Deixem a vossa marquinha *.*

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Capítulo 12 - Remorços

Se há coisa que eu aprendi nesta vida é que há momentos em que de facto o tempo pára, as pessoas desaparecem e ficamos só nós, presos a um nevoeiro de pensamentos. Aí, pensamos no que poderíamos ter feito diferente, no que poderia ter mudado. Foi isso que aconteceu com Jack. Após lhe ter contado a verdade, os seus olhos fecharam-se e só faltaram as lágrimas. Durante minutos permaneceu em silêncio. Porém, eu sabia que o seu coração estava mais sobressaltado que nunca, o seu cérebro estava dividido entre questões e lógica de pensamento. Até que momentos, conseguiu dizer algo:
- Jane, tu tens a noção do que acabaste de me dizer? - perguntou-me transtornado. Deu voltas e votlas ao camarote, como se de uma solução tentasse arranjar para escapar ao que lhe estava a acontecer.
- Jack...
- Sabes o que faz de mim ter-vos abandonado? - perguntou-me.
A minha resposta de "tu não ias adivinhar", ou "tu não sabias" era inapropriada. Isso não valia de desculpa alguma. Jack escolhera o seu caminho quando partiu naquela madrugada de nevoeiro. Quase como num acto involuntário, peguei na sua mão e obriguei-o a olhar-me nos meus olhos.
- Sou um homem horrível Jane... - disse, por fim.
Não esperava ouvir um pedido de desculpas porque isso não lhe valeria de nada. O passado estava feito, não haveria nada que fizesse o tempo voltar atrás e mudar os nossos destinos.
- Ele sabe? - perguntou-me.
- Não. - respondi-lhe. Não sei se Jack ficou aliviado ou não. O seu olhar estava magoado. O mesmo olhar com que eu fiquei durante meses e meses após a sua partida. - Mas acho que chegou a hora de ele saber a verdade.
- Eu não posso ter um filho! - exclamou Jack.
- Desculpa? - perguntei-lhe.
- Eu não posso assumi-lo agora! - exclamou Jack.
- Estás a gozar comigo? - gritei furiosa. - Se não queres saber de nós, volta para terra e deixa-nos em paz! - exclamei completamente sobressaltada. - Vivemos estes anos todos sem ti, podemos continuar assim!

- Jane, tu não estás a entender. - tentou explicar-se Jack. - Eu quero que o Robin conheça o pai, mas sabes o que é que iria acontecer se descobrissem toda a verdade? Descobriam o meu historial passado e acabávamos todos na forca.
- Afinal sempre podemos ter o mesmo destino! - exclamei irónica.
- Assim, eu não te posso ajudar! - exclamou. - Jane, eu nunca permitirei que nada vos aconteça aos dois. - o seu tom de voz acalmou. Jack pegou no meu queixo e olhou-me nos olhos. - Eu não te posso perder outra vez!
- Tu já me perdeste Jack! - respondi-lhe com toda a minha sinceridade. - Mas ainda não perdeste o Robin! - disse-lhe. - Ele é parecido contigo, tem o mesmo espírito que o teu. Não cometas o mesmo erro novamente.
- De que me vale corrigir um erro se isso me impede de te ter outra vez? - perguntou.
Antes que eu pudesse responder a porta do camarote foi aberta e o capitão Charles entrou.
- Não interrompo nada, pois não? - perguntou. O tom da sua voz irritava-me totalmente. Todas as suas palavras eram ditas de uma forma tão cínica e num tom quase devorador e preverso. - A menina Deverport já tomou alguma decisão?
Após a pergunta de Charles, o olhar de Jack concentrou-se de novo em mim. Olhei pela janela do camarote e avistei o meu navio e os membros da minha tripulação assustados, sem saber que destino lhes reservava. A minha decisão estava tomada. - Voltamos para terra consigo!
- Excelente! - exclamou Charles sorrindo. O seu sorriso era falso e escondia algo. De certeza que havia algo mais nesta história toda. Mas opções não me restavam. - Sendo assim, convido-a a que fique instalada no meu camarote.
- Prefiro ficar no meu navio, com a minha tripulação! - respondi-lhe de uma forma fria e arrogante.
- Nesse caso como queria, menina Deverport! - consegui perceber pela atitude de Charles que este ficara furioso com a minha resposta.
Saí do camarote e fui conduzida até ao meu navio. Robin estava sentado junto ao leme e assim que me viu a entrar correu até mim e abraçou-me.
- Está tudo bem Robin! - disse-lhe.
- Jane, eu sei que não está tudo bem! - respondeu-me Robin com a sua perspicácia. - Para onde vamos nós?
- Vamos para terra Robin... e por mais que eu te queira responder, não sei o que nos espera...

Charles ordenara a que o meu navio fosse comandado por um da sua tripulação. Assim não correriam riscos de fuga. Fugir neste momento era inútil. Dentro de dias estaríamos em terra. Precisava de saber algo mais sobre esse tesouro que afirmavam ser tão importante. Mas o mais importante, garantir a segurança de Robin e do resto da minha tripulação.

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