Deixem a vossa marquinha *.*

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Capítulo 9 - Reencontro


Estranhamente aquele era um dia de nevoeiro. Habituei-me a acordar com o romper da aurora. Porém, hoje abri os olhos mais tarde devido ao clima. O Sr. Thomas sempre interpolou os dias de nevoeiro como dias de azar. Nunca acreditei muito nas suas crenças, porque eram quase como profecias antigas. Mas porquê não acreditar? Nada neste mundo é impossível.
Assim que saí do meu camarote, Robin já saltava de um lado para o outro, com um pau na mão, fingindo ser um bandido que governava os sete mares. Reconhecia o seu espírito. Os seus olhos castanhos brilhavam com toda aquela excitação de uma personagens de uma história.
Reparei que Marcus estava demasiado concentrado na profundeza daquele nevoeiro. O bichinho da curiosidade atacou e aproximei-me dele, querendo saber o porquê de tanta concentração naquela imagem vazia e misteriosa.
- Anceias por ver algo Marcus? - perguntei.
- Capitã, dizem que os dias de nevoeiro trazem azar, mas eu acredito que tragam sorte. - respondeu-me. - Eu uso este brinco na orelha, acredito que me traga sorte. - levantou os cabelos que tapavam a sua orelha esquerda e vi o seu brinco. - Por detrás deste nevoeiro poderá estar uma ilha deserta, um navio naufragado, uma donzela naufragada que quem sabe poderia ser minha noiva.
A sua história fez-me sorrir. - És sempre assim tão sonhador?
- Sonhar não faz mal aos homens. - afirmou. - Por vezes é preciso sonhar para se chegar ao que é mesmo real. - as suas últimas palavras fizeram-me pensar bastante. Era bom ver o brilho nos olhos e o entusiasmo de alguém que sonhava por algo que realmente desejava. Era incrível ver que Marcus, apesar da vida que tinha, tinha tempo de sonhar e de alimentar o seu sonho com pequenas esperanças, mas que para ele eram grandes vitórias.
- Então não deixes de sonhar Marcus! - aconselhei-o.
- A capitã também devia de sonhar mais vezes! - aconselhou-me, também.
O meu sonho era ver o meu filho feliz e com um sorriso na cara todos os dias. Isso era a minha fonte de felicidade. Mas talvez Marcus tivesse razão, talvez eu também devesse encontrar a minha própria felicidade. Uma vaga de vento invadiu-me e transportou o meu olhar para o mastro do navio, onde se encontrava Lyeel com a sua luneta. Interpretei como se fosse uma voz que me chamasse e preparava-me para dirigir até ele. Porém, a sua voz ouviu-se no meio da brisa: - Navio à vista! - gritou com um tom de voz preocupante. O meu coração disparou de anciedade. - Bandeira? - perguntei. Lyeel pegou novamente na sua luneta e verificou: - É um navio da marinha real!
- Homens às suas posições! - ordenei. Por entre correrias e encontrões, encontrei Robin e agarrei-o, levando-o para um canto. - Robin, tu vais fazer exactamente o que eu te vou dizer.
- Mãe, o que se passa? - perguntou-me. Pela maneira como me chamou percebi que estava assustado.
- Robin, não tenhas medo. - confortei-o. - Vais lá para baixo, junto do porão e aí vais esconder-te dentro de um dos caixotes, e só sais de lá quando perceberes que não estás em perigo.
Robin assentiu, mas depressa questionou-me - E tu?
- Não te preocupes comigo! - pedi-lhe, dando-lhe de seguida um beijo leve na sua face.
Nunca em tempo algum tínhamos avistado um navio da marinha real. O melhor que poderíamos fazer era sermos o mais discretos possíveis, e felizmente a nossa bandeira não estava hasteada. Quando me voltei para trás, serviçais da marinha com as suas ilustres fardas invadiram o meu convés, apontando armas contra os membros da minha tripulação.
- Ninguém dispara! - ergui a minha voz. Tanto os meus homens como os outros levantaram armas. - Eu sou a capitã do navio. - informei-os. Notei o ríspido riso que alguns homens teceram devido à minha apresentação.
- Capitã, apenas precisamos de revistar o seu navio, de forma a poderem prosseguir a sua viagem. - informou-me um dos serviçais.
- O que procuram? - perguntei.
- Foi roubado um tesouro que pertence à Inglaterra. - respondeu-me. - Queremos certificar-nos de que não sois possuidora desse mesmo tesouro.
- Não vão encontrar nada. - respondi-lhe.
- Então, não haverá problema de o meu superior e dos restantes homens revistarem o vosso navio. - afirmou.
O meu coração batia fortemente. Controlava os meus nervos, mas a segurança de Robin estava em perigo. Engoli seco e fiz sinais aos meus homens para que tivessem atentos. De repente, no meio do nevoeiro surgiu um vulto. À medida que se aproximava de mim, a sua imagem tornava-se nítida na minha mente. Aquele andar, aquela postura particular. Eu não queria acreditar no que os meus olhos estavam a ver. O vulto misterioso era Jack. Durante segundos o nevoeiro tornou-se mais agressivo, a multidão desapareceu e apenas estávamos eu e ele. Como se ele tivesse regressado da terra dos mortos. O seu rosto tornara-se mais adulto. Aquela sua expressão de rapaz de dezoito anos desvanecera e transformara-o num homem. O seu corpo desenvolvera-se e a sua barba tornara-se mais grossa.O seu sorriso irónico fora substituído por uma expressão mais madura. Por detrás da sua face desconhecida, encontravam-se aqueles olhos castanhos que foram de encontro aos meus...
- Revistem o navio homens! - ordenou. Ao ouvir a sua voz senti um aperto no peito e tornou-se difícil para mim respirar.
- Jane... - disse-me Lyeel segurando-me no braço.
Bastaram três passos para que Jack e eu estivessemos frente a frente.
- Olá morena... - cumprimentou-me não com o seu habitual tom irónico, mas com um tom de surpresa.
Eu não tinha palavras para lhe dizer. Ainda estava estupfacta com o que via há minha frente. Jack tornara-se oficial da marinha e eu estava oficialmente condenada. O Sr. Thomas tinha toda a razão. As suas palavras estavam mais que certas e aquele dia de nevoeiro ainda só estava no princípio...

Sem comentários:

Enviar um comentário