti eu.
- Roubei-o de um homem que estava podre de bêbado. - respondeu-me Jack. - Ele falou-me em El Dourado e eu quis chegar até lá, e roubei-lhe o mapa. - eu não estava a acreditar numa única palavra de Jack. - Jane, eu não quero que saias magoada.
- O quê? - perguntei-lhe.
- Esquece o Black Diamond. - pediu-me olhando-me nos olhos.
- Podes ter a certeza de que não o vou fazer Jack. - respondi-lhe eu. - Mais do que nunca eu quero acabar com ele.
- Terra à vista! - gritou um dos marujos.
- Jane! - exclamou o Sr. Thomas. - Chegámos a Port Royal.

sábado, 22 de maio de 2010

Capítulo 10 - Verdade

- Deixa-me ver o mapa Jack! - ordenei-lhe eu.
Jack sorriu-me atrevidamente e retirou o mapa de um dos bolsos da sua camisa. Estava dobrado em quatro. Tirei-lho da mão e eu própria o abri. O mapa não era muito grande. Tinha no canto inferior direito a data de 1530, a mesma data que correspondia ao que Jack me dissera.
- É através deste mapa que encontramos a ilha? - perguntei-lhe eu.
- Não é uma ilha, é uma cidade perdida no meio do Amazonas. - corrigiu-me Jack.
Analisei o mapa com mais atenção. - Estes símbolos...
- São um enigma por completo. - disse-me Jack deixando-me cada vez mais anciosa por decobrir aquela lenda. - Tens que confiar em mim Jane. - disse Jack aproximando-se novamente de mim. - Mas primeiro tens que confiar naquilo em que acreditas. - Eu estava pronta para lhe responder, mas o Sr. Thomas apareceu ao nosso lado.
- Vim no momento certo, suponho eu! - exclamou o Sr. Thomas com uma voz séria.
- Dou esta conversa por terminada Sr. Nilton! - disse eu a Jack virando-lhe as costas.
O Sr. Thomas levou-me ao seu camarote e fechou a porta.
- Vejo que estás a dar confiança ao rapaz Jane. - afirmou o Sr. Thomas.
- Estou apenas a pô-lo à prova Thomas...
- É a primeira vez que vejo esse brilho nos olhos! - exclamou o Sr. Thomas.
- Brilho? Qual brilho?
- O brilho dos olhos de uma menina encantada por um rapaz!
- Thomas! - repreendi-o. - Não há brilho nenhum nos meus olhos, sabe porquê? Porque eu não estou encantada por nenhum rapaz. - reclamei eu por fim pegando numa maça. Dei o mapa para o Sr. Thomas.
- O que é isto Jane?
- Um mapa.
O Sr. Thomas abriu-o e começou a analisa-lo. - E é um mapa que nos vai levar até...
- El Dourado! - respondi-lhe.
- El Dourado? - questionou o Sr. Thomas. - A cidade do ouro perdida?
- Segundo o Jack, El Dourado vai muito mais além do que uma simples lenda. - afirmei eu.
- Não passa de uma lenda Jane! - exclamou o Sr. Thomas levantando-se e virando-me as costas.
- Tal como Black Diamond? - perguntei-lhe eu mastigando a minha maçã. A minha pergunta parou o movimento do Sr. Thomas. - Eu sei que sabe de alguma coisa Thomas, eu ouvi a conversa que teve com o meu pai naquela tarde.
- Jane...
- Exigo saber a verdade Thomas. - pedi eu calmamente. - Durante os últimos anos, vivi sempre nesta dúvida. Ele é real não é?
O Sr. Thomas sentou-se ao meu lado e apanhou o cabelo. - Sim Jane, Black Diamond durante as duas últimas décadas foi a maior ameaça dos sete mares. Eu e o teu pai nunca o chegámos a encontrar, mas sempre soubemos que ele era real. Pilhava navios inteiros sem deixar sobreviventes. - Sr. Thomas fez uma pausa. - Víamos pelos corpos das vítimas que estas eram torturadas da pior maneira. No dia em que ouviste a conversa, o teu pai e eu tínhamos a noção que Black Diamond estava mais perto do que nunca, e eu sempre achei que o melhor era o teu pai ficar em terra para proteger a família.
- Eu quero encontrá-lo Thomas. - confessei-lhe eu. - Eu quero acabar o que o meu pai começou.
- Jane tu enlouqueces-te! - exclamou o Sr. Thomas gritando.
- É o meu objectivo Thomas, e eu não vou descansar enquanto não o cumprir. - assenti eu bastante segura e séria.
- E porquê agora El Dourado? - perguntou-me Thomas.

- Eu fiz um acordo com Jack. - comecei eu por explicar. - Se eu o levar a El Dourado, ele ajuda-me a encontrar Black Diamond.
- E confias nele Jane?
- Acho que lhe posso dar essa oportunidade. - respondi eu. - Sr. Thomas, eu mais do que nunca preciso da sua ajuda.
- Sabes que eu te vou ajudar em tudo minha filha, até ao fim. - afirmou o Sr. Thomas dando-me um abraço.
- Adoro-o Thomas! - exclamei eu.
- Eu também te adoro minha pirata! - assentiu o Sr. Thomas beijando-me na testa e abraçando-me com mais força. - Mudamos o rumo Jane?
- Não, primeiro há um sítio onde eu quero ir. - disse eu.
- E para onde vamos agora? - perguntou-me o Sr. Thomas.
- Port Royal. - respondi-lhe eu.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Capítulo 9 - Proposta

Acordei com o nascer do sol. Estávamos no meio do oceano atlântico e era uma imagem mais do que bela. Era fascinante ver o sol a nascer sobre o oceano. Saí do meu camarote para observar melhor, e lá estava Jack Nilton a olhar para o horizonte. Aquela personagem estava a deconcentrar-me do meu objectivo. Objectivo esse, encontrar Black Diamond. Talvez Jack soubesse alguma coisa que me ajudasse. Decidi aproximar-me. De repente ele virou-se para mim. Aqueles olhos castanhos escuros brilhavam mais do que nunca.
- Bom dia Jan...capitão! - cumprimentou-me Jack.
- Bom dia marujo! - exclamei eu sorrindo.
- Madrugou. - afirmou Jack.
- Vim ver o nascer do sol com maior clareza. - respondi-lhe eu.
- O navio é seu... - disse Jack aproximando-se de mim. - Não se admire de começar a chover capitão, estamos num ambiente tropical.
- Vejo que conhece bem este tipo de clima. - disse eu à medida que admirava o nascer do sol.
- Sempre vivi nestas zonas... - à medida que ia falando, aproximava-se discretamente de mim. Naquele momento éramos só nós os dois no convés do navio. - Se me permite, capitão... - tinha hálito a álcool, o que se tornou inconveniente, mas ao mesmo tempo irresistível. - Como é que uma jovem tão bonita como tu Jane entrou neste mundo?
- Estás a ser atrevido Jack Nilton. - avisei-lhe eu.
- Eu sou atrevido! - respondeu-me olhando-me nos olhos.
- Bem, nesse caso acho que posso abrir o jogo contigo... - disse eu com um ar sedutor, que fez com que ele não tirasse os olhos se cima de mim, o que deu para eu tirar a minha faca. - Tu queres alguma coisa, e neste momento eu sou a única que te pode dar isso. - fiz uma pausa para me certificar que tinha a faca ao pé do corpo dele. - Por isso Jack Nilton, é bom que deixes de ser atrevido, ou vais ser o alimento dos peixes! - ameacei-o eu colocando a faca junto do pescoço dele.
- Não ias desperdiçar uma coisa tão boa como eu, pois não Jane? - perguntou-me Jack.
- Não me faças perder a cabeça! - comecei eu por gritar, mas Jack tapou-me a boca.
- Peço perdão menina, mas é bom que a tripulação não acorde... - disse-me Jack, largando-me seguidamente. Limpei a minha boca com a mão.
- Exigo que me respeites Jack! - protestei eu. - Continuo a ser a tua capitã.
- Eu sou apenas um tripulante que se preocupa com o seu capitão! - exclamou Jack. Pela primeira vez, não senti ironia na sua voz.
- O que é que queres dizer com isso? - perguntei-lhe eu.
- Tu és pirata por uma razão. - começou por dizer. - Eu sei que há um motivo por tu estares aqui.
- O que é que tu sabes sobre mim? - perguntei-lhe eu.
Jack voltou a aproximar-se de mim e desta vez agarrou-me pela cintura. - O suficiente para entender que queres alguma coisa.
- O que é que sabes sobre Black Diamond? - perguntei-lhe eu. Assim que acabei a minha pergunta, as mãos dele largaram a minha cintura e percebi que a pergunta o deixara nervoso.
- O que queres saber? - perguntou-me Jack desviando o olhar.
- O que é? Onde está? - respondi eu.
- Isso não passa de uma lenda Jane. Black Diamond era um capitão de um navio de piratas. - Jack sentou-se num fos barris e continuou. - Segundo vários relatos, era o pirata mais temido de toda a costa amerciana e africana. Cada vez que pilhava um navio não deixava um único sobrevivente. Torturava os que lhe ofereciam resistência até à morte. Ninguém o conseguia impedir.
- Pareces saber muito sobre o assunto.
- Sei o que me contaram.
- Eu sei que ele não passa só de uma lenda. - afirmei eu, conseguindo captar a atenção de Jack. - Ouvi uma conversa entre o meu pai e o Sr. Thomas há uns anos, na qual percebi que Black Diamond era um assunto que poderia por a minha vida em risco, apesar de eu não conhecer esse risco.
- Nunca te ensinaram que é muito feio ouvir a conversa dos outros? - pergnutou-me jack voltando a ser irónico.
- Eu sei que o Black Diamond existe, e eu vou encontrá-lo Jack. - afirmei eu com grande segurança.
- Porquê essa sede de vingança Jane? - perguntou Jack.
- Quero acabar o que o meu pai começou... - respondi-lhe eu.
Jack levantou-se do barril e aproximou-se de mim.
- Eu não sei se posso confiar em ti Jack... - disse-lhe.
- Uma capitã tem de acreditar nos homens que juraram lealdade para consigo. - assentiu Jack. - E se queres encontrar o Black Diamond, convém saberes por onde começar...
- Quer dizer que ele existe. - conclui.
- Eu não disse isso. - corrigiu Jack, elevando o tom de voz.
- Se ele se tratasse apenas de uma lenda, tu ias impedir-me, dizendo que era uma perda de tempo, mas como não o fizes-te, suponho que ele de facto existe.
- Para mulher és muito esperta Jane! - elogiou-me Jack.
- E tu ainda não viste nada! - exclamei eu.
A resposta dele foi simplesmente um sorriso, ao qual eu respondi. Os nossos sorrisos foram interrompidos por Lyeel.
- Eu peço desculpa minha capitã...
- Não tem importância, nós já acabámos. - disse eu afastando-me de Jack, mas este prendeu-me o braço. - Lyeel dá ordem aos homens para ocuparem os seus postos.
- Sim, meu capitão!
- Larga-me! - ordenei a Jack.
- E se eu te fizesse uma proposta?
- E qual proposta? - perguntei-lhe eu soltando o meu braço.
- Já ouviste falar em El Dourado? - perguntou-me.
- El Dourado? - perguntei eu. - Mais uma lenda, Jack?
- El Dourado, a cidade maravilhosa do ouro. A cidade perdida que foi colonizada por índios, localizada para lá do Rio Amazonas, mas que nunca fora descoberta por ninguém. - explicou Jack. Este parecia muito seguro no que dizia. - Imagina construções inteiras construídas com ouro. Não ´há mais nada que os homens desejem na vida...
- Isso nao passa de uma lenda criada pelos espanhóis, e por causa dessa mesma lenda homens perderam a vida... - afirmei eu.
- Há um mapa! - interrompeu-me Jack.
- Um mapa? - perguntei eu exclamada e com vontade de me rir.
- Sim, um mapa!
- E como é que o arranjas-te?
- Roubei-o! - respondeu descontraidamente. Jack era o tipo de homem que me fascinava só de proferir apenas uma palavra.
- A proposta é esta Jane...tu ajudas-me a encontrar El Dourado e eu ajudo-te na tua vingança contra o Black Diamond. - propôs Jack. - Os teus homens não te vão ajudar a encontrares o monstro pirata, se tu não lhes deres nada em troca...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Capítulo 8 - Rum

A noite estava bastante calma. Não havia vento. O Destiny navegava pelas águas do Atlântico sem um próprio destino. Naquela noite quente do meu aniversário tinha de comemorar. Saí do meu camarote e o membro mais recente da minha tripulação estava ao leme. Subi as escadas e aproximei-me de Jack Nilton.
- Pensei que a capitã já se tivesse recolhido! - exclamou jack Nilton ironicamente.
- Não tenho sono. - respondi eu aproximando-me do leme.
- Tem aqui um bom navio! - elogiou Jack.
- O Destiny tem a sua própria história. - afirmei eu. - É sem dúvida a minha casa. - agarrei no leme feliz por ali estar, a comandar o meu navio.
Sem intenção a minha mão tocou na de Jack e retrocedi.
- Podes continuar o teu trabalho. - sugeri eu afastando-me. Desci as escadas e dirigi-me ao convés alargando o passo. jack deixou o leme e seguiu-me.
- Desculpa seguir-te Jane. - disse Jack.
- Não temos confiança suficiente um com o outro para me tratar assim Sr. Nilton. - reclamei eu.
- Temos a mesma idade, e sei que é minha capitã, mas podemos ter uma relação além da capitã/pirata. - respondeu Jack atrevido.
- Não me tente substimar Sr. Nilton! - avisei-o eu.

Afastei-me dele e sentei-me em cima de um dos barris. Reparei que estava uma garrafa de rum no chão, por isso peguei nela e comecei a beber.
- Nunca vi uma mulher a beber assim! - exclamou Jack - E isto é um elogio.
- Se há coisa que mais me dá prazer é beber. - respondi eu, dando um gole de seguida.O meu pai sempre me dissera que o rum lhe arranhava a garganta, mas a mim não. Jack sentou-se ao meu lado e passei-lhe outra garrafa. - Quem és tu Jack Nilton?. - reparei que Jack se sentiu atrapalhado com a minha pergunta. - Quem és tu? De onde vens?
Jack parou de beber. - Não venho de sítio nenhum. - respondeu limpando a boca. - Nunca pertenci a nenhum sítio e nunca pertencerei. O meu destino é sobreviver. - fez uma pausa. - E é isso, sobreviver e nunca olhar para trás! - Jack expressava-se de uma maneira cativante e maravilhosa. Por detrás daquele olhar sedutor e bonito estava a história da vida de um jovem pirata. Uma história que eu desejava conhecer.
- Tem uma história Sr. Nilton. - disse eu sorrindo.
- Todos têm uma história. - assentiu ele. Peguei na garrafa e bebi mais um gole. - E tu Jane Deverport? - fez uma pausa e olhou para mim. - Pertences a algum lugar?
- Não. - afirmei eu convictamente. - O mar não é apenas um lugar onde se pode pertencer, é uma vida que agarramos e não a podemos deixar.
- Proponho um brinde! - exclamou Jack.
- Está a tentar embebedar-me Sr. Nilton? - perguntei-lhe eu a rir-me. O efeito do rum já se fazia notar.
- Eu não me quero aproveitar de si... - disse-me Jack Nilton.
- E brindamos ao quê? - perguntei-lhe.
- Ao futuro sem destino, aos prazeres da vida... - respondeu Jack levantando a garrafa.
- Ao meu aniversário! - gritei eu.
- A bebida tem um efeito rápido sobre si! - exclamou Jack.
- Sr. Nilton, acho melhor brindarmos noutro dia, porque não estou nas melhores condições! - exclamei eu rindo-me seguidamente. Jack também já estava sobre o efeito da bebida, porque riu-se desalmadamente. A maneira como ele se ria era única.
Fui para o meu camarote e deitei-me na minha rede. - Jane, és uma pirata!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Capítulo 7 - Aniversário

- E posso saber o que é que fazes no meu navio, Jack Nilton? - perguntei eu.
- Negociações! - exclamou Jack olhando para as mãos. Ainda não o conhecia, e ele já tinha a capacidade de me irritar. Olhei para a minha tripulação e estes olhavam fixamente para os diamantes que tinham na mão.
- Seu... - eu estava pronta para lhe chamar um nome bastante feio, até ser interrompida por ele.
- Capitã... - disse, fazendo-me uma vénia como se eu fosse da realeza.
- E pode explicar-me essa negociação, Sr. Nilton? - perguntei eu.
Jack pegou na sua arma e começou a analisá-la. - Ainda não sei o teu nome, capitã! - exclamou Jack.
- Jane Deverport. - respondi eu.
- E o que é que uma menina como tu, faz aqui nesta vida mísera? - perguntou-me atrevidamente.
- Aqui quem faz as perguntas sou eu! - exclamei eu, mudando o meu tom de voz. - Exigo saber o que é que negocias-te com a minha tripulação, em troca de uma passagem para o meu navio. - Jack tirou o seu sorriso irónico e ficou mais sério.
- Precisava de uma tripulação. Tenho que admitir que tem aqui uma bela de uma tripulação. Se eles me deixassem entrar "clandestinamente" no navio, eu dar-lhes-ia o que eles mais querem neste momento...ouro! - Jack estava muito seguro do que dizia.
- É muito perspicaz no que toca a contar a verdade...se esta for realmente a verdade. - respondi-lhe eu, e nesse momento os seus olhos castanhos escuros viraram de direcção. Percebi que a vinda ao meu navio tinha uma intenção qualquer.
- Sou dotado do talento da perspicácia! - elogiou-se a si mesmo.
- Que idade tens tu? - perguntei-lhe eu.
- 18 anos, feitos há seis meses. - respondeu-me. Eu não queria acreditar no que ele acabara de me dizer. Ele tinha a mesma idade que eu? Parecia mais velho, apesar da sua cara ser ainda nova, o seu corpo fazia-o parecer mais velho.
- Muito bem homens! - comecei eu por dizer, tentando mudar o rumo à conversa - Lyeel e Jack, livrem-se do corpo do Sr. Marton. - ordenei eu.
- Os peixes até ficam envenenados! - exclamou Lyeel com ironia.
- Sr. Thomas, venha comigo ao meu camarote. - pedi eu.


Entrámos os dois no meu camarote. Tinha velas acesas, o que dava bastante luminosidade ao meu camarote. O Sr. Thomas sentou-se ao meu lado na minha rede.
- Confias no rapaz Jane? - perguntou-me o Sr. Thomas.
- Vamos pô-lo à prova Sr. Thomas. - afirmei eu. - Assim que ele pisar o risco, a sua sorte não irá durar muito.
- Não te esqueças que ele já te salvou a vida duas vezes. - brincou o Sr. Thomas.
- Eu sei... - ri-me eu.
O Sr. Thomas levantou-se da minha rede. - A propósito Jane, feliz aniversário.
Fiquei surprrendida com o Sr. Thomas, ele não se tinha esquecido do meu aniversário. Tirou qualquer coisa do bolso e deu-ma.
- Espero que gostes e que a uses! - exclamou o Sr. Thomas dando-me um beijo na cara.
Desembrulhei cuidadosamente o objecto. Estava enrulado num pano grosso de cor castanha. Era uma faca com as minhas iniciais gravadas. Agradeci-lhe com um sorriso, e seguidamente ele abandonou o meu camarote. Era um presente útil, e que eu o iria usar certamente.
Guardei-a na minha gaveta e estendi-me na minha rede. Olhei pela janela e o céu estava estrelado. Era a noite do meu décimo oitavo aniversário e como sempre cantei uma canção que o meu pai me ensinou.

Na minha rede vejo as estrelas a brilhar
Bandeiras negras se escondem
Sob o meu olhar
Vejo a imortalidade
Na minha alma
Serei pirata
Até ao fim...
Todas as luas, eu caminharei
Ao teu lado aqui
E as estrelas vão cantar
Esta canção de embalar
Eu serei pirata até ao fim...


Peguei no castiçal de velas. - Parabéns Jane. - soprei e fiquei na escuridão.

domingo, 9 de maio de 2010

Capítulo 6 - Jack Nilton

Passado duas semanas estávamos em Cuba. Foi bom estar em Terra outra vez. Apesar de ter sido uma paragem temporária, foi uma paragem que mudou inteiramente a minha vida. Chegámos à cidade durante a noite, e deixei bem claro que nenhum dos meus homens estava autorizado a matar quem quer que fosse, a menos que oferecesse resistência. Saímos do bote, e havia um profundo silêncio na praia. Ao longe, no meio da vila, viam-se velas acessas dos bares e tascas. Tenho de admitir que senti a minha consciência pesada, pois estava a pôr em causa os valores que me tinham ensinado. Roubar era um crime, mas eu precisava de o fazer, para sobreviver.Porque era esse o segredo, sobreviver...
- Capitão! - chamou Marcus, um dos meus homens. Olhei para ele - Começamos por onde?
- Aposto que aqueles armazéns estão cheios de armas que necessitamos, e não têm ninguém a vigiá-los. - disse eu sorrindo.
- Sim, meu capitão! - exclamou Marcus.
- Tragam tudo o que puderem! - ordenei eu.
Carreguei a minha arma e prendia ao meu cinto. Reparei que um dos meus homens olhava fixamente para mim. O seu olhar era assustador e pela sua expressão, notei que ele estava desconfiado em relação à minha identidade. Mas eu não podia mostrar medo, e ordenei-lhe que seguisse o resto da tripulação.
Chegámos ao centro da vila cubana. Uma parte dos meus homens acabara de pilhar os armazéns e vinham carregados com armas. Ordenei-lhes que metessem o material no bote, e que depois seguissem para o navio, enquanto eu e o resto dos homens pilhariamos o resto. Ouvia-se grande alarido de dentro de uma das tascas, por isso decidi entrar. Viam-se homens bêbados caídos no chão, oficiais da marinha entretidos com prostitutas. Sentei-me num dos bancos e pedi uma cerveja. Estava morta de sede. O empregado tinha um ar carrancudo e velho. Era nojento. Assim que me trouxe a cerveja, pousou-a em cima da mesa, e eu agarrei na caneca, mas o velho impediu-me e agarrou o meu braço com força.
- Desculpe-me, mas ainda sei reconhecer uma mulher! - exclamou ele silenciosamente.
Com a outra mão dei-lhe um murro e retirei a minha arma, apontando-a ao velho. Nesse momento toda a atenção se centrava exclusivamente em mim.
- Vais pagar por esta! - gritou o velho.
- Considere o murro como o pagamento da cerveja! - exclamei eu irónica.
Saí do bar rapidamente e reparei que a vila inteira já se tinha apercebido da presença de piratas. Peguei numa espada ali deixada e comecei a lutar. Numa questão de segundos, já corpos jaziam mortos no chão. Um oficial da marinha real veio pronto a enfrentar-me, mas estava tão bêbado, que bastou um pontapé, para o deixar caído no chão.
De repente olhei para trás e vi um dos oficiais a apontar-me uma arma, cerca de dez metros de distância. Antes que eu tivesse reacção, alguém agarrou-me e atirou-me ao chão, tendo o oficial falhado o tiro. A pessoa que me atirou ao chão disparou contra o oficial e este caiu morto no chão.
- Sai de cima de mim! - protestei eu.
- Boa maneira de agradecer! - exclamou o rapaz.
- Obrigada, mas agora larga-me! - ordenei-lhe eu, apontando-lhe a minha arma.
- Para mulher és muito corajosa... - disse-me o rapaz.
- O quê? - perguntei eu, reparando seguidamente que a minha camisa estava aberta e que se notara o volume do meu peito.
- Tu és uma deles! - exclamou o rapaz.
- Se queres continuar com vida, é bom que saias de cima de mim! - ameacei-o.
Sorriu-me atrevidamente e percebi logo qual era a intenção dele, e por isso dei-lhe uma joelhada na barriga, e aí ele saiu de cima de mim.
- Capitão fuja! - avisou-me um dos meus homens.
- Ela é que é o vosso capitão? - perguntou o rapaz.
- Ela? - perguntou Marcus.
Olhei para o rapaz furiosa - Nem sei quem és, mas odeio-te! - Eu estava incrédula de que como é que um pirralho como aquele tinha-me revelado, apesar de me ter salvo a vida. - Para o navio homens! - ordenei eu por fim.

Durante toda a viagem, nenhum dos meus homens trocou uma única palavra comigo. Eu não sabia o que lhes dizer. Assim que chegámos ao navio, descarregámos tudo o que tínhamos pilhado. O Sr. Thomas tinha ficado no navio e reparou que eu estava como Jane.
- O que aconteceu Jane? - perguntou-me o Sr. Thomas.
- Fui descoberta. - respondi eu, tentando manter-me calma. - Cavalheiros! - Todos se juntaram no convés, dispostos a ouvir as minhas palavras. - Lamento meus senhores. - comecei eu. - Lamento ter-vos escondido a minha identidade. O meu nome verdadeiro nome é Jane Deverport. - O Sr. Thomas aproximou-se de mim e encorajou-me. - Ainda me aceitam como vossa capitã?
Todos ficaram supreendidos com a minha atitude. Apesar de ser noite, conseguia ver os rostos deles iluminados pelo luar e pelas velas que estavam espalhadas por todo o convés. Olhei para Lyell e este mostrou-se estar do meu lado. Receava a reacção da tripulação, mas manti-me firme.
- Eu! - exclamou com convicção Marcus - Jurei lealdade para consigo capitã, e assim o será.
- Eu! - gritaram mais quatro homens, e mais quatro, e mais dois, até que uma voz os interrompeu.
- Tu não és meu capitão! - gritou um deles. Era o que sempre estivera desconfiado em relação a mim. - Nunca na minha vida irei receber ordens de uma mulher.
- Como te chamas? - perguntei-lhe.
- Marton. - respondeu-me retirando a sua espada, o que me obrigou a retirar a minha espada também. O Sr. Thomas tentou impedir-me, mas eu não deixei, e estava pronta para enfrentar Marton. De repente, alguém saltou do mastro cá para baixo agarrado a uma das cordas e com a sua espada trespassou o coração de Marton. Eu fiquei perplexa e ao mesmo tempo irritada. Aquele era o meu combate. Mas acima de tudo, queria conhecer o rosto de quem tinha feito tal serviço. Olhou para a sua espada cheia de sangue e guardou-a.Sem hesitar, virou a cara.
- Tu! - exclamei eu supreendida. Era o rapaz que me tinha salvo a vida em Cuba, e que me denunciara.
- Parece que mais uma vez salvei-te a vida! - exclamou o rapaz. - Ficas a dever-me duas!
Eu estava profundamente irritada com aquele rapaz - Ao menos posso saber o teu nome?
- Jack Nilton! - respondeu.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Capítulo 5 - Destiny

Por momentos o Sr. Thomas pensou que eu estivesse a delirar. Mas não estava. Eu tinha a perfeita consciência do que iria fazer, porque era aquilo que eu sempre quis ter. Uma vida assim, com perigo e liberdade. Era a minha decisão, e o Sr. Thomas tinha que a respeitar, mesmo que não a aceitasse.
- Jane, pensa bem no que acabas-te de dizer. - pediu-me o Sr. Thomas. -
- Eu já pensei, e já decidi. - respondi eu, por fim.

Nessa noite vesti umas calças pretas velhas, que me deixavam metade das pernas descobertas. Vesti uma camisa branca e um colete castanho. Acima de tudo, tinha que disfarçar os meus trajes femininos e parecer um homem. Não podia correr o risco de ser descoberta. Mascarrei a cara e entracei o meu cabelo. Calcei umas botas velhas e pus um chapéu com três bicos.
Saí do armazém onde estava e vi o Sr. Thomas, que para minha supresa, parecia um autêntico capitão pirata.
- Ok Jane, se tu estás nisto, eu também estou! - exclamou o Sr. Thomas. Pelo tom da sua voz, percebi que este não se sentia à vontade com a vestimenta que tinha no corpo, mas mais tarde acabaria por se habituar.
- Sr. Thomas - chamei eu. - Fica muito bem assim! - brinquei eu sorrindo.

Eu e o Sr. Thomas tínhamos uma grande missão pela frente. Navegaríamos pelos sete mares em busca de uma única coisa que eu queria encontrar, Black Diamond. Queria saber o que era ou quem era, e estava disposta a tudo por isso. Queria acabar a missão do meu pai. Queria vingar o nome dele. Ele tinha sido atráido para o mar para destruir Black Diamond.
Nessa mesma noite, eu e o Sr. Thomas encarregámo-nos de escolher a dedo uma tripulação. E não podia ser uma tripulação qualquer. Tinha de ser uma destemida, leal e corajosa, e não um bando de homens a cair de mortos, que a única satisfação que tinham na vida era a bebida. Era bom ter o Sr. Thomas ao meu lado, um homem com experiência em escolher uma tripulação, apesar desta ser diferente da tripulação da marinha real africana.
Todos os homens presentes naquele bar eram mais velhos do que eu. Muitos homens viúvos, outros por casar, mas bastou dizer a palavra "OURO" para que a fila aumentasse. Estes homens não tinham a noção que não iria ser uma jornada fácil. Mas estavam cegos só de pensar em ouro. Sim, esse metal dourado, que torna os homens tiranos e cruéis. Mas quem era eu para os censurar. Afinal, estava a tornar-me numa criminosa, com uma sede de vingança por algo que nem sequer conhecia, e sem medir os perigos que iriam aparecer. E lá estava eu, sentada numa cadeira, com as pernas em cima da mesa, onde o Sr. Thomas escrevia o nome de alguns dos homens. Muitos destes não sabiam ler nem escrever. Eram antigos escravos que nem um nome tinham. Certifiquei-me de arranjar um nome para todos os que não o possuíssem. O mais importante era que pelo menos soubessem manusear uma espada. O meu pai sempre me ensinara a manusear uma, e por vezes, antes do pôr do sol, fazíamos duelos.
Durante duas noites, preparámos os homens para embarcarmos finalmente no meu navio, que outrora fora do meu pai. Ao final desse tempo, até tive um certo orgulho naqueles homens. Eram boas pessoas, mas não deixavam de ser homens, e por isso, a minha identidade estava cada vez mais em perigo.Ser a única mulher no meio de trinta homens era um medo que me arrepiava a pele. Tinha que ter os mesmos hábitos repugnantes deles, comer como eles, manter-me suja e suada como eles, e comportar-me como eles.
Na nossa última noite em terra, sentei-me no areal da praia a observar o luar. Estava magnífico. Ver as lua cheia reflectida no mar, era uma beleza única. Suspirei de alívio, por estarem todos a dormir, à excepção do Sr. Thomas.
- Não tens sono Jane? - perguntou-me o Sr. Thomas.
- Não... - respondi sorrindo - Já viu Sr. Thomas, ao ponto que eu cheguei.
- Eu conheço-te Jane Deverport. Tu sempre quises-te esta vida, apesar de nunca ser uma vida que os teus pais escolhessem para ti.
- É verdade. - assenti - Mas nunca escondi isso de ninguém.
O Sr. Thomas abraçou-me como um pai. Senti-me mais protegida e feliz e abracei-o com imensa força, e naquele momento, só me apetecia chorar. O Sr. Thomas estava a ser uma pessoa incrível comigo, ao embarcar comigo nesta loucura, mas acima de qualquer coisa, estava a ser um pai para mim.


Acabei por adornecer encostada ao ombro do Sr. Thomas. Acordei com o amanhecer. As ondas do mar estavam calmas, e por sorte, todos ainda dormiam. Levantei-me e corri para um lago, junto da praia. Despi as minhas roupas suadas e sujas e mergulhei naquela água fresca a limpa. Foi um mergulho rápido, mas refrescante. Esfreguei o meu corpo e rapidamente saí dali. Escorri os meus enormes cabelos escuros e sguidamente vesti as calças. Tinha trazido uma blusa castanha da arca e decidi vesti-la. Quando estava a apertar um dos botões da camisa, reparei na presença de um dos homens da minha tripulação. Fiquei atónita quando o vi.
- És uma mulher. - disse o homem ainda a tentar convencer-se do que estava a ver.
- Qual é o teu nome? - perguntei-lhe.
- Lyell. - respondeu ele timidamente.
Apertei o resto dos meus botões e aproximei-me dele. - Lyell, ninguém pode saber que sou mulher.
- Jurei lealdade quando assinei o meu nome, sois minha capitã, e eu não vou trair a sua confiança! - disse-me Lyell ajeitando o seu chapéu.
- És um bom homem Lyell! - elogiei eu. - E agradeço a tua lealdade para comigo.

Minutos mais tarde, a minha tripulação inteira tinha acordado. Estava tudo pronto para embarcarmos. O navio do meu pai era meu agora. Baptizei-o como "Destiny". O navio tinha espaço suficiente para toda a tripulação. Tinha várias celas no porão. Possuía de dois camarotes, um para mim, e outro para o Sr. Thomas, enquanto que o resto da tripulação dormiria no convés do navio. A minha tripulação iria ter direito a todas as refeições que desejassem, porque tínhamos um cozinheiro a bordo.
Entrei dentro do meu camarote. De certa forma, durante os últimoas anos, fora o meu quarto, e era o maior. Ao fundo tinha uma janela enorme,com portadas de madeira aos quadrados, que dava perfeitamente para eu ver as estrelas. O meu camarote, tinha uma rede onde eu dormia, uma cadeira e uma mesa de madeira, um castiçal com velas em cima da mesa, juntamente coom uma pena e um tinteiro. Exigia sempre que o meu camarote fosse limpo, para diminuir o risco de doenças.

Comigo andavam sempre a minha espada e a minha pistola, sempre carregada com pólvora. Notei que me faltava uma bússola, e por isso, tinha que roubar uma.
Saí para o exterior do navio e reparei que todos os tripulantes, exerciam as suas funções.
- Cavalheiros! - gritei eu. - Preciso da vossa atenção! - Todos largaram o que estavam a fazer e reuniram-se no centro do convés para me ouvirem. - Temos uma grande missão pela frente. O nosso navio, neste momento não possui todas as armas de defesa, e por isso, necessitamos de obtê-las. Fazeremos uma paragem no lugar ideal para a nossa pilhagem. Roubaremos tudo o que tenha valor nesse mesmo local. - Pausei para perceber as expressões das caras dos meus homens. - Quem está comigo?
- Eu! - gritaram todos!
- Qual é o destino capitão? - perguntou-me Lyell.
- Para o leme Sr. Lyell. - ordenei eu. - O próximo destino é Cuba.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Capítulo 4 - Escolhas

O meu pai faleceu há uns meses, numa das viagens de regresso a África. Com os meus dezassete anos, quase dezoito, tive que tomar uma data de decisões, sozinha. A única pessoa que continuava ao meu lado era o Sr. Thomas. O eterno amigo do meu pai. Eu já estava à espera da morte do meu pai. Passara os últimos meses bastante fraco, e assim que me apercebi que algo se passava ordenei que voltassemos a terra. Mas a viagem durava meses, e quando chegámos a terra era tarde demais. Alguns dos marinheiros queriam atirar o cadáver do meu pai ao mar.
- Que raio de tripulação é esta? - perguntei eu completamente irritada com o que me diziam. O meu pai acabara de falcer e diziam-me isto assim? - Ele foi vosso capitão durante anos, merece o vosso respeito,e merece ser enterrado em casa!
Voltei-lhes as costas e percebi que os odiava a todos. Como é que eles tinham a coragem de me dizer aquilo? Era o meu pai, a pessoa mais importante da minha vida. Senti que o tinham apunhalado nas costas, e por isso, mal chegámos a terra, exigi que deixassem o navio do meu pai e nunca mais lhe pusessem a vista em cima. O único que me ajudou foi o Sr. Thomas. Ajudou-me a transportar o corpo do meu pai para junto do jardim, onde a minha mãe estava enterrada. Jill e Rosette ainda lá estavam, e notei a imensa alegria quando elas me viram. Foram elas que me criaram, e por isso eu tinha um papel de filhas no seus corações.
Realizámos o funeral nessa tarde. O Sr. Thomas proferiu umas orações e de seguida enterrámos o corpo. Peguei no chapéu do meu pai e na sua espada. Queria que o meu pai partisse para sempre com os seus pertences. Quando o caixão foi enterrado, deixaram-me ali sozinha com os meus pais.
- Vou sentir tanto a vossa falta! - exclamei eu entre lágrimas e soluços. Estava órfã, e ninguém iria conseguir mudar isso, nem apagar a dor que sentia. E naquele momento éramos só nós os três: eu, o meu pai e a minha mãe.

Tinha a certeza de que o meu pai morrera de peste. Notei pelos sintomas. E a mesma doença estava alastrar-se ao longo de toda a costa africana, o que era perigoso para todos ficarmos ali. Decidi que ia abandonar África. Mas voltava para ver a campa dos meus pais.
Possuía uma enorme fortuna que fora deixada pelos meus pais - terrenos e casas. Eu não queria nada daquilo, era demasiado para mim. Naquele momento, queria regressar ao mar.
Numa noite, juntei todos os criados no salão à volta da mesa e tornei oficial a minha decisão.
- Eu, Jane Deverport, filha do capitão Robert Deverport e de Amelia Deverport, declaro que toda a minha herança será toda deixada aos criados! Quero que fiquem com todos os terrenos e casas, à excepção desta. Nunca se sabe, quando se tem que voltar.
Assinei os papéis e entreguei ao Sebastian, o chefe dos nossos criados. Jill e Rosette abraçaram-me a chorar por eu me ir embora.
- Há decisões que têm que ser tomadas. - expliquei eu a chorar juntamente com elas. - Espero voltar-vos a ver um dia.
- Que vai ser de si menina Jane? - perguntou Rosette - Com a vida toda pela frente...
- Não te consigo responder a isso Rosette. - disse eu tristemente.
- Podia ficar aqui Jane, construir uma família e ver os seus filhos crescer. - disse Jill num tom de imploração.
- Eu tenho de partir... - expliquei eu abraçando-me às minhas duas amigas queridas. - Vou ter tantas saudades vossas! Obrigada!
As despedidas não duraram mais tempo. Eu e o Sr. Thomas montámos a cavalo e saímos dali. Galopámos até ao porto. Entregámos os nossos cavalos a uns comerciantes, em troca de comida.
- E agora Jane? - perguntou-me o Sr. Thomas.
- Agora vou sobreviver tal como o meu pai, no mar. - respondi.
- Vais tornar-te marinheira? - perguntou-me o Sr. Thomas.
- Não. - respondi eu - Vou tornar-me pirata!

Capítulo 3 - Partidas

Jill foi-me buscar ao escritório e eu não pronunciei uma única palavra. Quando dei por mim estava dentro de uma banheira a ser esfregada. Depois do banho, Rosette vestiu a minha camisa de noite verde e enfiou-me dentro da minha cama. Nem sequer tive vontade de comer. Não respondia a nada do que me perguntavam, e limitei-me a adormecer.
Acordei a meio da noite, acendi uma vela e saí do meu quarto, com os pés descalços. Tentava não fazer barulho algum, mas os meus pés faziam com que a madeira chiasse. Aproximei-me do quarto dos meus pais e ouvi a minha mãe a tossir. Pensei que fosse alguma coisa temporária, mas era cada vez mais forte. mas eu pretendia chegar ao escritório. Desci as escadas com o máximo cuidado possível e assim que entrei no escritório, fechei logo a porta.
Não sabia bem o que procurava, mas a verdade foi que precisava de algum dado ou documento que me ajudasse a perceber quem era afinal Black Diamond. Pousei a vela na secretária e vasculhei as quatro gavetas, mas não encontrei nada. Procurei em outros móveis e nem uma única pista. Quando dei por mim, o romper do sol notavasse. Já conseguia ouvir o barulho do acordar dos criados. Soprei a vela e saí do escritório com o cuidado de não ser apanhada. Num ápice, subi as escadas e aproximei-me do quarto dos meus pais. A minha mãe tinha parado de tossir. De repente, o Sr. Thomas saiu do quarto e agarrou-me para tirar dali.
- Larga-me! - ordenei eu começando a espernear. Dei um pontapé na perna do Sr. Thomas, e ele com a dor acabou por me largar.
- Jane, não! - gritou o Sr. Thomas.
Uma criada saiu do quarto com uma toalha manchada de sangue. O Sr. Thomas agarrou-me com toda a sua força. O meu pai saiu do quarto e abraço-me a chorar. Nunca tinha visto o meu pai a chorar daquela maneira. Soltei-me e entrei no quarto, e ela estava ali deitada na cama, enxugada com sangue, morta...

Foi o pior amanhecer de sempre. Ver a minha mãe sem vida, foi o momento mais difícil de sempre que já vivi. Vítima de tuberculose disse o médico. Senti-me sozinha, apesar de ter o meu pai e o Sr. Thomas ao meu lado. Desde esse dia nunca mais voltei para a savana. Tornei-me mais crescida, não voltei a brincar como dantes, e assumi outras responsabilidades. O meu pai dedicou-me todo o seu tempo. Queria passá-lo em terra, mas eu não queria mais estar naquela casa. Queria sair dali, queria o mar. E foi isso que aconteceu. O meu pai levou-me com ele para alto-mar e assim ficámos. Eu, o meu pai e o Sr. Thomas ficámos juntos e prometemos nunca nos separar. Navegávamos, assim pelo atlântico, para defender a nação. Durante todos estes anos, nunca apareceu um único navio pirata. "É fácil defender a nação", pensei eu. Todas aquelas histórias de piratas que me contavam era mentira. "Os piratas maus só existem nas histórias" tentava o meu pai convencer-me, mas eu não acreditava. E tinha a certeza que esse tal de Black Diamont era um deles, e eu não ia descansar enquanto não descobrisse a verdade. Tentava persuadir os marinheiros do meu pai a facultarem-me informações, mas nenhum deles cedia. Eu não passava de uma criança, porque é que eles haveriam de partilhar o perigo deles comigo. Apesar de eu amar o perigo, e sentia-o nas minhas veias, o meu pai impunha-me limites quanto a isso.

1659

Parece que foi ontem. Sim, parece mesmo que foi ontem, que deixei a minha terra. meti-me no navio e olhei para trás, vendo as terras africanas a tornarem-se cada vez mais pequenas, até que desapareceram, mas sabia que um dia eu ia voltar. Aquela sensação de areia escaldante, quando não conseguia ver a minha sombra, pois ao meio-dia era o único momento à luz do dia em que não a conseguia ver. Todas aquelas palmeiras enormes percorriam as praias infinitas. E do outro lado estavam as savanas, com todos aqueles animais feroses que eu anciava enfrentar. Mas tudo mudou, num só segundo, e percebi o quanto aquela terra era importante para mim.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Capítulo 2 - Crescer

África 1649


Tinha dez anos feitos. Foram os dez anos mais felizes da minha vida, até hoje. Tinha voltado de um longo dia de brincadeira na savana. Tinha-me aventurado a tentar capturar alguns animais, e apesar de não ter conseguido, vinha feliz para casa. Entrei pela cozinha, com a minha roupa completamente suja e estava cheia de nódoas negras. O meu cabelo liso e comprido estava cheio de nós e todo despenteado. A minha pele estava suja e transpirada.
Não podia correr o risco de que a Jill ou a Rosette me vissem neste estado, por isso saí dali rapidamente. Se fosse apanhada, era enfiada dentro de uma banheira cheia de água a ferver, com sais minerias que faziam bem à pele e ao cabelo! Que nojo! Odiava isso! Era um castigo para tomar banho! Mas o pior era quando me esfregavam toda da cabeça aos pés, o que me provocava uma quantidade de cócegas. E o cabelo? Chorava tanto quando mo penteavam!
A minha mãe não estava por perto, nem Jill e Rosette. Dirigi-me para o escritório do meu pai, disposta a partilhar com ele todas as minhas aventuras daquele dia. Sim, ele estava em casa, e só regressaria ao mar dentro de dois meses. A porta estava encostada e eu retardei o meu movimento. Ouvia vozes lá de dentro e eram as vozes do meu pai e do Sr. Thomas. Pareceu-me uma discussão, o que me entristeceu. Decidi espreitar, o meu pai estava sentrado na sua cadeira, enquanto que o Sr. Thomas passeava pelo escritório.
- Pela segunda vez Robert! - gritou o Sr. Thomas - Mais do que nunca, a Amelia e a Jane precisam de ti! - Ao ouvir o meu nome a ser mencionado, fiquei ainda mais curiosa.
- É por isso que tenho de voltar para o mar, Thomas! - disse o meu exaltadamente. - Black Diamond está a aproximar-se, eu não irei permitir que ele ataque a cidade.
- E como ficarão a tua mulher e a tua filha? perguntou o Sr. Thomas.
- Se eu for para o mar, destruo o navio de Black Diamond, e todos ficarão em segurança! - disse o meu pai tentando acalmar o Sr. Thomas.
Mas o Sr. Thomas não se mostrou convencido com a resposta o meu pai. - A tripulação do Black Diamond é muito forte. Nem a marinha oficial os consegue deter. - Nesse momento percebi que não era só o meu pai que corria perigo, mas sim todos aqueles que ousassem enfrentar Black Diamond.
- Mas podemos morrer a tentar! - gritou o meu pai. Nesse momento desiquilibrei-me e a porta abriu-se, e eu fiquei deitada no chão. Olhei com pânico do que tinha ouvido para o meu pai. - Jane! - exclamou o meu pai.
O Sr. Thomas ajudou-me a levantar. - O que é que aconteceu? Estás toda suja...
Eu não conseguia responder, estava assustada com o que estava a acontecer e não reagi. O meu pai aproximou-se de mim e tocou-me na face.
- Jane, parece-me que estás com febre! - disse-me o meu pai. - Vou chamar a Jill e a Rosette para te meterem dentro da banheira.
Mas eu não tinha febre alguma. O meu pai queria manter-me fora de perigo, longe daquela conversa, que um dia mudou a minh vida para sempre...

Capítulo 1 - África


África 1639

A minha história começou numa bonita tarde repleta de sol. Era uma tarde de verão e todos se queixavam do calor. A minha mãe deu-me à luz. Segundo as criadas, foi um parto bastante complicado e o mesmo poderia ter-nos tirado a vida a ambas. Felizmente, as complicações acabaram, apesar de a minha mãe, Amelia Deverport, ter ficado bastante fraca. O meu pai, Robert Deverport fora quem escolhera o meu nome, Jane Deverport. Todos dizem que o meu nome foi dado em homenagem à esposa de um marinheiro português.
Os primeiros cinco anos da minha vida passaram-se. Todas as tardes, a minha mãe levava-me à beira do mar. Adorava senti-lo na minha pele e era capaz de ficar o dia inteiro a olhar para aquela ondulação maravilhosa que me fascinava. Connosco vinham sempre duas criadas, a Jill e a Rosette. A mniha mãe tinha receio que algo me acontecesse, por isso, decidia vir sempre acompanhada.
O meu pai raramente partilhava estas tardes connosco,uma vez que passava bastante tempo no mar. Era capitão da marinha africana. Todos os marinheiros o tratavam por Sir Robert Deverport, o forte, e tinham-lhe todo o respeito. O meu pai era visto como um herói, que derrotava navios de piratas e corsários vindos das caraíbas. O grande amigo do meu pai chama-se Thomas, mas eu sempre o tratei por Sr. Thomas, apesar de termos uma grande cumplicidade, gostava de chamá-lo assim. Conheceram-se em crianças e juraram a sangue tornarem-se marinheiros. O Sr. Thomas nunca fora casado, nem tinha fama de mulherengo, apenas era uma pessoa reservada e nõ gostava muito de partilhar a sua vida.
Habitávamos numa grande quinta, ou num palácio, como a Jill dizia, apesar de não pertencermos à realeza. A casa tinha doze quartos, mas apenas metade eram utilizados. Tínhamos um salão enorme onde a minha mãe gostava de dar bailes. O meu pai apesar de passar pouco tempo em casa, quando regressava, era homenageado com grandes banquetes, com comida exposta na mesa, de uma ponta à outra. Nunca gostei mito de bailes, apenas era engraçado ver as pessoas a dançar. Eu preferia gritar e correr pelas savanas com um pau na mão dizer que ia conquistar a selva, ou então passar dias inteiros a olhar para o mar e desejar tê-lo para mim.
A minha mãe adorava ler. Aproveitava quando eu dormia a sesta e lia o mais que conseguia. Éramos das poucas famílias que tinha uma biblioteca. Até ao pô-do-sol, a minha mãe aproveitava a luz natural, e depois recolhia-se. Os livros e eu eramos a sua grande companhia. Jantávamos as duas sozinhas, à luz das velas, e ela nunca proferia nenhuma palavra. Hoje percebo o medo que ela tinha de perder o meu pai no mar. Jill e Rosette viam muitas vezes a minha querida mãe no escritório a chorar ao ler as cartas que o meu pai lhe mandava e sempre que era lua cheia ela ficava esperançosa de o voltar a ver.
Recordo-me de uma vez, em que fomos esperá-lo as duas, ao porto. A minha mãe ainda não o tinha visto e já chorava só das saudades que tinha. O meu pai quando regressava, não conseguia esconder a felicidade de estar de volta ao seu lar...

História


olaaa:) antes demais sou a Mariana! Finalmente decidi criar um blog e é aqui que vou escrever algumas das minhas histórias. Escrevi-as há uns meses,outras há uns anos, e sempre as escondi dentro da gaveta, por pensar que ou eram demasiado pessoais, ou então porque não eram suficientemente boas para serem publicadas. Mas porque não? O importante é escrever, e mais nada importa. Finalmente resolvi seguir o concelho de alguém importante para mim, e tirar as histórias das gavetas...


A primeira história que vou publicar chama-se "Diário de uma pirata". Esta história é dedicada a todos que são fãs da triologia Piratas das Caraíbas, a minha grande força de inspiração. Espero que gostem e que acompanhem a história de Jane Deverport.


Obrigada:) estrela da noite*